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Brasil importa modelo japonês de policiamento em comunidades

Folha de S.Paulo

Após o fracasso de diversas tentativas de instalação de polícia comunitária no país, o governo federal decidiu importar do Japão um modelo para aproximar mais a Polícia Militar da população. Agentes de 11 Estados participam de um curso para a implantação do chamado "sistema Koban" no Brasil.

O método oriental está em implantação em São Paulo desde 2004. Policiais paulistas vão dar os cursos para colegas de outros Estados, com supervisão de agentes japoneses.

O convênio da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) com a Agência de Cooperação Internacional do Japão e a PM de SP pretende formar 360 policiais até 2010. Eles serão multiplicadores em seus Estados.

O modelo japonês consiste na mudança da rotina policial. A linha tradicional se pauta pelo atendimento de ocorrências ou prevenção de crimes pela ronda policial.

No "sistema Koban", o agente policial trabalha com a população para prevenir a ação de criminosos.

Neste modelo, o policial deve fazer visitas aos moradores e comerciantes para saber as necessidades da comunidade. Ele trabalha em média três anos na mesma região.

Trabalho social

O sistema incentiva que o policial faça "trabalho social" onde atua: encaminhar idosos a médicos, jovens a projetos sociais e intervir junto a órgãos públicos por melhorias na região. Para os defensores do modelo, o não atendimento destes pedidos -a rigor "não policiais"- podem gerar um problema de segurança pública.

"Nosso policial é treinado para ser um caçador na busca de bandidos. Ele poderia fazer um trabalho de prevenção com a população", afirmou o capitão Cristiano Guedes, coordenador dos cursos na Senasp.

São Paulo tem 54 Kobans (postos urbanos) e 29 chuzaishos (rurais), que são as bases físicas do sistema. Mesmo no início, o modelo já é bem avaliado.

A base considerada modelo pela PM paulista está instalada no Jardim Ângela. Ali, após investimento social, a taxa de homicídios caiu de 60 por 100 mil habitantes em 1999 para dois casos neste ano, diz a polícia.

"O policiamento comunitário é menos a lógica de responder ao 190 e mais a de criar um policiamento que tem a ver com aquela área", disse Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz.

A "lógica do 190" ainda fica clara em números. No Japão, 35% do contingente atua no policiamento comunitário. Em SP, apenas 3% dos PMs atuam nessa atividade e um terço faz parte do programa de radiopatrulha --atendimento de ocorrências enviadas a uma central.

Para o sociólogo Orlando Pinto de Miranda, coordenador de pesquisa nacional sobre o tema, há indefinição no Brasil sobre o que é polícia comunitária. Ele diz que a popularidade do "selo comunitário" espalhou o termo sem que o modelo fosse adotado. "Toda forma de policiamento local foi chamada de polícia comunitária", afirma.

Miranda elogia o sistema adotado em SP, mas afirma que a boa avaliação ainda parte de "resultados tópicos".

Para ele, a principal dificuldade para sistematizar o modelo é a grande resistência dentro das corporações e a formação deficiente dos agentes.
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