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'Alegria não existe mais', diz tio de jovem estuprada e morta em SP

G1

 Parentes e amigos da supervisora de vendas Vanessa Vasconcelos Duarte ficaram parcialmente satisfeitos com a condenação, na noite desta quinta-feira (29), do homem acusado de matar e estuprar a jovem em 2011, quando ela tinha 25 anos. Edson Bezerra de Gouveia, conhecido como Buda, pegou 55 anos de prisão pelos crimes ocorridos em Vargem Grande Paulista, na Região Metropolitana de São Paulo.

Os parentes demonstraram preocupação com a possibilidade de Buda voltar às ruas antes do cumprimento da pena. Eles ressaltaram que a dor pela perda não diminui, mesmo com a condenação em regime por roubo, estupro, homicídio, ocultação de cadáver e fraude processual.

"A princípio, a justiça foi feita. Mas a alegria não existe mais", afirmou Manoel Duarte Leite, tio de Vanessa por parte do pai, um dos poucos familiares que compareceram ao julgamento realizado na Câmara Municipal de Vargem Grande Paulista. Segundo ele, os pais da vítima, bem como o noivo dela, ainda estão muito traumatizados e optaram por não acompanhar o júri. "Eles não têm condições de reviver tudo isso de novo, de ver todas aquelas fotos que exibiram dela", explicou.

A família ainda tenta superar a morte de Vanessa. "Nas datas festivas, como Natal, aniversário, Dia das Mães, não tem nem o que comemorar. A irmã dela, elas eram gêmeas, fez aniversário recentemente e não tem nem como fazer festa", afirmou.

Apesar da dura pena aplicada ao acusado, o tio de Vanessa demonstrou desconfiança em relação a Buda permanecer na cadeia por muito tempo. "É difícil falar, mas a gente sabe que, logo logo, ele vai estar na rua de novo. Pelo que eu sei, ele já foi condenado e já tinha saído", ressaltou.

Em 2010, o condenado deixou o Centro de Progressão Penitenciária de Mongaguá, no litoral de São Paulox, pela porta da frente, sem passar pelo exame que avalia a personalidade do criminoso e os riscos que ele pode oferecer à sociedade.
O ferramenteiro Nílton César de Oliveira, irmão de Luís, que à época do crime era noivo de Vanessa, manifestou, por sua vez, toda a sua revolta ao término do julgamento. "A vontade é a de fazer justiça com as próprias mãos. Teria de ter pena de morte como justiça. Ele pode fugir, pode ser liberado depois de um tempo. Ela não volta mais", declarou, inconformado.
Júri de mulheres
Acusado de matar e estuprar Vanessa Vasconcelos Duarte, Buda foi condenado a 55 anos de prisão por um júri, composto totalmente por mulheres. A advogada de defesa, Lilian de Souza, afirmou que vai recorrer.
O crime aconteceu em fevereiro de 2011. A supervisora foi morta após ter saído de casa em Barueri, também na Grande São Paulo, com o carro do noivo para se encontrar com algumas amigas. Horas depois, os policiais encontraram o veículo abandonado.

Durante a leitura da sentença, a juíza Juliana Nishina Azevedo destacou, ao tratar da dosimetria relativa ao crime de homicídio, a "excessiva crueldade" com que o réu optou por praticar o delito. "Os meios foram os mais penosos para a vítima" afirmou. Vanessa morreu após Buda ter colocado um absorvente íntimo na garganta dela, asfixiando-a, e, em seguida, a estrangular com um cadarço. Pelo homicídio, a juíza aplicou uma pena de 32 anos em regime fechado.

O corpo da vítima foi localizado seminu e com sinais de violência em 13 de fevereiro de 2011, um dia após seu desaparecimento, em um matagal perto da Rodovia Raposos Tavares, em Vargem Grande Paulista. "Ela tinha os punhos cerrados e um semblante, pelo que eu deduzi, de revolta. Acredito que ela deve ter agido em defesa do próprio corpo", disse, à época, o delegado Ricardo Pagrion Filho.

Buda morava perto da casa de Vanessa. Segundo a polícia, o homem estava em liberdade condicional quando cometeu o crime. Ele tem uma longa ficha policial: já passou por 18 unidades do sistema prisional do estado ao longo de 13 anos e foi condenado três vezes por assalto. Na época, porém, estava fora da cadeia porque conseguiu o benefício de liberdade condicional.

O condenado foi preso em Sergipe no fim de agosto de 2011 e, de acordo com a PM do estado, confessou o assassinato de Vanessa ao ser interrogado na delegacia. Até então, ele era um dos foragidos mais procurados pela Polícia Civil de São Paulo.

A sessão foi totalmente composta por mulheres: o julgamento era presidido por uma juíza, a acusação por uma promotora e a defesa era feita por advogadas, além das sete juradas que formaram o conselho de sentença.
Após o júri, a promotora Maria Júlia Kaial Cury afirmou que o condenado “não vai sair tão facilmente assim” da cadeia. “É um crime hediondo. Ele não pode ser colocado no rol dos presidiários comuns. Em casos de concessão de benefício, passará por uma avaliação bem criteriosa do Ministério Público e do Judiciário.”
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