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Notícias / Copa 2014

Garotos Mundialistas: Japão atrasa formação e diminui vida útil de suas promessas

Terra

 Referência da formação desde a década retrasada, o PSTC de Londrina tinha um negócio lucrativo com os japoneses que ainda tentavam entender futebol nos anos 90. Meninos asiáticos passavam um ano todo no Paraná, mas aos poucos eles deixaram de ir ao Brasil. O motivo explicou Mário Iramina, com ascendência nipônica e proprietário do time. “Perder um ano de escola é algo grave no Japão”. A prioridade às questões escolares na adolescência, algo naturalmente louvável do ponto de vista social, explica o fato de jogadores japoneses terem uma vida útil menor no futebol.

Dos 11 jogadores considerados titulares no Japão, nove só vestiram a camisa da seleção local com 22 anos ou mais. As exceções ficam por conta do lateral direito Uchida (estreou aos 20) e do meia Kagawa (aos 19), jogadores bem acima da média nos padrões locais. O fato é reflexo de um sistema de trabalho bastante peculiar dos clubes japoneses: são raríssimos os casos de promessas que não completam a formação até o final da etapa Sub-20 e a consequência disso é que a profissionalização só chega mais tarde. Naturalmente, a primeira convocação também.

Na última Copa São Paulo, o Kashiwa Reysol teve sua rotina e metodologia seguidas de perto. Entre os conceitos de trabalho estavam justamente a rigidez com o estudo dos jogadores, a paciência até excessiva para profissionalizar os melhores e a formação rígida em fundamentos. O desempenho internacional do Japão no âmbito Sub-20 mostra que é necessário rever conceitos: nas últimas cinco edições do Mundial, o país caiu nas oitavas em 2005 e 2007, e sequer avançou em 2009, 11 e 13. É um índice pífio para um país que já se impõe com naturalidade entre os adultos na Ásia.

Distante de seu objetivo de ser um top 10 no Ranking da Fifa nesta década, o futebol japonês (hoje 46º) tem iniciativas aparentemente importantes para tentar evoluir nesse sentido. Com 21 anos de fundação, a J-League (controla as ligas nacionais) tem mais de 30 academias de formação espalhadas pelos clubes nipônicos do Sub-15 ao Sub-20. Na prática, isso significa que a divisão de base de cada equipe tem administração compartilhada com a liga. Esse programa teve início em 2001, mas só conseguiu uma abrangência nacional em 2008.

Se já não bastasse o lançamento tardio dos jogadores na seleção principal, o Japão curiosamente ainda sofre com um efeito contrário. Seus dois maiores ídolos na era profissional, Hidetoshi Nakata e Shunsuke Nakamura, também se retiraram internacionalmente de forma precoce. Nakata parou aos 29 anos, e Nakamura com 32 anos. Hoje, mesmo com seus destaques espalhados por clubes tops da Europa, os japoneses têm a sensação de que se desenvolveram pouco desde a Copa do Mundo realizada em casa. A maneira como forma seus jogadores influi diretamente.

Em 2006, o Cerezo Osaka quebrou um recorde seu ao assinar o contrato profissional com Yoichiro Kakitani (90) com só 16 anos, idade em que praticamente todos os brasileiros de times grandes ou pequenos já assinaram o seu. Nessa altura, ele já era o melhor jogador do Asiático Sub-16 e no ano seguinte marcava duas vezes, com direito a golaço contra a França, no Mundial Sub-17. Kakitani até treinou na Inter de Milão e no Arsenal, mas na seleção só foi estrear em 2013. Centroavante titular na Copa do Mundo, chegou à seleção com gol sobre a China e cavou seu lugar.
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