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Torcida da Argélia desbanca alemães até na derrota e vai embora orgulhosa

Globo Esporte

 Comemoração com bandeira verde e amarela na classificação do Brasil sobre o Chile, interação com índios e torcedores dentro e fora do CT, aparições públicas com camisas de clubes brasileiros, como Grêmio e Bahia por exemplo... Nada disso adiantou para transformar o carisma que a seleção da Alemanha tem demonstrado no Brasil em apoio em Porto Alegre. Não que a torcida gaúcha tenha sido fria como o tempo que faz na cidade nas últimas semanas, mas a maioria dos 43.063 presentes simplesmente decidiu abraçar o lado mais frágil: a Argélia.
Reforçados por brasileiros, os argelinos superaram as adversidades na arquibancada e cantaram mais alto do que os europeus mesmo em dia de eliminação da Copa do Mundo. Com o 2 a 1 sofrido na prorrogação, os seguidores do time africano se despedem do país orgulhosos não só da campanha histórica da equipe - que alcançou pela primeira vez o mata-mata do Mundial -, mas também da festa que mostraram ser capazes de fazer ao seu modo.

O tradicional grito de "one, two, three, viva L' Algerie" foi o que mais se ouviu. O mar de argelinos desta vez não se repetiu, como aconteceu na partida diante da Coreia do Sul no mesmo palco. A concentração de torcedores africanos ficou espalhada, dividida em cinco pontos do Beira-Rio - dois abaixo das tribunas de imprensa, e outros três em cada um dos setores. A distância atrapalhou, já que as músicas cantadas de um local por vezes destoavam uma das outras - o que não criou tanta pressão como poderia sobre os alemães. Mas com a ajuda das vaias brasileiras para cada toque na bola dos rivais, superaram o barulho dos europeus isolados em um só ponto do Beira-Rio. O "Oktoberfest", festa de tradição germânica, fora de época promovido pelas ruas ficou só do lado de fora do estádio.

Dentro dele, quem brilhou foram os africanos, que apresentaram uma forma diferente de torcer: mãos que aplaudem com os braços estendidos em movimentos verticais; mãos para o alto em movimento semelhante aos aplausos da linguagem de sinais; braços dados ombro a ombro e movimentos horizontais com o corpo, numa espécie de onda no mar argelino; turbantes em meio a uniformes... Deu até para manter a tradição religiosa e rezar no intervalo da partida nos corredores atrás da arquibancada. E desta vez sem a mancha dos sinalizadores, usados na Arena da Baixada, em Curitiba, no jogo anterior.
Com sua maneira peculiar de torcer, empurrou os jogadores. Fez o time encarar a Alemanha de igual para igual no primeiro tempo com direito a gritos de "olé" para troca de passes argelina, aplausos ao chapéu duplo de Feghouli no meio de campo e aos milagres de M'Boulhi, eleito pela Fifa o melhor do confronto. Além disso, vaias e ofensas ao árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci a cada marcação contra os africanos: desde coisas pequenas, como inversão de lateral, a momentos de explosão, como no gol corretamente anulado de Slimani. E não foi só os alemães em campo que foram surpreendidos. Os da arquibancada também. Foi preciso mais de 40 minutos de bola rolando para eles acordarem e também participarem da festa.

Tinha de tudo um pouco. Árabes com roupas típicas, chineses torcendo pela Alemanha, palestinos, pela Argélia, e brasileiros alheios em clima debochado. Passou o árabe caracterizado e ouvia-se "Ali Babá". O zagueiro Ghoulam errou um domínio e alguém berrava: "Parece que joga no Criciúma". Brincadeiras à parte, houve um princípio de confusão na arquibancada Sul do estádio e um torcedor precisou ser retirado pelos seguranças. O público aplaudiu como se fosse um gol, mas não era. Tímidos gritos de "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" e "Vamos, vamos, Inter", dos donos da casa, também tiveram seus rápidos momentos.

E em meio à festa, a ola tardou a funcionar. Foram várias tentativas desde o início do jogo, e todas paravam no meio da caminho. Mas quando engrenou... Foram quatro voltas seguidas de torcedores levantando e sentando no anel do Beira-Rio. No fim do jogo ninguém sentava mais. Todos de pé, provavelmente nervosos. Num estádio em que já teve tantos gols nesta Copa, ficaria logo a partida final da cidade sem bolas na rede?
A Alemanha, inferior na arquibancada e superior em campo - a parte física germânica falou mais alto -, marcou dois gols na prorrogação. Fazendo até que os brasileiros vibrassem e esquecessem por um instante que apoiavam a Argélia na verdade. A aguerrida equipe africana ainda descontou no minuto final e, mesmo eliminada, foi aplaudida no fim por seus torcedores, que deixarão o Brasil orgulhosos e mais confiantes para a próxima, em 2018 na Rússia.
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