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“Quando estou em um país livre como o Brasil, me sinto até culpada”, diz iraniana em entrevista ao R7

R7

 Segregação, mutilação de órgãos genitais, tortura, espancamento e punições por crime de honra são parte do cotidiano de milhares de mulheres.

De acordo com um estudo de março deste ano, realizado pela ONU, a maioria dos países do Oriente Médio continua desrespeitando o direito das mulheres. Mesmo com todos os esforços para conscientização sobre igualdade de gênero, a maioria das crianças são ensinadas, desde cedo, que a mulher deve obedecer ao homem.

Para algumas mulheres, expressar sua fé sem sofrer algum tipo de perseguição também é um problema comum. Takoosh Hovsepian, uma iraniana de 64 anos, é um exemplo disso. Casada com o pastor Haik Hovsepian, viu seu marido sair de casa para nunca mais voltar. Assassinado pelas forças do governo do Irã, Hovsepian mantinha uma igreja cristã em um país de maioria muçulmana. Depois de perder o marido, Takoosh passou a enfrentar dificuldades ainda maiores, porque agora, além de cristã e mulher, ela também é viúva.

Em uma curta passagem pelo Brasil acompanhada de seu filho Andre Hovsepian, Takoosh falou ao R7 sobre as condições que já enfrentou no Irã como mulher cristã e as dificuldades que ela e o marido viveram para manter sua igreja.

“Nós somos de Teerã, a capital do Irã. Meus pais enfrentaram perseguição desde que começaram a igreja lá. Por exemplo, no meio dos nossos cultos, nós víamos os vidros das janelas de nossa igreja quebrados por pessoas que não queriam que ficássemos lá”, conta Andre.

Apesar de ser cristã desde criança, Takoosh foi obrigada a se adaptar ao sistema político vigente em seu país. Depois da Revolução Islâmica, em 1979, quando o país foi transformado em uma República Islâmica Teocrática e se fechou para o Ocidente, as mulheres foram obrigadas a seguir os preceitos do Islã. “Todas as mulheres foram obrigadas a usar o véu, camisas de manga comprida, meias cobrindo os pés. Se você quisesse ser uma mulher vista com bons olhos no Irã, tinha que seguir essa regra”, relembra.

— As mulheres só podem sair de casa se acompanhadas de um homem. Nós não temos liberdade no Irã como se tem aqui na América.

A assessora parlamentar de políticas públicas para juventude, professora e teóloga, Stephanie Zuma, explica que a construção da sociedade, em muitos casos, é baseada na religiosidade.

“As dificuldades que a mulher enfrenta no mundo por causa dos costumes religiosos têm muito a ver com a hermenêutica [interpretação] dos textos sagrados, prioritariamente masculinos”.

Mãe e filho comentam que a liberdade religiosa no país está cada vez mais difícil, e que para muitos, deixar o islamismo significa perder tudo o que se tem. Andre conta que em várias situações, membros da igreja cristã foram demitidos de seus empregos e hoje, professam sua fé em igrejas subterrâneas.

Por causa da discriminação, meninas do Irã são proibidas de assistir televisão, o que é absolutamente comum para meninas do Ocidente. Entretanto, com um sorriso no rosto, Takoosh afirma que “quanto maior a perseguição, maior o número de garotas” que se reúnem nas igrejas subterrâneas, mesmo que só para poder assistir a algum programa televisivo. “Quanto maior a perseguição, mais nós mantemos nosso amor por Deus, porque isso nos traz paz e amor para continuarmos a viver no Irã”.

O filho completa: “Sim, quando estamos em uma igreja aqui, olhamos continuamente para os lados com medo de que alguém entre no templo e faça algum estrago ou atire em alguém”.

Para Stephanie, o machismo nessas situações é velado. “Todos aprendem, desde cedo e de forma inconsciente”. Segundo ela, as notícias e estatísticas sobre violência contra mulher, casos de ácido no rosto, apedrejamento e o número alarmante de estupros revelam o quanto essa cultura domina o Oriente Médio.

— Quando estou em um país livre como o Brasil, me sinto até culpada. Penso “nossa, eles não sofrem perseguição! Como assim?”.

Portas Abertas Brasil

Takoosh e Andre estiveram no país para participar de um evento da missão Portas Abertas Brasil e seu ministério para mulheres, o Mulheres do Caminho. Com o objetivo de proporcionar o encontro de mulheres da igreja livre de perseguição com mulheres que sofrem perseguição, o ministério dá espaço para troca de experiências, fragilidades e orações em prol do trabalho desenvolvido. Comemorando cinco anos no Brasil, o grupo já recebeu a visita de mulheres de diversas nacionalidades e também envia grupos de mulheres brasileiras para conhecer a vida em outros países.
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