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'Cobras viraram bichos de estimação', diz moradora afetada por cheia no AM

G1

 A cheia do Rio Negro em 2014 já é considerada a quinta maior da história de Manaus, mas, para algumas famílias, o fenômeno tem piorado a cada ano. Na capital amazonense, famílias que moram em bairros afetados pela subida do nível das águas tentam amenizar os efeitos da cheia enquanto aguardam auxílio da Prefeitura da capital. A presença de animais perigosos, como cobras, e o risco de contrair doenças já não assustam os moradores.

A dona de casa Sandra Pena, de 47 anos, chega a brincar com a situação. "Estamos acostumados, já. As cobras já viraram nossos bichos de estimação!", diz.

Sandra conta que chegou a matar uma cobra. Na geladeira de casa, guarda a gordura do animal. "A gordura da cobra cura inflamação e feridas. É uma receita antiga, do tempo da minha avó. Funciona", afirma.

Em uma casa vizinha, um grupo de crianças também fala sobre episódios envolvendo cobras durante a cheia. Dizem que, à noite, as luzes não podem ser desligadas por causa do medo da chegada dos animais. "Um dia encontramos uma cobra no banheiro. Era uma sucuri muito grande, que pulou e fugiu. Dá medo de brincar aqui. Sempre vemos animais na água", diz um menino de 8 anos.

Outro local afetado pela cheia do Rio Negro é o bairro da Glória, na Zona Sul de Manaus. Lá, os moradores também buscam alternativas para não terem contato com a água e o lixo.

A desempregada Andressa Oliveira, de 33 anos, que aparece no vídeo no início da reportagem, construiu "marombas" (pontes de madeira feitas no período de cheia) dentro da própria casa. "Vejo as pessoas ao meu redor sendo atendidas e até saindo daqui, mas, comigo e com a minha família, nada até agora. Esse ano a prefeitura não nos deu nada. Tivemos que construir sozinhos, senão ficaríamos esperando", diz.

"Sempre vou atrás para pedir que nos tirem daqui, mas nunca tenho resposta. Por causa da cheia, perdi sofá, armário e outras coisas. Por sorte, a casa tem um segundo andar onde posso colocar as coisas", completa.

No beco Bragança, localizado no bairro São Jorge, na Zona Oeste da cidade, alguns comunitários afirmaram já estar acostumados com a situação, que se repete todos os anos. "Está crítico. Esperamos pelo poder público e ninguém dá resposta", afirma um morador da comunidade que não quis se identificar.

"O resultado é a dificuldade de locomoção, esse cheiro ruim e a possibilidade de aparecer doenças como leptospirose. Isso sem falar que é um perigo para as crianças. Elas saem correndo nessas marombas, podem cair na água e até morrer, como já aconteceu algumas vezes", diz.

Todas as famílias visitadas pela equipe de reportagem relataram falta de auxílio do poder público. Procurada pelo G1, a Defesa Civil do município afirma que "todas as famílias afetadas pela cheia em Manaus foram cadastradas e receberam kits oferecidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos [Semasdh], além do aluguel social".
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