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'Meu filho não é black bloc', diz mãe de jovem preso em SP

Terra

 Helena Harano, mãe do estudante e funcionário da USP Fábio Hideki Harano, participou hoje de ato contra a prisão do jovem, ocorrida no último dia 23, em São Paulo

“Não vejo sentido em alguém ser preso simplesmente porque participou de manifestação. Espero que as pessoas que mantêm meu filho preso coloquem, em algum momento, a mão na consciência. Ele não é, nem nunca foi black bloc.” O desabafo é da dona de casa Helena Harano, 54 anos, mãe do estudante e funcionário da Universidade de São Paulo Fábio Hideki Harano, 27 anos, preso na manifestação contra a Copa ocorrida no último dia 23, na avenida Paulista.

Helena participou de um ato em desagravo do filho e de um segundo manifestante preso no mesmo dia, o administrador de empresas Rafael Lusvarghi, 29 anos, promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) na Faculdade de Direito da universidade, no centro de São Paulo.

Natural de Vitória, onde vive com o marido, ela visitou o filho na Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba, nos dois últimos sábados. Vegetariano e de cabelos compridos, o jovem teve a cabeça raspada e abandonou a restrição alimentar que seguia há cinco anos, segundo a mãe, devido à comida servida dentro do presídio.

“Meu filho tem todo o direito de se manifestar, como qualquer cidadão, pelos ideais em que acredita. Mas é um sujeito calmo, alegre, as pessoas gostam dele - eu mesma não imaginava que gostassem tanto”, afirmou, entre um abraço e outro de funcionários, professores e alunos da USP que a abordaram, durante e depois da entrevista. “Ele está na ala dos midiáticos na penitenciária, com outros dois presos que não sei quem são, pois meu foco era apenas meu filho. Só querem que o libertem o mais rápido que for possível - isso perturba o equilíbrio da gente, né?”

Defesa aguarda julgamento terça-feira
O advogado do estudante, Luiz Eduardo Greenhalgh, afirmou que aguarda para a próxima terça-feira o julgamento do pedido de habeas corpus que, liminarmente, já foi negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Se for negado mais uma vez, disse, ele ingressará um agravo regimental.

“O Fábio é uma espécie de bode expiatório, foi preso como resposta da polícia às manifestações do ano passado. É uma prisão política, porque, diferentemente do que afirma a Secretaria de Segurança Pública do Estado, não é, nem nunca foi black bloc - foi preso fora do ato”, declarou o advogado, para quem o viés político se deve também pelo fato de Hideki ter ligação com o Sintusp, entidade que lidera a greve de funcionários na USP desde 27 de maio passado.

Ainda conforme o advogado, o jovem afirma ter sido agredido por policiais logo após ser preso. “Ele é capaz de descrever as pessoas que o agrediram e fará isso”, declarou.

“Foi uma covardia”, diz padre Júlio Lancelotti
Presente na estação de metrô Consolação, onde Hideki foi preso por policiais infiltrados no processo, o padre e ativista de direitos humanos Júlio Lancelotti foi ao ato de hoje na Faculdade de Direito e criticou a prisão dos jovens.

“Foi uma covardia o que fizeram. Não querem e não são capazes de ouvir o clamor público. E como querem enquadrar esses jovens como black blocs que esse é um tipo de estratégia que não admite liderança?”, indagou.

Segundo a SSP, os dois rapazes presos responderão por associação para o crime porque teriam portado material explosivo. Entidades ligadas à defesa dos direitos humanos cobraram que as prisões sejam investigadas.
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