Imprimir

Notícias / Universo Jurídico

Grêmio volta ao STJD para "2º tempo" e com esperança de reverter exclusão

Globo Esporte

Mais uma vez, o Grêmio vira o foco para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). É no Rio de Janeiro, a partir das 10h desta sexta-feira, que o Pleno irá apreciar o recurso do clube diante do resultado do julgamento em primeira instância, que o excluiu da Copa do Brasil após caso de injúrias raciais de torcedores contra o goleiro santista Aranha, em 28 de agosto - o duelo de ida fora vencido pelos paulistas por 2 a 0. Por enquanto, o chaveamento das quartas de final está confirmado com Santos e Botafogo, com início em 1º de outubro. Mas tudo pode mudar, de acordo com advogados, baseados no inquérito policial e na análise mais técnica dos auditores.

Embora seja, de fato, um novo julgamento, o Grêmio encara o recurso a ser apreciado como o "segundo tempo" da sessão que condenou o clube em 3 de setembro. Isso porque será possível colocar novas provas do inquérito, que surgiram nos dias posteriores. Na avaliação do presidente do STJD, Caio Rocha, houve pouco tempo no primeiro julgamento.

 Assim, o corpo jurídico do Grêmio espera provar, nos seus dez minutos de explanação aos nove auditores convocados, que o clube seguiu com sua política de colaboração com as autoridades para identificação e punição dos envolvidos - ao todo, foram encontradas cinco pessoas, duas delas sócias e suspensas do Quadro Social.

O outro trunfo tricolor está no clima mais ameno em relação ao primeiro julgamento, realizado menos de uma semana após os incidentes na Arena. Agora, com os ânimos serenados, há esperança de um julgamento mais técnico. 

- O primeiro julgamento, pela terceira comissão disciplinar, foi marcado pela pressão, quase um linchamento do clube. A pena foi desmedida, draconiana, uma generalização. Esperamos um julgamento mais técnico - defende o diretor-jurídico do Grêmio, Thiago Brunetto. 
Mais um ponto de argumentação está no precedente inédito que a confirmação da exclusão pode gerar. Embora eventos de terceiros não possam constar oficialmente na defesa, Brunetto cita casos recentes, como os cânticos homofóbicos no clássico entre São Paulo e Corinthians, no domingo. 

´- E agora? Os campeonatos vãos ser todos definidos no STJD? O futebol não pode ficar à mercê dessas minorias intolerantes. Nós não nos conformamos com isso. Acabou estigmatizando o Grêmio e sua torcida, justamente um clube que é pioneiro no combate ao racismo - explica.

O Pleno deu um exemplo recente de que pode mudar drasticamente uma punição imposta no primeiro julgamento. Também em setembro, reduziu a pena do volante Petros, do Corinthians, de 180 dias para três partidas, pelo empurrão que deu no árbitro Raphael Claus, durante clássico contra o Santos, no dia 10 de agosto. 

- Em tese, é uma reapreciação do processo inteiro, tudo pode mudar - reforça o auditor do Pleno Decio Neuhaus. Após o julgamento de 3 setembro, o Grêmio entrou com um efeito suspensivo tentando paralisar o chaveamento da Copa do Brasil, mas não foi atendido. A Procuradoria-Geral do STJD deve pedir, além da exclusão, aumento da multa, estipulada inicialmente em R$ 54 mil, e a perda de mandos de campo.

No início da semana, o procurador-geral Paulo Schmitt se manifestou sobre o reencontro entre Grêmio e Santos na Arena, há oito dias, pelo Brasileirão. E afirmou que o clima hostil contra Aranha, que foi bastante vaiado, não seria motivo para uma nova investigação. O episódio ficará fora do julgamento desta sexta-feira. O mesmo deve valer para a polêmica com o auditor Ricardo Graiche, que, após julgar o Grêmio,acabou flagrado em rede social com comentários de cunho racista. Graiche foi submetido à investigação interna e foi afastado do cargo.


Assim como no primeiro julgamento, o advogado Michel Assef Filho, ligado ao Flamengo, defenderá o clube ao lado do departamento jurídico tricolor. O presidente Fábio Koff novamente se fará presente. Além do Grêmio, entraram com recurso o árbitro Wilton Pereira Sampaio e os assistentes Kleber Lucio Gil e Roger Goulart, que haviam sido suspensos.


Relembre o caso

O incidente no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, em 28 de agosto, ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo, quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O goleiro registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia na sexta.

A maior repercussão recaiu sobre uma jovem mostrada pelas imagens do canal ESPN.Patrícia Moreira, 23 anos, foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Em 4 de setembro, prestou depoimento à polícia e, um dia depois, pronunciou-se à imprensa, pedindo desculpas a Aranha e ao Grêmio, sob forte comoção. Ao menos dez pessoas já foram ouvidas pela polícia, que ainda não concluiu o inquérito.
Imprimir