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Especialista: Brasil pode ter epidemia de Febre Chikungunya

Terra

Todo mundo já sabe que o início do verão costuma vir acompanhado, além do calor, de um grande volume de chuvas, um prato cheio para a proliferação do mosquito Aedes aegypti e consequentemente a disseminação do vírus da dengue, certo?

Mas poucos sabem que esse inseto transmite outra doença, a Febre Chikungunya, que chegou recentemente ao Brasil e fez mais de 100 vítimas fatais por onde passou.

Ela tem tudo pra ser a próxima vilã desse verão: ambiente propício, alvos vulneráveis e mosquitos transmissores em quantidade mais que suficiente para gerar uma epidemia. De acordo com o Ministério da Saúde, os dois mosquitos transmissores da doença, o Aedes aegypti está hoje distribuído em 4.318 municípios, e o Aedes albopictus em 2.126.

Diante disso, você deve estar se perguntando: é possível um surto da doença no Brasil? De acordo com o professor de infectologia da Unifesp, Celso Granato, existe, sim, essa possibilidade e ele explica por que. 

“Nossa população é muito vasta e em grande medida, nunca foi contaminada pelo vírus, somos 'virgens'. Além disso, há bastante Aedes aegypti, muitos mosquitos transmissores. Você tem chances de passar a infecção para outras pessoas à medida que o mosquito pica indivíduos com a doença e a transmitem para outros candidatos a serem infectados”, afirma Granato.

O pesquisador Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, chefe da seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas – referência no diagnóstico da doença no Brasil – também alerta: os números de casos da doença devem aumentar no verão.

“Agora os níveis de chuva estão baixos, então os índices da infestação estão menores, mas lá por dezembro começam as chuvas e elas passam a ser muito fortes nos primeiros meses de cada ano, e em 2015 a perspectiva é que aumente o volume de chuvas, e, consequentemente, aumentem os índices de infestação do mosquito, então existe a possibilidade de aumento de infestação da Chikungunya”, afirma.

Casos no Brasil e Américas
Em 26 de setembro, o Ministério da Saúde confirmou 16 casos da doença transmitidos dentro do país – dois deles em Oiapoque, no Amapá, e 14 em Feira de Santana, na Bahia. O vírus também fez outras 37 vítimas nos estados do Ceará, Paraná, Rio de Janeiro, Roraima, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Maranhão e Distrito Federal. Mas essas pessoas contraíram o vírus no exterior e desenvolveram a doença no Brasil.

A doença se manifestou no Brasil pela primeira vez em 2010 por meio de três casos importados: dois homens de 41 e 55 anos que haviam estado na Indonésia e uma mulher de 25 anos que tinha viajado para a Índia.

O vírus circula hoje em todos os continentes (ver infográfico abaixo) e vem causando o surgimento de casos autóctones (não importados) em cada um deles. Só nas Américas, eles já foram detectados em 35 países, entre eles, Estados Unidos, Costa Rica, República Dominicana, Colômbia, Venezuela e Jamaica. Já os casos importados foram localizados no Canadá, México, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Peru, Argentina, Chile e Paraguai, países muito próximos ao Brasil e cujas populações, assim como a brasileira, são totalmente vulneráveis ao vírus.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença vem se espalhando pelo mundo desde 2004, ano em que um surto acometeu a costa do Quênia, propagando o vírus para Comores, Ilhas Reunião e outras ilhas do oceano Índico. Apenas dois anos mais tarde, o vírus chegou à Índia, Sri Lanka, Ilhas Maldivas, Cingapura, Malásia e Indonésia e fez cerca de 1,9 milhão de vítimas, 1,3 milhão apenas em território indiano.

Em 2007, o Chikungunya finalmente atingiu a Europa, causando um surto de pouco mais de 300 casos na região da Toscana. Um ano mais tarde, o vírus chegou à França, na região do Mediterrâneo. Em 2010, voltou a haver relatos de casos na Índia, Indonésia, Mianmar, Tailândia, Ilhas Maldivas, Ilhas Reunião e Taiwan.

No final de 2013, as transmissões autóctones passaram a ser registradas no Caribe.

Embora raras, as mortes por Febre Chikungunya podem ocorrer. De acordo com relatório atualizado pela Organização Pan-americana de Saúde em 26 de setembro, 118 pessoas já morreram por causa da doença.

No entanto, para o pesquisador do Instituto Evandro Chagas, apenas um grupo específico da população pode se tornar vítima fatal do vírus: “As pessoas que não resistem à doença têm idades extremas ou sofrem de alguma deficiência imunológica”.

Embora o vírus tenha se manifestado apenas agora dentro do Brasil, o Chikungunha já vem causando preocupação a especialistas há um ano. “Ela (a doença) caminha paralelamente à dengue e uma hora ia aparecer. Quando começaram a aparecer os casos no Caribe, ficamos em alerta por causa do intercâmbio de pessoas e da quantidade de brasileiros que vão para essa região em lua de mel ou para passar as férias”, explica professor Granato.
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