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Suspeito de corrupção se ofereceu para trabalhar na CPI dos Alvarás, diz vereador Adilson Amadeu (PTB)

R7

“Fui procurado pelo engenheiro de carreira do município [de São Paulo] Sr. Roberto Torres que, conhecendo o escopo da investigação, se colocou à disposição da CPI [dos Alvarás]”.

É assim que o vereador Adilson Amadeu (PTB) tenta justificar como indicou o engenheiro Roberto de Farias Torres, investigado sob suspeita de usar uma sala dentro da Câmara Municipal de São Paulo para tentar extorquir dinheiro de um empresário, para trabalhar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Alvarás.

“O mesmo [Roberto Torres] informou possuir conhecimento sobre a matéria a ser investigada e vontade de participar e contribuir com os trabalhos”, afirmou, em nota oficial, o vereador Adilson Amadeu.

O veredor não se manifestou sobre o fato de que o engenheiro Roberto Torres, antes mesmo de ser acolhido pelo vereador na CPI dos Alvarás, em abril deste ano, já era investigado pela Controladoria-Geral da Prefeitura de São Paulo por enriquecimento ilícito.

Engenheiro da Prefeitura de São Paulo, Torres recebe cerca de R$ 4 mil de salário, mas conseguiu acumular um patrimônio com 19 imóveis, alguns deles de alto padrão, nos últimos anos. Além de Torres, outros 59 funcionários municipais estão na mira da malha-fina por serem donos de patrimônios bem acima do que os seus salários recebidos do município poderiam bancar.

“Sem dúvida, o setor no qual o engenheiro Roberto Torres desenvolvia seus trabalhos na Prefeitura era totalmente compatível com as necessidades técnicas da Comissão, não havendo nada que desabonasse ou impedisse sua indicação naquela oportunidade”, afirmou o vereador Amadeu, que também disse não saber de nenhum possível crime cometido pelo engenheiro.

A tentativa de extorsão

Roberto Torres, o apadrinhado do vereador Adilson Amadeu e Antônio Pedace, assessor parlamentar do vereador Eduardo Tuma (PSDB), foram flagrados em um vídeo no qual aparecem exigindo R$ 15 mil de um empresário para conseguir a regularização de seu imóvel. Nas imagens, os dois servidores públicos induzem o empresário a acreditar que, caso não concordasse com o pagamento da propina, o seu imóvel iria para a lista negra da CPI dos Alvarás.

Um terceiro suspeito de envolvimento no esquema, o engenheiro civil Marcos Peçanha, também aparece no vídeo ao baixar o valor da propina para R$ 13 mil e afirmar que a extorsão do dinheiro serviria para “presentear” o presidente da CPI dos Alvarás, vereador Eduardo Tuma. O engenheiro Peçanha é suspeito de usar um escritório do apadrinhado de Adilson Amadeu, o engenheiro Torres, para concluir as negociações das propinas.

Torres, Pedace e Peçanha indicaram ao empresário o escritório de uma arquiteta para que ela fosse contratada. A partir do pagamento dos R$ 13 mil à arquiteta, o estabelecimento do empresário ficaria livre do rigor da fiscalização.

No dia 23 de abril deste ano, o vereador Adilson Amadeu enviou um requerimento à CPI dos Alvarás pedindo que Roberto de Farias Torres fosse cedido pela Secretaria de Licenciamento, onde estava lotado, para prestar "assessoria técnica permanente" à comissão.

Ao fazer o pedido para levar Torres para trabalhar na CPI, o vereador Adilson Amadeu abriu mão de contar com a expertise de vários técnicos da Prefeitura de São Paulo que lidam com alvarás há anos. Na CPI, Torres recebia comissionamento para atuar ao lado do vereador.

Ainda sobre a tentativa de justificar sua escolha por Roberto Torres, Adilson Amadeu afirmou: “Vale destacar que é praxe nas Comissões Parlamentares de Inquérito a requisição de servidores do Poder Executivo para acompanhar e auxiliar em trabalhos desenvolvidos em CPI, uma vez que inexistem na Edilidade, profissionais com o perfil e disponibilidade para este fim”.

A partir das suspeitas contra Adilson Amadeu, a Câmara Municipal decidiu abrir uma sindicância para investigar os funcionários suspeitos de cobrar propina. Assim que o escândalo foi revelado, a corregedora-geral da Câmara, vereadora Sandra Tadeu (DEM), pediu licença para tratar de assuntos particulares. Ela deverá retornar ao trabalho somente amanhã. Adilson Amadeu e Eduardo Tuma são parceiros da vereadora na Corregedoria.

Procurados pela reportagem desde o dia 31 de outubro, os vereadores Amadeu, Tuma e Sandra Tadeu não foram localizados para se manifestar sobre as suspeitas envolvendo cobrança de propina na CPI dos Alvarás. O mesmo ocorreu com Torres, Peçanha e Pedace.
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