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Mulher diz ter sido estuprada em hospital, engravida e tem autorização para aborto

G1

A Polícia Civil investiga a denúncia de um caso de abuso sexual dentro do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, na Zona Norte de São Paulo. A vítima, uma mulher que tem 39 anos, diz ter sido violentada enquanto estava sob efeito de sedativos. Ela foi internada no centro médico em 1° de outubro, após sofrer um surto de estresse no trabalho.

Além do inquérito policial no 20° Distrito Policial, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou que instaurou um procedimento preliminar de apuração. A vítima relata que engravidou após o estupro e que ainda nesta semana fará um aborto legal.

Questionada pelo G1, a Secretaria de Saúde não negou o agendamento do aborto, mas alega que, por questões éticas e legais, não pode passar qualquer informação sobre seus pacientes à reportagem. "Os documentos relativos ao atendimento são restritas e sigilosas aos pacientes e profissionais que acompanham cada caso. Tal postura segue a resolução do Conselho Federal de Medicina."
 

A paciente do Mandaqui que relata o abuso é vendedora em uma loja de decoração na região de Santana, bairro onde também reside com o marido e um dos filhos. No dia do mal-estar, foi encaminhada para a ala psiquiátrica do hospital, onde, de acordo com laudo médico, deveria ficar por período indeterminado.

O enfermeiro falou que me arrumaria roupas, e que eu não podia ficar sem tomar banho. No que levantei, senti dores genitais, e notei que tinha fissuras grandes. Eu sei a maneira como eu sai de lá. Eu estava extremamente machucada mesmo. É impossível ter acontecido qualquer outra coisa."
vendedora,
em relato sobre estupro no Mandaqui

A jovem afirma que tomou duas injeções entre 14h e 19h. Mais tarde, recebeu uma terceira medicação que a deixou sonolenta. E só retomou a consciência na manhã seguinte. “Por volta de umas 21h fui medicada novamente. Não sei o que eu tomei, minha mãe estava lá, e eu fui desfalecendo. Eu apaguei. Ela me deixou em um leito completamente desacordada, e foi embora. Eu estava na ala de pronto-socorro, não podia ficar com acompanhante”, relata.

A vendedora se lembra de ter acordado às 6h, em um leito diferente, e vestindo outras roupas. Ela conta que, em seguida, foi orientada por um funcionário do hospital a tomar banho. “O enfermeiro falou que me arrumaria roupas, e que eu não podia ficar sem tomar banho. No que levantei, senti dores genitais, e notei que tinha fissuras grandes. Eu sei a maneira como eu sai de lá. Eu estava extremamente machucada mesmo. É impossível ter acontecido qualquer outra coisa.”

À tarde, ao receber a visita do marido, relatou o que sentia e o que acreditava ter ocorrido. “Ele me tirou do hospital sem alta, me levou direto para a delegacia, e de lá fui fazer exames no Hospital Perola Byignton”, conta. O hospital é referência no atendimento à mulher vítima de violência, e um dos centros médicos credenciados pelo Ministério da Saúde para realizar serviço de abortamento legal.

Vítima receberá apoio psicológico no Hospital Pérola Byington (Foto: Flávio Moraes/G1)Vítima receberá apoio psicológico no Hospital
Pérola Byington (Foto: Flávio Moraes/G1)

O caso será apurado no 20° Distrito Policial, na Água Fria, responsável pela região do Mandaqui. A vítima e o marido prestaram depoimento na tarde desta terça-feira (4).

A delegada que acompanha a investigação aguarda o resultado do laudo do Instituto Médico Legal (IML), que poderá atestar ou negar o estupro. Nos próximos dias, porém, a polícia deverá intimar os enfermeiros que trabalharam no período em que a paciente esteve internada.

Gravidez
A paciente revela que após perceber o atraso em seu ciclo menstrual, procurou novamente o hospital Pérola Byingotn, onde já tinha realizado exames e tomado a medicação indicada para o caso.

“Meu ciclo estava atrasado, fizeram um Beta-HCG (exame de sangue que comprova a gravidez), um ultrassom para saber o tempo certinho, e ele bate com a data da violência. Então já me encaminharam para a assistente social, depois para uma psicóloga”, disse.

Documento do Hospital Pérola Byington relata gravidez por estupro  (Foto: Lívia Machado/G1)Documento do Hospital Pérola Byington relata
gravidez por estupro (Foto: Lívia Machado/G1)

Pela lei brasileira, o aborto é permitido em gestações decorrentes de abuso sexual, em caso de anencefalia do feto ou risco de vida da mãe. Questionada sobre o assunto, a Secretaria Estadual de Saúde alega que a direção do Conjunto Hospitalar do Mandaqui instaurou um procedimento preliminar para apurar as denúncias relatadas pela paciente, “mas esclarece que em nenhum momento foi comunicada ou recebeu qualquer queixa sobre o suposto caso."

Tratamento
A vendedora explica que sofre há alguns anos de depressão, e diz que em outubro, quando foi internada, vinha enfrentando problemas tanto na vida profissional quanto pessoal. Agora em tratamento com um médico particular, ela tenta se reestabelecer.

Para ser sincera, na questão da violência, como eu estava dopada, não tenho trauma. Mas estou indignada pelo fato de não poder contar com um hospital. Vou para me tratar e sou extremamente violentada."
 

“Eu estava acumulando funções, com dois empregos, meu marido não estava em São Paulo, foi uma série de coisas. Creio que o surto tenha sido em decorrência desse estresse todo. Estou fazendo acompanhamento com psiquiatra particular que é o que tem me ajudado bastante. E com a minha consciência plena. É o tipo da coisa que te abala, é um absurdo. A gente não pode confiar mais nem em um médico", defende.

A vendedora revela que decidiu procurar a polícia e quis fazer a denúncia por imaginar que seu caso não seja isolado. “Para ser sincera, na questão da violência, como eu estava dopada, não tenho trauma. Mas estou indignada pelo fato de não poder contar com um hospital. Vou para me tratar e sou extremamente violentada. Achei um absurdo o que aconteceu, e não quero que isso aconteça com outras pessoas. Não fui a primeira e não devo ser a única.”

 

 
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