O Globo
A hora especial, que começou no último dia 19 e vai valer por 126 dias —cinco a mais do que a média dos últimos 15 anos—, faz despertar o aspecto motivacional, provocado pela permanência por mais tempo da luz do dia, sustenta o preparador físico Fernando Beja.
— No verão, as pessoas querem atividade física, e, com um período de claridade maior, sem dúvida há mais exercício — afirma.
Um estudo recente da Universidade do Colorado (EUA), em Denver, contudo, lança uma sombra sobre os possíveis benefícios do aumento da atividade física no período. De acordo com os pesquisadores, a segunda-feira logo após a mudança no relógio, quando se perde uma hora de sono, registra até 25% mais ataques cardíacos do que as outras do ano.
— As pessoas que trabalham com energia se esquecem de que o corpo não é uma máquina. Existem limites para a regulagem. Somos programados para ficar acordados e dormir em determinadas horas — afirma Nonato Rodrigues, especialista em medicina do sono pela Associação Médica Brasileira (AMB), que não participou do estudo americano.
De acordo com o neurologista, quando você está acordado enquanto devia estar dormindo, o corpo se ressente. Ele explica que a privação de sono envolve a ativação de uma parte do sistema nervoso que não controlamos, representando um estresse para o cérebro:
— Essa alteração é respondida de duas maneiras: preparando o animal para correr ou lutar. Seja para um ou para o outro, o neurotransmissor principal é a adrenalina, responsável por diversos efeitos cardiovasculares, entre esses a diminuição do tamanho das artérias coronárias e o aumento do número de batimentos cardíacos, da força de contração cardíaca, e por aí vai.
Com uma adaptação cuidadosa ao horário novo, a antropóloga gaúcha Luciana Almeida, de 35 anos, dez morando no Rio de Janeiro, é só elogios ao período estendido de sol:
— Normalmente venho (ao Aterro do Flamengo) às 16h30m, já que à noite não é tão seguro. Mas, no horário de verão, venho mais tarde, sem problemas. É muito melhor manter a forma ao ar livre.
Para o preparador físico Beja, o bem-estar psicológico do exercício em meio à natureza e com mais luz solar, é a grande vantagem. E, na avaliação do neurologista Nonato Rodrigues, uma forma de minorar riscos cardíacos é tentar uma adaptação mais suave ao horário, a fim de acostumar o relógio biológico. Ele recomenda tentar adaptar ligeiramente, dia a dia, o horário de despertar, a fim de o corpo não sentir a alteração brusca.