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Bateria de faculdade de medicina da USP pede desculpa por música racista

R7

Após denúncias de racismo e machismo, a bateria da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), a Batesão, publicou uma carta de retratação em sua página no Facebook. No documento, o grupo pede desculpas e diz sentir vergonha por ser associado com algo que “não somos, não temos, não reforçamos e não propagamos”.

A letra de uma música da bateria da FMUSP deixou internautas indignados ao colocar a figura feminina na condição de objeto sexual. A música fala de loira e morena, mas fica ainda mais agressiva ao se referir à mulher negra, que é tratada como “preta imunda” e “fedorenta”. A letra na íntegra não é passível de publicação por causa de seu alto teor sexual.

As canções da bateria foram denunciadas por racismo, xenofobia, sexismo e outras formas de violência. O caso, que aconteceu em uma das faculdades de medicina mais importantes do País, será apresentado nesta terça-feira (11) na Comissão de Direitos Humanos da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), onde será realizada uma audiência pública para tratar de casos de violações supostamente praticados na FMUSP. Saiba mais.

Carta de retratação

Na carta publicada nas redes sociais, os responsáveis pela bateria “Batesão” se desculpam pelo caso e afirmam que não são os criadores das letras. De acordo com os estudantes, o material é “revendido dentro do kit do calouro para arrecadar verba para a Bateria, no início do ano” e as letras foram criadas por antigos membros, em outras décadas.

Eles ainda mencionam que décadas atrás esses atos eram frequentes ao citar que o material foi produzido quando “racismo e preconceitos eram comportamentos corriqueiros, embora sempre inaceitáveis”. E reconhecem que erraram ao não rever o conteúdo das canções distribuídas. O grupo se coloca a disposição para conversar com todos que queiram outros esclarecimentos.

Leia a carta na íntegra a seguir.

— Em nome da Bateria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, a Batesão, iniciamos essa carta com um sincero pedido de desculpas, que vem do coração. Assumimos nossa vergonha ao ver nosso nome associado com algo que não somos, não temos, não reforçamos e não propagamos, por ser a nossa história enquanto grupo e Bateria contrária a qualquer forma de discriminação e preconceito.

O cancioneiro, pequeno livro com músicas que foram criadas há muito tempo, por pessoas que passaram por nossa faculdade desde sua criação, é hoje revendido dentro do kit do calouro para arrecadar verba para a Bateria, no início do ano. Entretanto, nós, que gerimos o grupo atual, tivemos o descuido de não observar as letras (tidas como “históricas”, e que foram criadas por antigos membros de décadas atrás, quando racismo e preconceitos eram comportamentos corriqueiros, embora sempre inaceitáveis) de algumas das canções que estão repletas de conteúdos abjetos, machistas e racistas. Afirmamos que nenhuma dessas letras foi escrita por nós, nem sequer são lembradas ou cantadas pela nossa Faculdade.

Quanto a isso, assumimos nosso grande erro de não ter revisto o conteúdo do cancioneiro ao longo dos anos e assumimos o compromisso de editá-lo para que músicas como essa não mais estejam presentes em suas páginas. Reiteramos ainda que em nosso cotidiano lutamos afirmativamente contra o racismo e o machismo.
Inseridos dentro de um contexto universitário, onde palavras de ódio discriminativo são faladas e cantadas a plenos pulmões, a Batesão participa de espaços que lutam ativamente contra a discriminação. Podemos usar como primeiro exemplo a presença de nosso mestre de Bateria, senhor Acácio, que há anos nos ensina - sendo negro e também nosso pai - e que por certo também se envergonharia das letras que estão no cancioneiro.

Como outros exemplos, a nossa participação no Carnaval de Ribeirão Preto, junto à escola de samba Embaixadores dos Campos Elíseos, onde somos recebidos de coração aberto por toda a comunidade; a nossa participação deste ano no Show Medicina 2014, onde participamos, como bateria, de um grande e belíssimo ato que cantava a história do povo negro, sua luta e resistência frente às adversidades de uma sociedade racista; e por fim, nossa paixão e admiração pelo samba e por toda a cultura negra, que sempre fazemos questão de reiterar nas nossas inspirações musicais.

Dito isto, ressaltamos nosso sincero pedido de desculpas à todxs aquelxs que, corretamente, se sentiram ofendidos pelo conteúdo dessa letra que foi divulgada. Nós também nos sentimos. E estamos envergonhados por não termos (pois nos cabia) impedido que tais letras continuassem dentro do cancioneiro. Aceitamos a ajuda de quaisquer pessoas que nos queiram auxiliar, para que, dessa vez, racismos, machismos e homofobia não passem. Porque RACISTAS, MACHISTAS E HOMOFÓBICOS NÃO PASSARÃO.

Estamos plenamente abertos a conversar com todxs que queiram esclarecer outras razões, bem como seremos ativos para pedirmos desculpas ao Coletivo Negro da USP, à Frente contra Opressões do Campus de Ribeirão Preto (do qual temos membros participantes) e a todos os grupos e pessoas que lutam contra aquilo que também lutamos: a discriminação e o preconceito. Convidamos a todxs, por fim, que participem de nossos ensaios, onde serão recebidos na mais alta estima, e onde também reforçaremos nosso pedido sincero de desculpas.
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