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Donos da casa: ''bad-boys'' havaianos ameaçam surfistas visitantes há ano

Globo Esporte

Muitos brasileiros já enfrentaram dificuldades e sentiram na pele o preço por surfarem as cobiçadas ondas da ilha de Oahu, como Pipeline, Off The Wall e Sunset Beach. Os surfistas locais, muitos deles praticantes de jiu-jítsu, mandam e desmandam no North Shore e lutam (literalmente) para preservar e natureza e a harmonia do ambiente em que vivem. "Bad boy" na juventude, o surfista Sunny Garcia, campeão mundial em 2000, foi uma referência nessa postura, tratada como o ''localismo''. Mas, hoje, vive uma fase zen. 

Vestindo calções pretos, os "Black Trunks" eram um grupo que aterrorizava os estrangeiros nas décadas de 70 e 80, com ameaças, brigas e até espancamentos. O localismo ainda existe, mas não como antes. Depois de se envolver em brigas e ir para a prisão, o veterano havaiano conta que não se incomoda mais de ver um visitante no seu terreno, mas diz que é preciso ter respeito com as praias e só entrar no mar se souber surfar, caso contrário, não sairá de lá vivo. A praia de Banzai Pipeline será palco da última etapa do Circuito Mundial (WCT), o Pipe Masters, de 9 a 20 de dezembro, que definirá o campeão de 2014. Gabriel Medina, Mick Fanning e Kelly Slater brigam pelo caneco.


- Eu não me incomodo com as pessoas que não sabem surfar em Pipeline, porque se você não sabe surfar não vai sair do mar. Isso não me chateia, mas fico preocupado com o fato de se machucarem. O Sunny jovem teria se importado, mas o Sunny velho, não. Dizem que você precisa ser jovem e estúpido para se tornar uma pessoa melhor. Eu era jovem e estúpido - disse Sunny, tranquilo e sorridente, na companhia da mulher e da filha caçula.

Em 2007, Sunny se envolveu em uma confusão com Neco Padaratz e deu um soco no brasileiro durante a Tríplice Coroa Havaiana. Naquela ocasião, Neco estava com a prioridade e sofreu uma interferência do rival. A discussão continuou na areia e só parou com a chegada da polícia. Este foi apenas um dos casos. Peterson Rosa, Almir e Picuruta Salazar também tiveram contratempos na temporada havaiana na década de 80. Paulo Moura levou um tapa do filho de Fast Eddie, um dos fundadores dos "Black Trunks", depois de disputar uma onda com Makua. Dustin Barca, que trocou o surfe pelo MMA, brigou com Adriano de Souza no Taiti e a confusão continuou no Havaí. Mineirinho precisou competir em Pipeline escoltado por um segurança. Os australianos foram os primeiros a provocar a ira dos locais. 




- Gosto de ver pessoas vindo para o Havaí para curtir um bom momento de forma segura, porém, mostrando respeito. Ninguém gosta de turistas e estrangeiros que vem aqui e não demonstram respeito. Ninguém gosta de desrespeito em qualquer lugar do mundo. Hoje, eu só quero me divertir, aproveitar a vida, sair com os amigos e surfar ondas grandes... Ter um bom momento. O espírito "aloha" para mim é ser feliz - acrescentou Sunny.

Desde o primeiro ano em que começou a surfar no Havaí, em 1986, Carlos Burle, campeão mundial na remada e no tow-in (quando o atleta entra na onda rebocado por um jet-ski), percebeu o forte localismo da "Meca" do esporte. Vinte e oito anos depois, o big rider, que já foi expulso da água, conta que os tempos são outros. Apesar das brigas, ressalta que o territorialismo no North Shore tem um lado positivo, de preservação da natureza. 


- O localismo é uma coisa que faz parte do surfe. Quando cheguei aqui a primeira vez era uma época em que houve brigas com havaianos e brasileiros e nós não podíamos falar em português. Intimidavam a gente, mas hoje está melhor. E tem o lado positivo de eles preservarem o lugar, não mudou nada, as coisas continuam sendo as mesmas. Eu aprendi a lidar com o localismo, nunca me envolvi em nenhuma briga. Como eu sempre gostei de ondas grandes, não tem tanto localismo. Fui me adaptando a essa realidade para não ter de me submeter a isso. Meu foco é outro. Pego muita onda, mas não fico disputando ali em Pipeline, Backdoor e Off The Wall. Já paguei meu pedágio e estou em outra (risos) - disse o big rider pernambucano.


LOCALISMO AMEAÇA O PIPE MASTERS


Em todas as etapas do WCT, dois convidados locais se juntam ao grupo de 34 surfistas da elite. O único lugar diferente era o Havaí, onde havia 16 atletas antigamente e oito até o ano passado. Este ano, no entanto, a ASP (Associação de Surfistas Profissionais) decidiu manter o mesmo padrão para o Pipe Masters e provocou a ira de Eddie Rothman. Ele é um dos maiores representantes do localismo havaiano.


Conhecido como Fast Eddie, ele mostrou toda a sua insatisfação com a mudança das regras em um vídeo sem censura, em que faz ameaças e diz que não haverá campeonato. O clima no North Shore é de tensão, e o líder dos "Black Trunks" avisou que os locais não vão ceder e irão atrapalhar até mesmo os treinos dos tops do circuito.
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