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Ligado no Timão, Dentinho exalta aprendizado na Europa: "Intenso"

Globo Esporte

Atacante do Shakhtar acompanha o Corinthians à distância, se diz satisfeito com crescimento na Ucrânia e relembra momentos de tensão no país

O ano de 2014 reservou surpresas complicadas para os brasileiros que atuam no futebol do Ucrânia.

 A cidade de Donetsk, palco de conflitos políticos, assustou os atletas. A questão foi além do nível esportivo: o Shakhtar, principal clube local, transferiu suas atividades para Kiev, capital do país, e passou a jogar em Lviv. Acostumado a uma rotina muito mais tranquila em São Paulo, onde nasceu e foi revelado pelo Corinthians, o atacante Dentinhodefine em uma palavra tudo o que viveu de janeiro a dezembro deste ano: aprendizado.

Além de Dentinho, Alex Teixeira e Douglas Costa, os outros brasileiros que atuam no Shakhtar, chegaram a “sumir” por alguns dias durante a tensão política na Ucrânia, com medo dos desdobramentos. No dia 17 de julho, o voo MH17 da Malasya Airlines, com 298 pessoas a bordo, caiu na cidade quando viajava de Amsterdã para Kuala Lumpur. Com a região da Crimeia, no leste do país, sob disputa, a desconfiança de que separatistas pró-Rússia haviam sido os responsáveis pelo ato piorou o clima no local. O estádio do Shakhtar, a Donbass Arena, chegou a ser bombardeado em agosto.

- Você vê muita gente falando que fugimos, porque ficamos com medo. Tenho filhos e família, assim como todos os jogadores. Os diretores nos passaram tranquilidade, mas decidimos voltar para o Brasil e conversar com os nossos empresários. Voltamos alguns dias depois. O sentimento naquele momento era de medo, mas foram excepcionais conosco – afirmou o atacante, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.

Contratado pelo Shakhtar Donetsk em maio de 2011, Dentinho ficou marcado na história do Corinthians ao marcar o gol de número 10 mil da história do clube. Por ter saído da base para o profissional em um momento conturbado, quando o Timão foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, e permanecido na sequência, conquistando a Série B de 2008, o Paulistão e a Copa do Brasil de 2009, ele é lembrado com carinho pela torcida.

- Sou corintiano mesmo, é meu time do coração. Assisto aos jogos, tenho um carinho desde pequeno. Sofro junto. Nas épocas em que a diferença do fuso é de quatro horas fica mais fácil para assistir aos jogos. Quando é de seis fica mais complicado, mas faço o possível. Tenho ótimas lembranças de lá.

Estabelecido na Ucrânia e acostumado às diversas peculiaridades do país, Dentinho se diz satisfeito com a vida na Europa. Emprestado ao Besiktas, da Turquia, por uma temporada, diz ter aprendido sobre futebol como nunca – especialmente vivendo de perto a Liga dos Campeões. Voltar ao Brasil? Ele mesmo conta o que pensa sobre o futuro a seguir.

Veja a entrevista de Dentinho na íntegra:

Como está a vida na Ucrânia após tanta tensão? 

O dia a dia está bem mais tranquilo. Passamos um pouco de medo, é verdade, mas o presidente do Shakhtar nos passou toda tranquilidade. Em Kiev está mais sossegado. Nosso time mudou toda a sede, perdemos uma grande estrutura em Donetsk, mas o momento é positivo.

E individualmente, como você avalia o presente? 

Estou treinando bastante, tendo oportunidade em alguns jogos, isso me deixa muito feliz. Agora é aproveitar as chances que eu tiver na equipe. Estou muito feliz, aprendendo demais com todos.

Posso dizer que desde que eu cheguei o aprendizado tem sido o principal ponto.

Conte um pouco mais sobre esse aprendizado.

No Brasil eu sempre fui apaixonado por futebol, mas aqui a marcação é muito mais difícil. O pessoal marca bem mais. É tudo muito intenso, mais forte. Aí você aprende muito. No Brasil, às vezes temos aquele lance mais descontraído, mais bem humorado. Por aqui, todos são muito sérios o tempo todo. É preciso se acostumar aos poucos.

Mas você pensou em voltar para o Brasil com a tensão política? 

Você vê muita gente falando que fugimos, porque ficamos com medo. Tenho filhos e família, assim como todos os jogadores. Os diretores nos passaram tranquilidade, mas decidimos voltar para o Brasil e conversar com os nossos empresários. Voltamos alguns dias depois. O sentimento naquele momento era de medo, mas foram excepcionais conosco.

E qual sua relação atual com o país?

A relação é maravilhosa. Sempre que tenho ferias eu vou para o Brasil. Às vezes meu nome é lembrado pelos clubes, porque o mercado lá está cada vez mais forte, mas vai chegar o momento certo de voltar para lá. Por enquanto tenho de seguir firme na Ucrânia. Tenho muito para aprender e crescer.

Quais foram as principais dificuldades que você sentiu para se adaptar na Ucrânia?

A comida é uma coisa que sinto bastante saudade, mas em Kiev tem restaurante italiano, mexicano, tem até churrascaria. Como muito macarrão. Tem bastante brasileiro na Ucrânia, então facilita.
Todos vão aprendendo e convivendo juntos. A gente acaba sentindo falta de algumas coisas, mas aqui é ótimo.

E do que você sente mais falta?

Estou acostumado a tudo, mas é claro que tenho saudade de uma série de coisas. Lembro da torcida do Corinthians gritando meu nome, e é muito legal essa relação que a gente criou. É um respeito muito grande. Só tenho a agradecer.

Você acompanha o Corinthians à distância?

Sou corintiano mesmo, é meu time do coração. Assisto aos jogos, tenho um carinho desde pequeno. Sofro junto. Nas épocas em que a diferença do fuso é de quatro horas, fica mais fácil para assistir aos jogos. Quando é de seis fica mais complicado, mas faço o possível. Tenho ótimas lembranças de lá.

E nas férias, você planeja visitar o Corinthians?

Quero conhecer o novo estádio. Passei ótimos momentos em Itaquera, onde era o CT da base, então tenho grandes lembranças. Veja o Malcom: saiu da base e foi muito bem esse ano. Isso é bem legal.

E qual foi a principal experiência no futebol europeu?

A Liga dos Campeões é totalmente diferente de tudo no mundo. É outro campeonato. Quando o Ronaldo comentava comigo que nada era igual a isso, ele estava certo. Só tem jogadores de alto nível.

Você tem alguma meta pessoal na Europa?

É claro que a gente sempre pensa em jogar na Inglaterra, na Espanha, mas tenho 25 anos e coloco tudo nas mãos de Deus. Tem muita água para rolar ainda, muita coisa para acontecer na Europa. Tenho três filhos e sempre levo em conta o melhor para a minha família.


 

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