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Sem-terra invadem fazenda de Dantas sequestrada pela Justiça, diz empresa

Agência Folha, em Belém

Um grupo de sem-terra invadiu nesta quarta-feira uma das 25 fazendas da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara --ligada ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas-- que a Justiça Federal mandou sequestrar na última sexta-feira. A informação foi divulgada pela própria empresa.

A propriedade fica na cidade de Xinguara (PA). Contando a ação de hoje, dez das 45 fazendas do grupo no Pará estão invadidas, algumas em mais de uma área e por diferentes movimentos de sem-terra, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura).

A invasão de hoje foi feita pela Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), de acordo com a assessoria da Santa Bárbara.

Segundo nota da empresa, "quase uma centena" de integrantes do movimento, "portando armamento pesado", entraram na fazenda Ceita Corê, que faz parte do conjunto de fazendas Espírito Santo.

A empresa afirmou que os sem-terra queimaram pontes de acesso à propriedade, sequestraram um segurança e expulsaram outros funcionários, "colocando em risco a vida de pessoas inocentes".

A reportagem ligou para a Deca (Delegacia de Conflitos Agrários) de Redenção (PA), cidade próxima, mas ninguém atendeu. Na delegacia de Xinguara, não havia informações sobre o suposto ocorrido.

No início da noite de hoje, a Folha não conseguiu localizar ninguém da Fetraf para confirmar a invasão.

A Secretaria da Segurança Pública do Pará também não a confirmou, mas disse que estuda aumentar a presença policial na área. Com a decisão judicial da sexta-feira passada, há o receio que outras invasões ocorram nos próximos dias.

A Santa Bárbara vem sendo alvo dos sem-terra desde meados do ano passado, após a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, que a ligou a uma suposta lavagem de dinheiro --o que a empresa nega.

A empresa ocupa uma área de 500 mil hectares no sudeste do Pará, uma das regiões com maior índice de grilagem de terra e conflitos agrários do país, e na qual se instalou em 2005. Hoje, tem um rebanho de aproximadamente 450 mil cabeças de gado.

Na esteira das investigações da PF, os sem-terra argumentam que as compras foram feitas com dinheiro obtido ilegalmente, ou que as propriedades já são públicas. Essa tensão teve seu ápice em abril passado, quando nove pessoas ficaram feridas em um tiroteio entre seguranças e sem-terra em uma das fazendas invadidas.

Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), o estabelecimento da Santa Bárbara é um marco negativo na história do sudeste paraense, por aumentar a concentração fundiária e causar um recrudescimento da violência na região.

Para a própria empresa e outros grandes pecuaristas, ela trouxe empregos, aumento de tecnologia no campo e desenvolvimento sustentável.
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