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Chuva e reforço no policiamento afugentam foliões na Vila Madalena

G1

Ruas vazias e limpas às 3h. Policiais militares de prontidão em esquinas e em possíveis pontos de concentração de pessoas. Silêncio e tranquilidade. A Vila Madalena, na Zona Oeste de São Paulo, teve uma madrugada nesta segunda-feira (16) de carnaval bem distinta da anterior, quando a reportagem do G1 presenciou traficantes agindo livremente nas ruas do bairro depois da passagem dos blocos de rua.
A chuva que caiu na noite de noite de domingo (15) e um reforço no policiamento afugentaram os foliões, que costumam estender a folia até quase o amanhecer recorrendo à potência de caixas de som e amplificadores instalados nos porta-malas de carros.

Os ‘pancadões’ improvisados tiraram o sono e o humor dos moradores neste feriado, assim como já havia ocorrido no final de semana anterior, quando a reportagem do G1 já havia presenciado o consumo de drogas, a prática de sexo na rua e a grande quantidade de latas e garrafas descartadas nas vias. Além disso, os foliões transformaram qualquer cantinho em ‘mijódromos’.
Na madrugada desta segunda-feira, no entanto, tudo foi diferente. Às 3h, um posto de combustível na Rua Inácio Pereira da Rocha, que costuma ser ponto de parada de vários ‘pancadões’, desta vez se encontrava fechado e com dezenas de policiais militares isolando o local.

O vigia de um prédio na mesma rua, que pediu para não ser identificado, disse que muitos jovens começaram a se dirigir ao posto assim que a chuva parou, no final da noite de domingo. “Assim que eles começaram a chegar, começou a aparecer um monte de policial também e eles foram embora”, relatou o vigia. Por meio de nota, o comando da Polícia Militar já havia informado que reforçaria o policiamento no bairro.

No horário, os garis que fazem a limpeza das vias do bairro logo depois da saída dos foliões praticamente já tinham terminado o serviço. Ao G1, eles relataram que recolheram muito menos lixo nesta madrugada do que das vezes anteriores. Anteriormente, já chegaram a recolher mais de 50 toneladas de lixo em um único dia.

Madrugada de domingo
A reportagem do G1 percorreu na madrugada anterior as ruas Inácio Pereira da Rocha, Mourato Coelho, Belmiro Braga e Fidalga, onde os foliões se concentraram, e flagrou a forma como funcionou o comércio de drogas durante a folia.

Pequenos grupos de rapazes, em trenzinho, circularam em meio à multidão dizendo: "maconha, pó e lança (perfume)". Os mais descarados ainda completavam com a informação "biqueira do Marcola", em menção ao traficante Marco Camacho, o Marcola.

Outros circulavam entre os foliões anunciando: "Olha o doce, olha o doce!". Doce é o nome dado por usuários e traficantes ao LSD.

O consumo de maconha era o mais comum, além do da bebida alcoólica, evidenciado seja pela fumaça ou por pessoas enrolando cigarros da droga sem timidez.

Lança-perfume na lata

Outra droga oferecida e consumida pelas ruas da Vila Madalena foi o lança-perfume. O anúncio era feito pela maneira já mencionada acima e também desta forma, rimada: "mão que balança quer lança". Já o consumo era feito em pequenas latas de cerveja, para disfarçar em caso de abordagem policial. A única recomendação dos traficantes era "deixa o buraco da latinha fechado para não evaporar".

Os preços das drogas variam. Uns ofereceram o cigarro de maconha por R$ 10. A cocaína oscilou de R$ 20 a R$ 30, sem que a quantidade fosse especificada pelo traficante. O doce saía por R$ 20. O lança-perfume era vendido a R$ 50, mas podia chegar a R$ 30, dependendo da negociação. A droga já vinha na latinha de cerveja e até era provada pelo vendedor para atestar a qualidade do produto.

Histórico de reclamações

O designer inglês Tom Green, de 49 anos, disse que não consegue sair de casa durante o carnaval por causa da violência dos foliões que ficam parados na frente de sua casa e de sua loja, na Rua Inácio Pereira da Rocha. Ele fez vários vídeos que mostram pancadões durante a madrugada de carnaval sob a janela de onde mora. "São pivetes que jogam coisas. Uma das janelas, de alumínio, ficou amassada e precisamos deixar fechada."

Em um dos vídeos registrados por ele, foliões atiram garrafas, pedaços de pau e outros objetos contra a janela de sua casa. Outros ainda o intimam a descer. "Todos dia é isso, brigas, barulho. Não tem polícia que nos dê segurança. Nenhuma polícia vem parar os pancadões."

Green já entregou em mãos um abaixo-assinado para o prefeito Fernando Haddad pedindo providências durante festas e eventos culturais realizados no bairro. 

Tom também é diretor do Conselho de Segurança de Pinheiros (Conseg), membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Cades) e coordenador do movimento SOSsego Vila Madalena. 

A Polícia Militar não informou se houve prisões em flagrante de tráfico de drogas ou se houve apreensão de entorpecentes. O balanço oficial sobre a operação policial realizada durante a madrugada deste domingo será divulgada ainda nesta manhã.
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