Imprimir

Notícias / Brasil

Goiano é preso suspeito de tentar ingressar no Estado Islâmico

G1/fantástico

Um rapaz tido como tranquilo, bem educado e sem histórico nenhum de violência. Nada na vida de Kaique Guimarães indicava que ele poderia se converter ao terrorismo. Mas Kaique está preso na Espanha, suspeito de envolvimento com o grupo radical Estado Islâmico. Segundo a acusação, ele estava sendo preparado para cometer atentados na Europa. 

Por que um jovem brasileiro de 18 anos trocaria uma vida confortável em uma cidade europeia para lutar ao lado dos terroristas do grupo Estado Islâmico?

Segundo as autoridades espanholas, foi exatamente essa a opção do brasileiro Kaique Luan Ribeiro Guimarães. Ele morava com a família perto de Barcelona, na Espanha. No dia 15 de dezembro de 2014, foi preso, junto com dois amigos marroquinos, na Bulgária.

Eles tentavam seguir uma rota muito parecida com a que o Fantástico mostrou em um documentário em janeiro. Na reportagem, uma jornalista francesa disfarçada viajava até a Síria atravessando a Turquia, para se infiltrar no Estado Islâmico. É o caminho mais curto entre a Europa e a região dominada pelos terroristas. Entre a civilização ocidental e a barbárie.

Extraditado de volta para a Espanha, Kaique chegou a dizer que tinha ido comprar roupas na Bulgária. Mas as autoridades espanholas não acreditam na versão dele.

Para a polícia, não há dúvidas. No dia da prisão, agentes entraram em um apartamento usado por Kaique e seus amigos marroquinos para planejar a viagem até a Síria.

Kaique Luan Ribeiro foi capturado em dezembro. Primeiro, ele ficou detido na Bulgária. Depois, foi extraditado para a Espanha e, agora, está em um presídio nos arredores de Madri. Ainda é uma prisão provisória, já que não houve julgamento. Mas a acusação é pesada: associação criminosa com organização terrorista, o que pelas duras leis antiterror da Espanha pode dar até 12 anos de prisão se ele for considerado culpado.

O intendente da Força Especial de Barcelona Xavier Porcuna diz que Kaique estava sendo vigiado há sete meses e que foi preso quando decidiu se unir ao grupo Estado Islâmico.

O promotor chefe espanhol Javier Zaragoza tem um longo histórico de condenações de terroristas. “Kaique é muito perigoso. Membro de uma célula do Estado Islâmico que doutrinava jovens na região de Barcelona. Segundo o promotor, Kaique já estava pronto para preparar ações terroristas”, ele diz.

O brasileiro é um dos 60 prisioneiros na Espanha acusados de participar do grupo radical mais violento da atualidade.

Esta semana, Brian de Mulder, filho da brasileira Rosana Rodrigues, que mora na Bélgica, foi condenado à revelia a cinco anos de prisão por ter se unido ao Estado Islâmico, na Síria, e planejar ataques contra alvos na Europa.

Kaique e família moravam em uma casa, na cidade goiana de Formosa. Em 2006, foram para a Espanha tentar uma vida melhor. Seguiram o caminho de muitos outros, como Messias de Souza. Ele conhece a família de Kaique há muitos anos. Quando se mudaram para a Espanha, foi na casa de Messias que os Guimarães se instalaram. Moraram juntos até 2012.

“Um menino calado, muito na dele, dentro de casa”, lembra Messias.

Até três anos atrás, nada parecia indicar que Kaique se transformaria em um radical islâmico. “Ninguém acredita que ele esteja envolvido”, diz Messias.

Mas parece ter sido o que aconteceu com o menino calado na Espanha.

A família de Kaique Luan vive na região da Catalunha, na periferia de Barcelona, uma espécie de subúrbio, na cidade de Terrassa. No local, vive uma grande comunidade muçulmana. Tem também uma pequena colônia de brasileiros.

É uma cidade de 200 mil habitantes com uma população de 17 mil mulçumanos. E muitos brasileiros que saíram principalmente do estado de Goiás, como a família de Kaique. Foi lá que Kaique se converteu ao Islã.

“Quando ele começou na mesquita, nós já perdemos o contato com ele”, diz Joelton Batista, amigo da família.

O jovem brasileiro frequentava uma mesquita, onde o clima ainda está tenso por causa das prisões. Outros jovens têm medo de falar que conhecem Kaique.

O presidente da Sociedade Muçulmana de Terrassa faz questão de dizer que não se pode confundir religião com terrorismo e que o verdadeiro islamismo é contra qualquer tipo de violência.

A família de Kaique não quis receber a equipe do Fantástico, mas uma das irmãs falou por telefone:

Fantástico: A acusação contra ele é muito grave.
Irmã de Kaique: Eu sei que é grave.
Fantástico: A acusação é que participa desse movimento terrorista.
Irmã de Kaique: Eu sei que é grave, mas ele não tem nada a ver. Entende? Desde que ele nasceu, ele é uma criança super boa, super tranquila. Nunca teve problema com a Justiça nem nada. Ele ia na mesquita para rezar, nada mais.

Conversamos também com a mãe de Kaique.

Armaurinda Ribeiro: Nem eu mesmo entendo ainda o que está acontecendo. Eu não sei porque dizem que está em segredo de Justiça. Não explicaram nada.

Fantástico: A acusação é que ele iria se ligar a esse grupo terrorista.
Armaurinda Ribeiro: Isso não é verdade. Isso não é verdade. Ele já disse que não, e eu acredito que não.

Kaique está sendo representado por um defensor público espanhol. O governo brasileiro acompanha o caso, mas não interfere.

“Dadas as circunstâncias, ele me pareceu um jovem tranquilo. Apegado à família, aparentemente, tinha uma vida normal, estudava, terminou o seu curso secundário, tinha planos de estudar mais”, diz João Almino, cônsul do Brasil em Madri.

Um jovem que por algum motivo teria deixado de lado a rotina tranquila ao lado da família para, aparentemente, virar um jihadista, um radical islâmico. Como é que isso pode acontecer?

O promotor admite que a falta de integração na sociedade espanhola é uma das causas.

É o que também pensa uma das maiores pesquisadoras do terrorismo internacional na Espanha. A professora Carola Garcia diz que os filhos de imigrantes, como o brasileiro Kaique, são os principais alvos dos recrutadores do Estado Islâmico. Segundo ela, esses jovens radicalizados podem voltar para a Europa, depois de receberem treinamento, para cometerem atentados.

Todas as semanas, dezenas de jovens europeus abandonam seus países para engrossar as colunas do Estado Islâmico e virar soldados de uma guerra dita santa, que distorce os princípios da religião islâmica e se torna retrato do barbarismo e da ignorância.
Imprimir