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Notícias / Ciência & Saúde

Pedalar errado e travar o joelho: riscos de lesão em esportes de aventura

Eu Atleta

No esporte, o joelho é uma articulação cujas funções são a de absorver a energia cinética gerada pelo contato dos membros inferiores ao solo e transmitir o movimento aos demais seguimentos do corpo. Isto se deve a dois mecanismos básicos: a chamada contração muscular excêntrica, onde a fibra muscular contrai e alonga-se resistindo ao movimento, e aos graus de flexão. Em uma corrida, por exemplo, a força de reação ao solo, que chega a ser duas vezes o peso do indivíduo, é absorvida pela flexão do Joelho entre 50 e 60 graus e pela resistência do quadríceps, ou músculo anterior da coxa. O restante é dissipado pelo quadril e coluna vertebral.
Quando o joelho sai dos seus limites fisiológicos e deixa de executar suas funções, deve-se levar em conta dois fatores: os extrínsecos e os intrínsecos. Os primeiros incluem o treino inadequado e o aumento da freqüência, ou intensidade. Os outros são inerentes ao indívíduo: a pisada muito pronada ou supinada, joelhos em “x” ou arqueados, angulação e rotação anormais entre os ossos do quadril, diferença de comprimento dos membros e, principalmente enfraquecimento e encurtamento de grupos musculares, gerando desequilíbrio entre músculos agonistas e antagonistas. Juntos, esses fatores contribuem para que haja perda da capacidade de absorção e dissipação de energia, gerando as chamadas lesões por sobrecarga, dentre elas as tendinites, bursites, sinovites e o amolecimento e fissura da cartilagem patelar, a condromálacea.

Nos esportes de aventura, diferente de outras modalidades, o que conta é a extrema irregularidade do terreno, com aclives e declives acentuados, exigindo ângulos extremos de flexão do joelho nas subidas e grande capacidade de absorção de energia, frenando e desacelerando o corpo nas descidas. Para a prática esportiva, o joelho, assim como outros seguimentos do aparelho locomotor, deve estar preparado. Na escalada e na espeleologia, trabalhando em ângulos de flexão do joelho acima de 90 graus, existe aumento do vetor de reação articular, ou seja, a pressão da rótula exercida sobre o fêmur é maior. Além disso, o joelho é submetido a um risco adicional: o joelho “travado” em flexão aumenta a chance de lesão de ligamentos e meniscos após entorse.

No trekking, a reação articular cíclica sob os mais diversos ângulos e força muscular são os fatores que levam a lesão não só de uma, mas de várias estruturas do joelho. São comuns tendinites associadas a lesões musculares por excesso de uso ou por distenções. Nas corridas de aventura, acrescenta-se o tempo prolongado de exposição da articulação aos fatores lesivos à necessidade de ganho de velocidade.

Estatisticamente, é a modalidade com maior incidência de lesões e afastamento parcial ou definitivo de praticantes. O uso da mountain bike mal adaptada ao biótipo do indivíduo pode gerar dores no joelho. Quadro inadequado, selim muito alto ou muito baixo e técnica errada de pedalar são, de longe, os fatores responsáveis por dores no joelho. Um corredor de aventura que pedalou inadequadamente continuará lesionando quando estiver andando, correndo ou executando as técnicas verticais.

Independente da modalidade esportiva praticada, havendo lesão, além da dor, ocorre o derrame articular, popularmente conhecido como “água no joelho". Fato é que, havendo derrame, há inibição do reflexo do músculo quadríceps da coxa, com conseqüente atrofia muscular. Se o praticante não se reabilita de maneira adequada e corrige os fatores intrínsecos e extrínsecos que proporcionaram a lesão, a mesma pode progredir, agravar-se, incapacitá-lo de exercer atividades leves da vida diária ou, até mesmo, em graus extremos, levar à falência estrutural com a possibilidade de fraturas por estresse, rupturas musculares ou tendíneas.

Algumas orientações aos praticantes dos esportes de aventura:

a) Iniciantes: realizar avaliação física pré-esportiva com um profissional da área médica de sua confiança para que fatores intrínsecos seja detectados e corrigidos, como, por exemplo, a pisada pronada, ou supinada, encurtamentos e desquilíbrios musculares. A próxima etapa será praticar o esporte orientado por um instrutor da área, para que seja evitada a técnica inadequada.

b) Praticantes: dor é sinal de lesão. É seu organismo lhe dizendo que algo não vai bem. Portanto, se o joelho dói, ou está inchado é hora de parar, procurar um médico ortopedista, reabilitar-se e, posteriormente, retornar ao esporte.

c) Atletas: acompanhamento periódico da equipe por um médico do esporte é indispensável. Apesar de muitas vezes, o exame físico estar dentro da normalidade, pode haver algum grau de desequilíbrio muscular, muitas vezes somente detectado através do dinamômetro da avaliação isocinética e que, cedo ou tarde, poderá levar a lesões e comprometer sua performance.
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