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Paciente com Alzheimer não precisa saber do diagnóstico, dizem especialistas

R7

O administrador Daniel*, 31 anos, e os dois irmãos estão aprendendo a lidar com o diagnóstico de Alzheimer do pai. Há três anos, a mãe de Daniel começou a perceber que os esquecimentos do marido, hoje com 60 anos, estavam se tornando frequentes. Como ele era um executivo e sempre contou com a ajuda da secretária, a família inicialmente associou o quadro com o desligamento do trabalho.

— No começo, meu pai foi diagnosticado com depressão. Quando descobriram o Alzheimer, há três anos, fui o primeiro a saber e não pude contar para ele por orientação médica.  

Embora possa soar estranho, a psicóloga Fernanda Gouveia, da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer), explica que no Brasil é comum a maior parte dos pacientes não saber o diagnóstico, “já que com o tempo ele [o doente] não consegue assimilar a informação, além de favorecer o quadro de depressão”.

Apesar de o estágio do Alzheimer ainda ser considerado leve, o pai de Daniel depende da ajuda da mulher e já não é mais capaz de tomar decisões importantes nem de administrar o próprio dinheiro, conta o filho que assumiu essas funções.

— Minha mãe largou o emprego para cuidar dele. Por enquanto, ele come e toma banho sozinho, checa os e-mails e faz uma ou outra atividade sem ajuda. Ele ainda dirige pequenos trajetos, mas já queremos que ele pare com isso.

Para Daniel, o principal desafio enfrentado até agora foi revelar à família inteira que o pai está doente.

— Foi difícil, mas o apoio da família é fundamental nesse momento. Além disso, sempre enfatizo que não podemos esquecer de dar atenção e preservar o cuidador, que neste caso é minha mãe. Muitas vezes, quem cuida morre antes do paciente. Ela carrega uma carga muito pesada e não pode ficar sozinha.

Como forma de respeito, os filhos costumam respeitar a decisão da mãe, que só começou a contar para os amigos mais próximos que o marido está com Alzheimer recentemente. Sobre o medo de também ser vítima da doença no futuro, Daniel é enfático.

— Não vou ter nenhum benefício de saber isso agora, então prefiro não saber. Sei que a chance é enorme, mas não há luz no fim do túnel.

Segundo o neurologista Rodrigo Schultz, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o exame genético para saber se uma pessoa vai ter Alzheimer no futuro é opcional.

— Não costumamos aconselhar a realização do teste. Tendo ou não casos de Alzheimer na família, a recomendação médica é levar uma vida saudável para retardar o início da doença.

Schultz cita como hábitos para driblar o Alzheimer o controle do colesterol e do diabetes, o abandono do cigarro, a prática regular de atividade física, a adoção de uma vida social ativa e a introdução de atividades cognitivas no dia a dia, como jogar baralho e xadrez, ir ao cinema, ler e fazer palavra cruzada.  

— O importante é diversificar as atividades mentais e também manter uma alimentação balanceada.
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