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'Teremos muitas delações pela frente', diz delegado da PF sobre a Lava Jato

G1

O delegado da Polícia Federal (PF) responsável pelas investigações da Operação Lava Jato em Curitiba, Igor Romário de Paula, disse em entrevista ao G1, na manhã desta quarta-feira (18), acreditar que a operação, que já chegou à décima fase, "está longe de chegar ao fim". Apesar de não ser uma decisão somente da polícia, Igor opiniou sobre as delações premiadas.

"Acho, sim, que ainda teremos muitas delações pela frente porque muitos investigados estão muito envolvidos nos crimes. Então, a delação é sempre uma alternativa porque há investigados com perspectiva de pena de até 50 anos", declarou Igor.

"Claro que a maioria das coisas que estão sendo faladas nas delações seriam obtidas naturalmente com a investigação, mas demorariam mais. Então, é uma negociação, mesmo, junto com o Ministério Público e com a polícia. Adiantou muito, mas não se trata de algo que não seria identificado", explica. Atualmente, foram fechados 12 acordos de delação premiada. Entre eles está Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Patrobras.

A Lava Jato começou em março de 2014 para investigar um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ainda conforme Igor, atualmente, já é considerada a maior operação sobre corrupção realizada no Brasil e, também, a maior da história da PF em Curitiba.

"Esse trabalho é oriundo de um inquérito instaurado em Londrina para apurar movimentações financeiras de lavagem de dinheiro entre o deputado José Janene (PP) e os doleiro Alberto Youssef. Como em Londrina não tinha nenhum tipo de estrutura para fazer uma investigação dessa natureza, a missão acabou vindo para a capital", explicou.

"Nós trabalhamos em cima da investigação entre julho de 2013 e dezembro do mesmo ano. Foi muito rápido. Na verdade, a operação era pra ter saído em 2013, mas com recesso de fim de ano, acabou ficando pra 2014", contou.

"Nós já sabíamos que a investigação ia expandir muito para o setor público, mas a relação entre o Youssef deu mais rapidez à investigação. Entrou dentro da Petrobras e ganhou uma repercussão enorme. Daí pra frente foi uma fase em cima da outra focando os operadores financeiros, quem corrompia, quem foi corrompido e a apuração do prejuízo das estatais e do poder público", detalhou o delegado.

Também durante o período, Igor garantiu, enquanto delegado, que não sofreu nenhum tipo de pressão por parte de autoridades de outros setores públicos. "Os setores que estão sendo atingidos mostram isso. Apesar de sermos do Executivo, a grande maioria dos investigados hoje é do governo atual".

A repercussão dentro da Polícia Federal tem sido positiva, garante o delegado.

"É um tipo de investigação que não costumava avançar com essa velocidade. Isso decorre de uma série de coisas, dentre elas, o fato de encontrar aqui em Curitiba um ambiente propício tanto no Ministério Público quanto na Justiça".

Um ano
A Operação Lava Jato completa nesta terça um ano desde que a Polícia Federal (PF) fez as primeiras prisões em um posto de gasolina no Distrito Federal. Os primeiros 81 mandados de busca e apreensão de então resultariam na maior operação contra corrupção já deflagrada no país, que investiga um esquema de desvio de recursos da Petrobras, movimentando R$ 10 bilhões (veja números da operação na animação acima).

Desde então, foram cumpridos mais de 350 mandados de prisões preventivas, temporárias, busca e apreensão e condução coercitiva (quando o investigado é levado a depor).

Ao todo, 22 pessoas estão presas – a maioria está na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

As prisões mais recentes ocorreram na segunda-feira (16), quando a PF cumpriu 18 mandados judiciais. Entre os detidos está Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. Ele e o tesoureiro do PT João Vaccari Neto foram denunciados por corrupção e lavagem de dinheiro.

A atuação da polícia culminou na abertura de 19 ações penais que tramitam contra 82 réus na Justiça Federal do Paraná, além de cinco ações civis públicas contra as empreiteiras acusadas de cobrar propina da estatal. 

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, já ouviu quase uma centena de testemunhas de acusação e defesa nos processos, que têm como um dos principais fundamentos um instituto polêmico entre operadores do direito: a delação premiada. Foram fechados 12 acordos de delação.

Obras de arte apreendidas
O delegado Igor explicou que "colecionar" obras de arte é um mecanismo comum do crime de lavagem de dinheiro. Tanto que, desde o início da operação, foram apreendidos diversos quadros de artistas renomados. "O preço das obras é muito subjetivo. Então, é uma forma mínima de reservar patrimônio de uma eventual condenação".

A maior quantidade, 131, foram retiradas da casa de Renato Duque, no Rio de Janeiro, nesta última fase. Outras 11 obras de arte também foram apreendidas na casa de Adir Assad, investigado na CPI do bicheiro Carlos Cachoeira. Todas as obras serão trazidas para Curitiba na manhã desta quarta, e serão levadas para o Museu Oscar Niemeyer, na tarde desta quinta-feira (19).

Outras 63 obras, que estavam em posse dos investigados e que foram apreendidas pela polícia, estão no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba. Algumas, inclusive, integraram uma exposição.

As obras são de artistas renomados como Amílcar de Castro, Salvador Dalí, Pedro Motta, Vik Muniz, Miguel Rio Branco e Sérgio Sister, Romero Britto, Di Cavalcanti, Gerardenghi, Gomide, Heitor dos Prazeres, Iberê Camargo, Mario Gruber, entre outros.
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