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Viúva de cinegrafista morto no Rio diz estar revoltada com decisão judicial

G1

A viúva de Santiago Andrade, Arlita Andrade, morto durante o protesto do 6 de fevereiro de 2014, no Rio, disse que está indignada com a decisão da Justiça de soltar Caio de Souza e Fábio Raposo, ambos de 23 anos, acusados de acender e atirar o rojão que matou o cinegrafista. A previsão é que a dupla deixe a penitenciária nesta quinta-feira (19). As informações são do Bom Dia Rio.

“Eu realmente estou muito magoada, eu espero que o mundo todo também se revolte, porque eu estou revoltada. Que Justiça é essa?”, questionou Arlita.

Os réus não responderão mais por homicídio qualificado, segundo a decisão anunciada por desembargadores em sessão realizada nesta quarta-feira (18). O Ministério Público disse que vai recorrer.

O desembargador Marcus Quaresma Ferraz foi vencido pelos desembargadores Gilmar Augusto Teixeira (relator) e Elizabete Alves de Aguiar, da 8ª Vara Criminal. Os dois consideraram não ter ficado comprovado, na denúncia do Ministério Público (MP), o dolo eventual – quando não há a intenção, mas se assume o risco de matar. O caso deixa, então, o Tribunal do Júri, e será redistribuído para uma das varas criminais comuns da Comarca da Capital.

MP contesta
O procurador-geral de Justiça do Rio informou que o MP vai recorrer. Marfan Vieira disse que as imagens provam que houve dolo eventual e que a decisão provoca uma sensação de impunidade na sociedade.

O defensor público Felipe Lima de Almeida, que representa Fábio, informou que não há provas de que os acusados tenham agido com dolo eventual. "Os réus, eles dirigiram o rojão para a multidão com o escopo de causar um grande tumulto."

Se o recurso não for aceito, o MP terá que oferecer uma nova denúncia, dando nova classificação, que pode ser, entre outras, a de homicídio culposo. A decisão não significa a absolvição dos acusados.

Presos em Bangu
Caio e Fábio estão desde fevereiro de 2014 no Complexo Penitenciário de Bangu. Até as 21h desta quarta, os réus não haviam sido soltos, segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). De acordo com o advogado Wallace Martins, um dos advogados dos manifestantes, eles devem sair da cadeia até o fim desta quinta (18).

Entre as medidas cautelares impostas na decisão, ficou determinado o comparecimento periódico ao juízo; a proibição de acesso ou frequência a reuniões, manifestações, grupos constituídos ou não, bem como locais de aglomeração de pessoas de cunho político ou ideológico; proibição de manter contato com qualquer integrante do denominado "black blocs"; proibição de ausentar-se da comarca da capital; recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, principalmente nos fins de semana e monitoramento eletrônico.

'Me humilha', diz filha
A filha de Santiago Andrade, manifestou sua indignação, por meio de seu perfil no Facebook. Ela contou se sentir humilhada pela sensação de "não poder fazer nada".

"Sou mais uma parcela da sociedade que passa a conviver com assassinos de um homem íntegro e justo em liberdade. É difícil, é doloroso, depois de um ano sem Santiago, a sensação de não poder fazer nada me corrói, me humilha. E lamento. Lamento não ser como os defensores, que perdoam dois assassinos, que transformaram em noites os dias de uma família com um simples voto. Se Caio e Fábio estão livres, lamento mais ainda desapontá-los, mas a minha batalha continua, até a última instância, estou preparada", disse Vanessa.
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