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Chuva ameaça economia de água; termos sobre a crise despencam nas redes sociais

iG

São Pedro pode se tornar um amigo da onça para o governo Alckmin (PSDB) no enfrentamento da crise hídrica. Afinal, com tanta água caindo do céu, como fazer com que a população continue a fechar as torneiras - algo fundamental, segundo a gestão atual, para evitar um colapso do abastecimento?

Desde 2014, quando a crise hídrica começou a se agravar, o tucano tem contado com a economia de água por parte da população para evitar um colapso do sistema Cantareira, a principal e mais problemática caixa d'água de São Paulo, que só sobrevive graças ao volume morto.

Segundo dados da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, quase 1/5 (19%) da redução no consumo de água do Cantareira entre fevereiro de 2014 e o mês passado decorre de mudança de hábito dos consumidores, que passaram a gastar menos água estimulados por um bônus de até 30% na conta.

Em quase todo esse período, esses consumidores vinham sendo informados que vinha chovendo pouco no sistema Cantareira - a precipitação ficou abaixo da média mensal em todos os meses de abril de 2014 a janeiro passado.

Na última quarta-feira (18), a secretária-adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos, Mônica Porto, afirmou que será um "desafio" para a pasta, a Sabesp e o governo como um todo manter a população economizando - uma das condições necessárias para evitar um colapso do sistema Cantareira em 2015.


"Isso não é fácil com as chuvas voltando ao normal, porque a população para de ter a percepção do problema, e tende a voltar a maiores níves de consumo", afirmou Mônica, durante evento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).

Proprietário da empresa MetalSinter, Sérgio Cintra tem encontrado mais dificuldades para vender seus sistemas de reúso de água e de captação de chuva.

"A gente sentiu que as consultas continuaram, mas o fechamento dos negócios, não. 'Ah, tá chovendo, vou deixar mais para a frente', afirma Cintra. "Quem vê que conta está ficando cara, instala [o equipamento]. [Mas] tem muito caso em andamento em que o cara está dando um tempo. Deixa para a semana que vem, para a outra."

No curso de economia de água para síndicos e administradores oferecido pelo sindicato do mercado imobiliário de São Paulo (Secovi-SP), a demanda também arrefeceu. As vagas para a primeira turma, de 26 de fevereiro, esgotaram-se em dois dias. Para a de 12 de março, foram necessárias duas semanas de chamadas.

No interior do Estado, por outro lado, Leonardo Magnin diz ter sido mais procurado por interessados no curso de construção de cisternas que ele administra. "Fizemos trẽs oficinas em São Paulo [desde 2014] e estamos com visitas marcadas para São Carlos, Limeira e Sertãozinho", diz.

'Racionamento' é menos debatido nas redes sociais

Nas redes sociais, a chuva esfria os ânimos do debate sobre crise hídrica, aponta um levantamento da consultoria Airstrip, que acompanha o tema desde novembro passado, feito a pedido do iG. 

"O tema fica mais para os veículos de comunicação. A chuva é um calmante natural para o usuário comum nas redes sociais", afirma Rafael Arrigoni, diretor de pesquisa da Airstrip.

Desinteresse

Menções à crise hídrica nas redes sociais (média diária)

O estudo aponta que, após atingir um pico de 10,3 mil menções diárias em Twitter, Facebook e Instagram em fevereiro, o número de postagens relativas à crise da água caiu para 4,5 mil por dia em março. O próprio termo "falta", que era o 4º mais citado até fevereiro, caiu para a 6ª posição neste mês. "Racionamento" desabou do 5º para o 10º lugar.

Coordenadora do Aliança pela Água, Marussia Whatley diz ainda não ter notado uma mudança de comportamento dos consumidores.

"[Mas] o que pode gerar essa percepção é o tipo de comunicação, inclusive por parte do próprio governo, de que 'está tudo bem' e que 'não vai ter racionamento'", critica. "E as chuvas, apesar de contribuírem para uma situação melhor, não são suficientes para que tenhamos uma situação confortável em 2015."

Em fevereiro, porém, a situação mudou. O volume de chuvas superou em 60% a média histórica para o mês no manancial. Em março, na última sexta-feira (20) - a 11 dias do fim do mês, portanto -, já havia chovido 95% do total esperado até o dia 31.
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