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Envolvidos em Operação Zelotes cogitaram recolher imposto sobre valor da propina

O Globo

BRASÍLIA - Tudo começou com um envelope pardo enviado à Coordenadoria-Geral de Polícia Fazendária cujo conteúdo narrava um esquema de corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O suposto remetente não foi identificado, mas as informações e denúncias contidas procediam. Assim nasceu a Operação Zelotes da Polícia Federal (PF). Nas investigações, a PF acompanhou diálogos e e-mails, em grampos autorizados pela Justiça que mostraram as negociações de vantagens no tribunal da Receita Federal.

Uma dessas conversas grampeadas pela PF ironicamente passava pela necessidade ou não de recolhimento de impostos sobre o pagamento de propina. No dia 15 de agosto de 2014, Jorge Victor Rodrigues, conselheiro do Carf, relata ao sócio Jeferson Salazar conversa que acabara de ter com conselheiro do banco Safra, José Inácio Puga, na sede da SBS Consultoria, em Brasília. Eles discutiram a forma do pagamento pela interferência no tribunal — “se vai ser com nota, se vai ser sem” — se o pagamento fosse realizado.

— Quando fiz esses cálculos aí, estava pensando em termos de pagar impostos, né? Meu custo tributário é de 15%, mas eu gostaria que toda a parte financeira disso aqui, do acerto final, fosse feita através do nosso amigo de São Paulo — disse Rodrigues, na conversa grampeada.

O relatório da PF aponta que, nesse diálogo, Rodrigues faz “colocações que não deixam dúvidas da intenção do grupo”. Os agentes da polícia relatam fotos da chegada de Puga à sede da SBS, em Brasília, onde se encontrava Rodrigues.

Dez dias depois, a partir de São Paulo, Rodrigues relata a Salazar nova conversa que tivera com Puga, em um bistrô de São Paulo, “para continuarem pessoalmente as tratativas para obter decisão favorável do Carf, visando derrubar os autos de infração dos processos da JS Administradora de Recursos SA do Banco Safra”, afirma a PF.

Os sócios falam sobre um adiantamento para viabilizar a corrupção de procuradores da Fazenda e conselheiros, deixando bem caracterizados os esquemas de “corrupção, advocacia administrativa fazendária e tráfico de influência”. Além desses delitos, há lavagem de dinheiro e uso de “doleiros”, que cobrariam 3%.

Jeferson Salazar não foi encontrado. O banco Safra não quis comentar. Jorge Victor Rodrigues também informou que não faria comentários:

— Eu não vou comentar com você, infelizmente, porque essas escutas da Polícia Federal estão totalmente truncadas. Estou verificando neste momento o texto do inquérito e, realmente, a coisa está muito confusa. O meu advogado me recomendou que eu me abstivesse de fazer qualquer pronunciamento agora, até que se tenha uma visão completa do panorama.

 
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