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‘Coração vagabundo’ mostra um Caetano Veloso simpático

G1

A foreign sound” (2004), único disco de Caetano Veloso todo gravado em inglês, pode não ser o melhor trabalho do cantor e compositor baiano, mas ao aparecer em shows em Nova York e Tóquio, as intepretações parecem fazer algum sentido. Essa é apenas uma das perspectivas possíveis de “Coração vagabundo”, documentário em que o jovem cineasta Fernando Grostein Andrade acompanha o artista em apresentações pelos Estados Unidos e Japão.

A nudez de Caê no banheiro de um hotel, logo na primeira cena, é apenas um detalhe. Em pouco mais de uma hora, o filme mostra um Caetano sem querer ser Caetano, com toda a carga que isso implica. Algumas cenas chegam a provocar risadas e funcionam como boas oportunidades de apresentar o artista como um cara simpático e bem humorado às novas gerações.

Em Kyoto, Caê abraça uma árvore na rua. Na sequência, a caminho de um templo budista, ele discorre sobre a comida japonesa. “O prato principal é uma obra de arte. A sobremesa é muito cafona, sempre cheia de cores.” Já devidamente instalado sobre o tatame, prestes a provar um doce de feijão, a câmera capta o olhar do músico, em um de seus melhores momentos.

Com participações especiais dos cineastas Pedro Almodóvar e Michelângelo Antonioni, além do músico americano David Byrne e da top model Gisele Bündchen, “Coração vagabundo” é resultado de 57 horas de material bruto. “Deixei-me guiar pela emoção”, diz o diretor. “Foi um processo de tentativa e erro até encontrar uma história. Não se trata de um filme biográfico, mas sim de uma passagem pela vida de Caetano.”
“Tive de aguentar o Fernando, que era muito obsessivo nesse negócio de fazer um filme, o que ainda não estava bem definido. Ele é bonitinho e isso já ajuda, mas às vezes, logo que eu acordava, já tinha de ouvir aquele papinho de filmagem”, comenta o músico, rindo.

“Eu falo como eu falo. Não gosto muito de me ver e fico um pouco envergonhado de falar tanto. Mas o filme foi feito de um jeito que não me causa desagrado. As coisas que eu disse me pareceram boas. Um amigo me achou superficial, mas acho que o documentário vai fundo em muitos aspectos.”

De fato. As reflexões de Caetano vão muito além de observações acerca da culinária oriental. Do medo de envelhecer à preocupação em ser maquiado para participar de um programa de TV e “ficar com cara de político babaca”, o músico demonstra estar de bem com a vida, apesar do “humor de quem já não espera nada”.
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