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Notícias / Brasil

Gabriel O Pensador apoia surfistas na luta pela despoluição de São Conrado

Do G1 Rio

Quando tinha 14 anos, Gabriel Contino, mais conhecido como Gabriel O Pensador, contraiu hepatite em contato com as águas da praia de São Conrado, na Zona Sul do Rio. Mais de 20 anos depois, ele se diz revoltado ao ver que a praia continua recebendo esgoto. O músico compartilhou numa rede social a foto que mostra uma imensa mancha marrom sobre as águas verdes de São Conrado e a repercussão foi imediata entre os internautas.

Em conversa com o G1, Gabriel disse que a postagem foi um desabafo por ver o problema se arrastar por tantos anos. “Que revolta eu sinto com a poluição do Cantão. É um absurdo”, registou ele no post feito no Facebook. A foto registrou o resultado do vazamento de esgoto após rompimento da tubulação.

“O que eu sei  é que está tendo vazamento o tempo todo. A gente sabe que teve uma obra, lá atrás, que foi feita para criar um caminho por baixo do calçadão para sair o esgoto no mar. Aquele esgoto aparecia na areia e a obra foi feita para esconder ele. Para nós ficou ainda pior”, contou Gabriel.

O G1 foi a São Conrado conferir a situação no domingo (18). Não havia vazamentos aparentes na tubulação. O mau cheiro, no entanto, podia ser sentido do calçadão. Em uma fenda nas rochas, distante da faixa de areia, era possível ver a água escura se misturando às ondas. No centro da praia, na abertura da galeria que passa sob o calçadão e para levar o esgoto ao mar, o ar era irrespirável e a sujeira na água, evidente.

“Nunca vi isso aqui sem esgoto”, afirmou o pescador Élcio Evangelista da Silva, 57 anos, que ignora a poluição e tira de São Conrado o seu alimento.

O que os olhos não vêem...
Imagens como a compartilhada pelo cantor impressionam pela dimensão da sujeira. Mas, mesmo quando não há mancha escura no mar, o perigo à saúde é iminente. “Muitos [dos frequentadores] já criaram anticorpos. Mas sempre aparece alguém com diarreia, micose de pele, otite e várias outras infecções”, afirma Eric Poseidon, 33 anos, atleta profissional de bodyboard e frequentador assíduo de São Conrado. Ele destacou a preocupação com as dezenas de crianças da Rocinha que têm aulas gratuitas de surfe em São Conrado.

Dados do monitoramento da qualidade das águas feito pelo Instituto Estadual Ambiente (Inea) mostram que é praticamente permanente o alto índice de coliformes termotolerantes e enterococos (microrganismos que podem causar doenças graves) em São Conrado. A última vez que a praia apresentou condições para banho foi em setembro de 2014.

O Inea destacou que a praia de São Conrado faz parte do programa Sena Limpa, que prevê a recuperação ambiental de praias do Rio. A execução das obras em São Conrado está a cargo da Cedae. No cronograma inicial, em dezembro de 2013 São Conrado já deveria ter ficado completamente despoluída. No entanto, esse prazo não foi cumprido e não há previsão para conclusão das obras.

Salvemos São Conrado
Desde 2012, surfistas que frequentam São Conrado se uniram para lutar pela despoluição e criaram o movimento “Salvemos São Conrado”, do qual Gabriel Pensador é um dos apoiadores. Eles criaram uma fan page no Facebook para compartilhar denúncias sobre o descaso com a praia e realizam ações para recolher o lixo sólido que se acumula nas areias.

“”Foi meio despretensiosa a criação da página. Hoje temos mais de 18 mil seguidores e vemos publicações nossas sendo compartilhadas até mesmo em vídeos no YouTube. Se não fosse esse trabalho, São Conrado já estaria completamente esquecida”, avalia o empresário Fabrini Tapajós, 38 anos.

Resposta da Cedae
A Cedae, em nota, afirmou que as obras do Programa Sena Limpa em São Conrado estão em andamento e serão concluídas até o primeiro trimestre de 2016. “As obras vão substituir toda a tubulação de esgoto que percorre o costão da Avenida Niemeyer, com 500 milímetros de diâmetro e 2,10 km de extensão”, diz a nota.
Ainda segundo a nota, o projeto inclui ainda a ampliação e modernização da Estação Elevatória que integra o sistema da região e a implantação de 615 metros de coletores auxiliares com diâmetro de 250 mm. Todas as obras serão concluídas até o fim deste ano. Outras intervenções estão a cargo da prefeitura e da Secretaria Estadual do Ambiente, que podem dar mais informações. Trata-se de um programa que envolve diversos órgãos do estado e município do Rio.
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