Imprimir

Notícias / Ciência & Saúde

Gripe suína não deve impedir crianças de irem a locais públicos

Folha de S.Paulo

Com o aumento da circulação da gripe suína no inverno, pais de crianças se questionam: devem proibir os filhos de frequentar ambientes coletivos, como igrejas, restaurantes ou mesmo a escola?

Três infectologistas ouvidos pela Folha dizem que, se tivessem filhos pequenos, não os privariam dessas atividades. Contudo, diante das incertezas sobre o vírus, nenhum deles condena a cautela dos pais.

Os médicos também dizem que vale seguir orientação de órgãos governamentais. O ministro José Gomes Temporão (Saúde) recomendou, especialmente a mulheres grávidas, que se evite aglomerações.

"Se eu tivesse um filho de seis anos, mandaria ele para a escola. A letalidade dessa gripe não é maior que a da sazonal e não vejo motivo para pânico. Mas se um pai me disser que está deixando o filho em casa, este é um direito dele. Trata-se de um vírus novo e há muitas dúvidas", diz David Uip, diretor do Instituto Emílio Ribas.

Uip conta que nada mudou na rotina de seu neto de 1 ano, que mora no Guarujá (SP) e vive entre a casa e passeios na rua e na praia. "O único efeito da gripe na minha família foi minha filha de 23 anos ter desistido de viajar à Argentina."

Caio Rosenthal, também infectologista do Instituto Emílio Ribas, faz coro a Uip. Diz que não vetaria ida de filhos pequenos a lugares com muita gente, mas que ainda assim vale prudência. "Se o pai sabe que em determinado local há alguém com a gripe, tudo bem evitar que o filho vá até lá."

Mas, em tempos de aumento da transmissão do vírus, como saber onde estão os casos? "Não dá pra saber, mas não vejo motivo para pânico e alterar hábitos de rotina."
Esper Kallas, infectologista da Universidade de São Paulo, afirma que, apesar da grande divulgação e preocupação em torno da doença, é comum que novos tipos de gripe, como a suína, apareçam todos os anos.

"É normal. Todo outono e inverno é assim. Qualquer tipo de gripe pode trazer problemas, pois diminui a defesa do organismo. Não é à toa que o governo manda vacinar a população
mais velha", afirma.

Médicos aprovam as decisões de prefeituras que adiaram a volta às aulas para conter a disseminação da gripe, já que a temporada de frio favorece a transmissão. Já se sabe que a gripe suína é contraída mais facilmente que os outros tipos da doença e, por isso, vem se espalhando mais rapidamente.

Grupos de risco

A onda de gripe suína traz pânico entre mães de crianças que têm ou já tiveram problemas mais sérios de saúde --mesmo que já superados.

"Cem por cento das nossas mães estão trancando os filhos em casa e até evitando visitas", conta Maria Julia Miele, presidente do Instituto Abrace, ONG na qual mães que já tiveram filhos em UTI prestam apoio às que passam hoje pela mesma situação.

"As mães nos contam que estão tirando as crianças da fisioterapia, da equoterapia, com medo da doença. Todo mundo que passa pela porta das casas precisa lavar bem as mãos e passar álcool em gel. Se estiver gripado, melhor nem ir."

A origem do medo é a sucessiva divulgação de casos de morte de pessoas que já tinham outros problemas de saúde.

Kallas recomenda nesses casos que se peça avaliação dos médicos que cuidam dos problemas de saúde pré-existentes, para que possam avaliar os riscos trazidos pela nova gripe. Isso também vale para adultos.

"Por exemplo: eu atendo pacientes com HIV, que me perguntam sobre a gripe. Se eles estão com a imunidade boa, digo para que levem uma vida normal", afirma.
Imprimir