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Jovens que 'gritaram a independência' contam como aprenderam a se virar

Globo Repórter

Pode ser por necessidade, questão de sobrevivência mesmo, ou por aquela espécie de chamado interior. Uma hora, a maioria dos filhotes, vai.

Globo Repórter: Mesmo o canguru uma hora sai da bolsa?
David Levisky, médico e psicanalista: Se ele não sair da bolsa, morre ele e morre a mãe. A natureza é sábia. E os filhos têm que fazer isso também, demonstrar para os pais que ele pode sair dessa bolsa protetora, que ele vai conseguir se virar na vida.

A Nubia saiu da casa dos pais, no interior de São Paulo, para fazer faculdade. O Cristiano tinha um emprego com carteira assinada em Florianópolis. Os dois começaram a trabalhar cedo no que pintasse: shopping, escritório. A paixão pela informática uniu os amigos que, juntos, construíram suas novas vidas e identidades: Nubis e Catupa.

“Eu dei o passo para quebrar a cara mesmo e ver o que dava certo e acabou dando perrengue, bastante perrengue. Passei bastante perrengue no começo, mas as coisas se ajeitaram.”, lembra Cristiano de Souza ou Catupa, social mídia.

“No começo é difícil porque você, pô, você tem que pagar aluguel, você tem que estudar, você tem que trabalhar, tem que fazer tudo. Mas daí quando você vai tendo oportunidade de ter as suas coisinhas, consumir as coisas que você realmente gosta, se vestir da forma como você acha que combina com você, as coisas vão fluindo.”, conta Núbia Veturiano, social mídia.

Quem topa mais cedo esse desafio, em geral, começa do zero, ou quase.

Núbia: Eu levei a minha televisão que era aquelas de tubo ainda, aqueles ‘trem pesado’, aí o Catupa comprou a TV.

Para quem já dividiu casa com 11 e apartamento com sete pessoas, viver assim, em dupla, é fácil. Até bicho de estimação é bem-vindo.

Globo Repórter: Como é que você define o relacionamento de vocês?
Núbia: Perfeito
Globo Repórter: Melhor que de marido, de família?
Núbia: Bem melhor. O Catupa respeita o meu espaço, eu respeito o dele e a gente gosta das mesmas coisas.

“Eu julgo como família também. A Nubia para mim é como irmã, é como morasse com uma irmã.”, conta Catupa.

Vida com amigos

A vida parece uma festa quando eles se juntam com os amigos que moram no mesmo prédio, em Osasco, cidade colada à São Paulo e com aluguel mais barato. Eles se divertem, mas ralam e amam o que fazem. No grupo de amigos, todo mundo trabalha com internet.

Globo Repórter: Como é a divisão do trabalho, do trabalho, das despesas?
Catupa: A gente divide as contas e aluguel. A diferença é que a Núbia paga um pouquinho menos, mas ela mantém a casa organizada.
Globo Repórter: É uma boa divisão?
Catupa: É uma boa divisão. Ela que sugeriu isso e eu aceitei na boa, claro, opa!

Para eles, morar longe dos pais é um treino para vida e para o mercado de trabalho.

“Para qualquer lugar que você for, o mercado ele exige que você seja ousado, que seja diferente, que você tenha uma qualidade a mais para mostrar, porque senão você só vai ser mais um com diploma. Eu não desmereço quem mora na casa dos pais mas se você morar na casa dos seus pais e for acomodado, não fazer nada de diferente na sua vida, você não agrega valor nenhum pra sua existência, você não vai ser ninguém no ambiente de trabalho.”, diz Nubia.

Acomodação, pode ser um dos grandes perigos da demora em partir para vida independente. Por isso, pais e filhos devem estar atentos.

David Levisky, médico e psicanalista: Chega uma hora, os limites da relação, eles se modificam porque o jovem tem outras necessidades e os pais também têm outra necessidade. Alguém tem que ser forte nisso daí: ‘meu filho, a partir de hoje’, senão isso se alimenta eternamente.

Sonhos das novas gerações estão mudando

E ninguém fica adolescente para sempre né?! Ou fica?

Partir sozinho para a grande aventura da vida, desbravar o novo, encontrar horizontes amplos, é o que a gente ainda imagina que sejam os desejos dos jovens. Mas os sonhos das novas gerações estão mudando e rápido. O Centro-Oeste é um bom exemplo. Em nove anos, o número de jovens de 25 a 34 anos morando com os pais deu um salto. Aumentou quase 32%. O que tem de canguru nessa região do Brasil.

Desde a mais tenra idade, eles não negam o que serão.

Pedro Couto, 17 anos: Eu quero sair quando eu tiver com a minha vida toda resolvida, uma pré-família, essas coisas
Globo Repórter: Como é uma pré-família?
Pedro: Ter uma noiva, depois planejar ter filhos. Tem que estar bem para sair de casa.

“Esse negócio da aventura é lindo, é bonito na teoria agora, na prática, já são outros quinhentos. É mais difícil pra você conseguir as coisas não tendo um apoio, nem tanto financeiro, mas apoio emocional às vezes que a gente encontra em casa.”, diz Pablyne Lopes, 17 anos.

Globo Repórter: E quem que está louco para sair de casa?
Jade Schenkel, 16 anos: Eu. Se a gente se acostumar sempre a ter alguém pra proteger a gente nunca vai sair. Vai ficar com 40 anos dentro de casa.

“Eu acho que a gente tem que passar por coisas novas, porque a gente aprende com os erros, né?”, diz Luísa Pereira, 16 anos.

População de ‘cangurus’ aumentando no Brasil

Mas, calma, eles ainda precisam passar dos 25 anos morando com os pais para conquistarem o posto de ‘canguru’ ou fazer como o professor deles: se transformar em um depois de mais velho.

Segundo o IBGE, a população de cangurus está aumentando no Brasil porque as pessoas estão se casando mais tarde, estudando por mais tempo e, também, porque o número de separações cresceu.
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