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Fenômeno da ‘Geração Canguru’ vem crescendo sem parar no Brasil

Globo Repórter

O olhar do canguru pai é um aviso. Sempre atento e protetor. As mães cangurus vigiam e também limpam, e limpam. Se desdobram em cuidado e carinho. E mostram os motivos de tanta dedicação: os filhotes. Com os cangurus é assim, só saem da bolsa quando se sentem muito seguros e maduros. Às vezes já estão grandões, e continuam no “bem bom”.

Não é à toa que encontramos seres humanos imitando o comportamento animal por todo o Brasil. Há cangurus no Rio de Janeiro:

Globo Repórter: É bom morar assim em cima da mãe?
Pedro: É muito bom. Qualquer coisinha, se apertar aqui eu vou lá e... mãe!

Tem canguru em Belém:
Globo Repórter: Vocês poderiam estar morando fora, já? Financeiramente falando?
Paulo: Poderíamos.
Globo Repórter: Mas?
Raul: Não, ia ter que cuidar de casa, de toda a organização, limpeza...

Para ver até que ponto chega essa história: 17h30, na frente do metrô em São Paulo, e num carro tem uma ‘mãe canguru’ esperando a filhotinha.

Ana Maria Abranches, advogada: E, olha, espero com tanto gosto!
Globo Repórter: E que idade tem a filhotinha?
Ana Maria: Filhotinha de 28 anos. Mas continua sempre bebê, né!?

Mimos típicos da ‘Geração Canguru’

O bebê da dona Ana Maria veio do trabalho de metrô e faz o resto do percurso na bolsa, quer dizer, no carro da mãe. Esses pequenos mimos são típicos da ‘Geração Canguru’, esse é o apelido do fenômeno que vem crescendo sem parar no Brasil.

A última pesquisa do IBGE mostra que, entre os jovens de 25 a 34 anos, 25% - um em cada quatro - ainda moram com os pais.
  
“Esses cangurus, eles estão mais presentes nas regiões metropolitanas. Postergar essa saída de casa é uma vantagem pra quem pode: se qualificar mais, acumular mais recursos pra poder comprar um apartamento, comprar móveis de melhor qualidade, comprar um carro.”, disse André Simões, gerente de Indicadores Sociais do IBGE.

E quem é que vai sair de uma casa com comida, carinho e roupa lavada?

Anna Carolina Abranches, enfermeira: É uma ótima pergunta, quando eu vou sair. Eu acho que eu vou sair só quando eu casar mesmo. Não tenho pretensão assim.
Globo Repórter: Olha a felicidade do Alberto!
Alberto, pai da Anna: Isso que eu ia falar. Vai sair quando casar.

Com a Ana e o Alberto, e com os pais deles, foi bem diferente. Ana cresceu em Angola. Ela adorava o país onde nasceu, mas teve que fugir da guerra. Já os pais do Alberto fugiram da pobreza em Portugal. 

“Arrumaram dinheiro emprestado para comprar as passagens. Começaram do zero. E trabalhando em dois empregos, foi difícil a vida deles”, contou Alberto Abranches, corretor de imóveis.

Vida difícil e filhos criados na moral rígida das antigas gerações.

Globo Repórter: Por exemplo, ir com o namorado pro quarto?
Ana Maria Abranches, advogada: Imagina. Nem em sonhos!

Hoje em dia os pais podem até não gostar, mas fazer o quê?

Globo Repórter: Como foi a primeira vez que o namorado dormiu, acordou assim aquela coisa constrangedora?
Alberto: Eu nem sabia direito.
Ana: Na verdade, ele sabe e não sabe. Ele finge que não sabe.
Globo Repórter: Como foi, Alberto?
Alberto: Eu não gostei muito, não. Falei, ‘Está dormindo aí? Que negócio é esse?’ E aí o meu filho também já ficou bravo.

Tempo de espera para um momento melhor

Allan é o filho mais velho. Só saiu de casa há seis meses, com 31 anos.

“O quarto dele está lá e a gente sempre acha que ele vai voltar. Assim não foi definitivo que ele falou ‘eu vou e não vou voltar mais’.”, diz Alberto.

Allan Abranches, publicitário: Eu me sinto em casa com o quarto aqui. Se não tivesse, acho que eu ia ficar meio triste.
Globo Repórter: E meio um porto seguro?
Allan: É um pouco.

A Carol também já poderia ter ido. Ela é enfermeira. Além da faculdade fez duas pós-graduações, já está na terceira. Estuda junto com a Fernanda, colega de trabalho e outra ‘canguru’.

Fernanda de Oliveira, enfermeira: Eu acho que nos dias de hoje é um verdadeiro privilégio a gente morar com os nossos pais. Tem pessoas que têm os pais tão longe, às vezes os pais tão ausentes...
Globo Repórter: O que vocês acham que aprendem com isso, com essa proximidade?
Anna: Amor, companheirismo. Ter a família por perto é muito bom.

Globo Repórter: Não é importante ir para o mundo, correr risco, isso não é importante para o crescimento da pessoa?
Célia Henriques, psicanalista: Com certeza. Isso é importante quando se pode, se consegue, se consegue fazer de uma forma melhor. Então o que acontece com a geração canguru, é como se fosse assim um tempo de espera, sabe, um tempo de espera para um momento melhor.
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