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Uma em cada três pessoas mortas por atropelamento em São Paulo é idosa

G1

Quase um terço das pessoas que morreram atropeladas em acidentes de trânsito no ano passado, na cidade de São Paulo, era idoso. O dado faz parte do Relatório Anual de Acidentes de Trânsito realizado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) relativo ao ano de 2014.

Ao todo, 203 pessoas com mais de 60 anos morreram no tráfego paulistano no ano passado. O número representa 32% dos 555 pedestres mortos após serem atingidos por veículos. A proporção é significativamente maior do que a presença dos idosos na cidade de São Paulo, que é de 11,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números de acidentes em 2015 ainda não saíram, mas dois acidentes envolvendo idosos em menos de sete dias chamaram a atenção. Em 17 de agosto, o aposentado Florisvaldo Carvalho Rocha, de 78 anos, morreu após seratropelado por um ciclista sob o Minhocão, no Centro da cidade.

No domingo (23), Laurindo Cândido Pinheiro, de 63 anos, morreu quando caminhava em uma área reservada do Autódromo de Interlagos, na Zona Sul da cidade. Ele foi atingido por um carro de um motorista de 21 anos que participava de um campeonato de manobras radicais. O jovem, porém, estava no local errado, invadiu a pista de caminhada e atingiu o idoso.

O atropelamento foi a maior causa de acidentes fatais envolvendo idosos no ano passado. O documento da CET informa que, das 203 pessoas com mais de 60 anos mortas no ano passado no trânsito, 178 foram atingidas por algum veículo (o que corresponde a 87,7%). A segunda maior causa de fatalidades nesta faixa de idade foram acidentes dentro de um veículo (22, ou 10,8%) e, por último, batidas ou quedas de moto (três casos, ou 1,5%).

Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes informou que, desde 2013, realiza uma série de ações para segurança, como o Programa de Proteção à Vida (PPV) e o Centro de Treinamento e Educação de Trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CETET-CET).

Nesta central acontece o Programa de Educação de Trânsito para Terceira Idade. “Nos encontros são exercitadas a vivência e o diálogo a respeito de comportamentos seguros” e “abre-se entre os participantes a oportunidade de reflexão sobre a interferência de limitações físicas, decorrentes da idade, em sua segurança enquanto pedestres. para uma melhor convivência com os problemas do trânsito”.

Outra iniciativa é o curso Direção Segura para a Terceira Idade, que tem por objetivo conscientização sobre a vulnerabilidade e a diminuição da velocidade de reação “tanto como condutores como pedestres”.

Causas
Especialistas ouvidos pelo G1 afirmam que os idosos são mais suscetíveis a acidentes mais graves em razão de dificuldades como o reflexo mais lento, mas culpam também a falta de estrutura da cidade e a falta de uma ação de educação para todos os envolvidos no trânsito de São Paulo.

Para Flamínio Fishman, urbanista especialista em trânsito, o tratamento dado ao pedestre é inversamente proporcional à quantidade de deslocamentos a pé. Ele cita a pesquisa Origem e Destino, feita pelo Metrô em 2007 e ainda tida como referência para o transporte de São Paulo. O estudo mostra que, das 38 milhões de viagens feitas na Grande São Paulo todos os dias, cerca de 12,6 milhões são a pé - cerca de um terço.

"Para estar preparado precisaria ter as calçadas em condições adequadas para a circulação desses idosos, que são os que mais acidentam. Uma das medidas importantes seria alargar as calçadas", afirmou. A Prefeitura informou, sem citar datas, que "lançará, em breve, uma programação para aumentar a largura das calçadas".

Segundo Fishman, muitos investimentos têm sido feitos em ciclovias, mas a bicicleta era responsável por 340 mil viagens na cidade, segundo a pesquisa, número bastante inferior ao de deslocamentos a pé.

A opinião é semelhante à da fisiatra Júlia Greve, que conduziu estudo sobre 587 acidentes com idosos atendidos no Hospital das Clínicas em 2003. Ela afirma que os mais velhos sofrem com o reflexo mais lento. "É comum o idoso cair e bater a cabeça. Não tem aquela reação instintiva rápida do mais jovem. Isso agrava as lesões e aumenta o número de mortes.”

Com base em sua pesquisa, Júlia afirma que boa parte dos acidentes é por "desrespeito de parte a parte" e pelo comportamento no trânsito. "Tem a falta de consideração do motorista, que acha que tem o direito de passar e que o pedestre tem de esperar. Azar de a fiscalização ter afrouxado", disse ela, também questionando o fim do Programa de Proteção ao Pedestre.

Iniciado em 2011, durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD), o programa contou com a revitalização de faixas de pedestres, instalação de semáforos, aumento de fiscalização e orientadores com placas informativas.

Questionada pelo G1, a Secretaria dos Transportes afirma que as faixas de pedestre em diagonal nos cruzamentos de grande movimento, os 319 bolsões de parada junto aos semáforos para motociclistas e bicicletas (os chamados "Frente Segura") “absorveram a necessidade da presença dos chamados ‘mãozinhas’ nos cruzamentos incluídos no antigo Programa de Proteção ao Pedestre, que vigorou até o final do ano passado”.

A especialista citou ainda como causas para a maior letalidade dos acidentes com idosos a falta de respeito por parte do pedestre que não atravessa na faixa, e a estrutura da cidade. Sobre isso, ela citou problemas como a falta de iluminação e os faróis para pedestres que fecham muito rapidamente. "Esses semáforos precisariam considerar que há pessoas que atravessam lentamente, com dificuldade. Mas boa parte não considera", disse.

A Prefeitura informou que atualmente há o programa “CET no seu Bairro”, que beneficiou 77 regiões. “Por seu intermédio, houve a implementação ou recuperação de 4.960 travessias de pedestres [...] sinalização de solo em 135.831 metros quadrados; colocadas 12.464 placas indicativas de trânsito e atendidas 154.558 pessoas em ações educacionais realizadas nas escolas.” A nota acrescenta que foram revitalizados os semáforos em 4.537 cruzamentos no município.

Vias perigosas
No ano passado, 1.249 pessoas morreram em acidentes de trânsito na capital, média de 3,4 óbitos por dia. De acordo com o documento da CET, a maior parte das vítimas morreu atropelada: 555 pedestres (ou 44,4%). Logo atrás vêm os motociclistas (440 mortos), motoristas ou passageiros (207) e, por último, ciclistas (47).

A Avenida Marechal Tito, em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo, é a via mais letal para pedestres na capital paulista. No ano passado, das 15 mortes por acidentes de trânsito registradas naquela via, 11 foram causadas por atropelamentos, o que representa 73% do total de óbitos por acidentes.

A única via de São Paulo com mais mortes que a Marechal Tito é a Marginal Tietê, onde 15 pessoas morreram atropeladas em 2014. No entanto, os acidentes com pedestres correspondem a 37,5% do total de óbitos na Tietê – a maioria é relacionada a batidas entre carros ou colisão com postes, guias e capotamentos. Além disso, a via expressa tem 23,5 km de extensão, enquanto a Marechal Tito tem 7,6 km. São mais mortes por menos quilômetros na avenida da Zona Leste.

Segundo a CET, as mortes na Marechal Tito aconteceram por motivos como excesso de velocidade, invasão à faixa de pedestres, avanço de veículos no sinal vermelho e desrespeito dos pedestres à sinalização. O grande fluxo de pessoas também influencia, já que se trata da principal rua comercial de uma das regiões mais populosas da capital paulista.

A CET afirmou que programou a repintura e manutenção das faixas de pedestre citadas ainda para este mês. A companhia disse ainda que intensificou a fiscalização na avenida para coibir possíveis infrações ao Código de Trânsito Brasileiro
 
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