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Por justiça em conflitos de terra e reforma agrária, romaria mobiliza 300 pessoas no Centro Político Administrativo

Especial - André Garcia Santana

Em defesa da reforma agrária e de famílias envolvidas em conflitos de terra, cerca de 300 pessoas protestaram nesta tarde, 1º, em caminhada pelo Centro Político Administrativo de Cuiabá. A 'Romaria dos Povos e Comunidades do Cerrado: Um grito dos excluídos', começou com uma celebração na praça Ulisses Guimarães, em frente ao Shopping Pantanal, e seguiu pelas ruas dos principais órgãos do Estado. A cada parada, uma cruz foi fixada em frente às Secretarias, e o testemunho de militantes foi ouvido.

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Vindos de diversas partes de Mato Grosso, os romeiros pediram pelo fim da violência contra o trabalhador do campo, justiça aos crimes cometidos por latifundiários, a redução no uso de agrotóxicos e a preservação do Cerrado, bem como o respeito à cultura dos povos que habitam essas regiões.

De acordo com o coordenador da Comissão Pastoral da Terra, Cristiano Apolucena, o Estado possui um longo histórico de assassinatos, ameaças de morte, despejos, grilagem de terras públicas, e envenenamentos.

“Na última década cerca de 80 mil famílias foram despejadas de suas propriedades e houve mais de 124 assassinatos na luta pela terra. Só ano passado houveram 5 casos com morte em Mato Grosso. O grandes fazendeiros agem assim por que têm com eles a certeza da impunidade. Até hoje nenhum responsável foi preso. O Estado tem sido omisso e conivente para que conflitos continuem"”, afirma.


Além da CPT, órgãos como o Centro Burnier Fé e Justiça (CBFJ), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Movimento RUA, Levante Popular da Juventude, Consciência Negra, Paróquia Sagrada Família, Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), Formad, Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (GIAS), se mobilizaram para a realização do protesto.

Cerrado

A Romaria abriu a Semana da Cidadania na Capital, aproveitando os dois acontecimentos do mês: a manifestação do Grito dos Excluídos e o Dia Nacional do Cerrado (11/09). O evento foi uma maneira encontrada, porque, boa parte desses conflitos, como os despejos, estão ocorrendo em áreas do Cerrado.

O bioma, segundo maior do Brasil em extensão, desempenha papel fundamental no processo de distribuição dos recursos hídricos do País e da América do Sul, já que faz transição com a Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e o Pantanal, unindo assim todos os biomas brasileiros e alimentando a maioria das grandes regiões hidrográficas do continente.

De acordo com o sociólogo Inácio Werner, representante da organização Direitos Humanos e da Terra, a luta social e ambiental estão direta ligadas. Para ele, há certo desleixo na preservação do Cerrado porque o ecossistema não apresenta a mesma quantidade de árvores que os demais.  “As pessoas esquecem que os grandes rios nascem nessas regiões, que é importantíssima também por sua biodiversidade e pelas raízes que ajudam a manter nossos aqüíferos”.

Assim, ao contrário do resultado gerado pela agricultura familiar, este equilíbrio é fortemente impactado pela produção dos grandes latifúndios, que poluem e agridem o meio ambiente com agrotóxicos e esgotamento de recursos minerais. Apolucena destaca que estes prejuízos não se limitam ao campo. “Bastar observar as mudanças climáticas, a falta de chuva, o excesso de calor. Além disso, cresce o número de pessoas com doenças, como o câncer, causadas por alimentos contaminados”. 
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