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Não tem mágica, é trabalho duro", diz César Cielo

Folha de S.Paulo

César Cielo não olhou para os lados, não se preocupou com adversários, manteve-se concentrado, frio. O jovem de 22 anos que chora no pódio como uma criança mostrou mais uma vez que sabe o que fazer para estar no topo do pódio. E fez.

Ser campeão mundial era um sonho. Bater o recorde mundial, quase uma obsessão. E Cielo concretizou os dois objetivos ontem na piscina do Foro Itálico, palco do Mundial de esportes aquáticos de Roma.

O brasileiro cravou 46s91 e levou o ouro nos 100 m livre.
É a prova mais nobre da natação. É o maior feito de um nadador brasileiro. É histórico.


Deixou para trás os franceses Alain Bernard, dono até então da marca mais rápida, 46s94 --não considerada recorde por ter sido obtida com maiô não aprovado--, e Fred Bousquet, recordista dos 50 m livre.

Após um longo jejum de 27 anos, o Brasil voltou a conquistar um ouro num Mundial de natação. Até ontem, o primeiro e único brasileiro a atingir o feito era Ricardo Prado, vencedor dos 400 m medley em 1982.

"Pequim foi bom [levou bronze nos 100 m livre], mas sempre quis o ouro da prova mais tradicional da natação. Não esperava nada sobre o tempo. Consegui focar a raia, olhar para frente, não ver nada do lado", disse Cielo, ontem.

"É assim que consigo minha melhor performance. Deu certo. É o primeiro recorde da minha carreira, espero que o primeiro de muitos", completou.

A marca de Cielo é o 13º recorde mundial da natação brasileira --seis deles, no entanto, em piscina curta, de 25 m.

Um ano depois de vencer os 50 m livre na Olimpíada, Cielo brincou que está mais forte, mais maduro e mais bonito.

Mais forte está mesmo. O trabalho físico incrementado foi um dos segredos de sua preparação para Roma.

Mais maduro, também. Cielo aprendeu a lidar com a pressão em momentos decisivos e a ser menos afoito antes deles.

Quando caiu na água no Foro Itálico, no domingo, deixou claro que podia fazer um bom tempo. No 4 x 100 m livre, marcou 47s09, 0s04 acima do recorde do australiano Eamon Sullivan. O Brasil foi quarto.

Nas etapas classificatórias para os 100 m livre, porém, foi frio para dosar o esforço. Perdeu duas vezes para Bernard, mas avançou tranquilo. E avisou que podia conseguir mais.

"Hoje [ontem] foi. Eu falei que estava guardando algo", disse ontem.

'Apesar de ter sido um tempo muito louco, eu sabia que iria fazê-lo. Não tem mágica, é trabalho duro', completou ele.

Nem bem terminou os 100 m livre, Cielo já pensava em outro desafio. Hoje, nada o classificatório dos 50 m, que começaria nessa madrugada. Entra na piscina de novo como favorito. Mais preparado do que nunca.

"O César do bronze era um garoto, e o que ganhou o ouro, um homem. Em Pequim ele não acreditava que poderia ser campeão olímpico nessa prova. Agora, tem 100% de certeza de que é o melhor do mundo", definiu o técnico do brasileiro, o australiano Brett Hawke.
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