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Mães abrem mão de carteira assinada para ter mais tempo com os filhos

Nathalia Ilovatte, do R7

Quando a empresária Telma Machado, de Jundiaí (SP), engravidou de Luiz Otávio, decidiu fechar a escola de informática de que era dona para se dedicar aos cuidados com o filho. Acompanhou de perto todas as etapas do desenvolvimento do bebê, como a primeira risada, os primeiros passinhos e a chegada dos dentes.

No aniversário de um ano do pequeno, Telma não delegou funções: fez, ela mesma, os convites e as lembrancinhas da festa. O trabalho da mãe inspirada ficou tão bom que amigas começaram a encomendar os mimos para outras festas, e Telma enxergou nisso uma oportunidade de empreender.

— As coisas foram crescendo, e hoje a T3M já tem sete anos.

Dona de uma empresa que cria brindes e presta consultoria de marketing, a mãe empreendedora faz parte de um nicho crescente, o de mulheres que abrem mão de um emprego estável para começar um novo negócio e mandar na própria agenda. O empreendedorismo materno tem como objetivo unir realização profissional e pessoal, e deixar a mulher mais livre para atender às demandas dos filhos.

— Tive uma vida profissional bem intensa, trabalhei no mundo corporativo por muito tempo, experimentei vários modelos de trabalho e nenhum deles me deu a realização que eu tenho hoje. Além de estar trabalhando com o que eu amo, fazendo o que eu gosto, hoje sou dona do meu tempo. Administro o tamanho que quero que minha empresa fique, depende de mim o quanto vou ganhar no fim do mês e tenho a liberdade de me engajar em um projeto que não seja estanque.

Formada em psicologia e com experiência em recursos humanos, a coach Mel Bracarense, de Belo Horizonte (MG), decidiu trilhar o mesmo caminho de Telma, mas sem mudar de área de atuação. Depois da chegada de Miguel, hoje com dois anos, Mel procurou cursos de especialização e criou o Mães com Carreira, um programa que ajuda outras mulheres que querem conciliar filhos e realização profissional.

— Foi uma escolha que eu fiz pra ter um dia a dia mais equilibrado. De manhã estou mais focada no meu filho, brinco com ele, acompanho o desenvolvimento. Durante a tarde ele está na escolinha e é esse período que eu tenho para trabalhar. À noite, assim que ele dorme eu aproveito para estudar um pouquinho, preparar alguma coisa para o outro dia. E assim eu consigo aproveitar muito mais. Graças a isso consegui acompanhar tudo dele, a primeira palavra, o primeiro sorriso, o dia em que ele engatinhou. Estou sempre presente. Isso até me emociona, porque naquela vida que eu tinha eu realmente não teria essa oportunidade.

Grávida do segundo filho, Samuel, a empreendedora conta com o apoio do marido.

— Isso foi muito decisivo porque família é um valor muito importante para ele também. Se eu decidisse continuar no mundo corporativo ele continuaria me apoiando, mas escolhi mudar e ele me ajudou, disse que tinha certeza de que daria certo e nós nos organizamos financeiramente.

As mães empreendedoras correm atrás de clientes nos meses em que querem aumentar a renda, e recusam trabalhos que não consideram interessantes ou que exigirão mais tempo do que podem disponibilizar.

Para elas, limitar a quantidade de horas destinadas à vida profissional não é sinônimo de pouco trabalho, mas de muita organização.

A terapeuta ocupacional Renata Tarub, de Recife (PE), é funcionária pública de manhã, quando a filha Maria Clara está na escola. Nas tardes encontra tempo para cuidar das encomendas da GulaTema, marca de bolos e cupcakes caseiros que nasceu como consequência das delícias que Renata preparou para a festa de aniversário da filha. E nas noites de quarta-feira, ela dá aula de dança para mães com bebês no sling e com filhas crianças em um estúdio montado nos fundos de casa.

— Eu desde sempre sou assim, sempre tive muitas atividades. Também tenho aquele dia em que não quero fazer nada e fico de bobeira, porque ninguém é de ferro. Mas fazer muita coisa é bom para mim, não é um martírio.

A pequena Maria Clara acompanha Renata nas aulas de dança e também na cozinha, e a hora da mãe cuidar dos próprios negócios é também um momento de reforçar vínculos com a filha.

— Ela me ajuda na cozinha com uma panela e colher de pau, servindo bolo para as bonecas. Consigo fazer fazer todas as encomendas com ela brincando. Clarinha sabe que não pode tocar, não pode ficar muito perto, mas também sabe que vai lamber a panela quando eu terminar.

Empreendedorismo é para todas, sim!

De acordo com as coaches Amanda Rocha e Lucia Stradiotti, do Mom’ SA, toda mulher pode se tornar uma empreendedora, basta ter disciplina, perseverança e coragem. Também é preciso estudar bastante o mercado, a área de atuação e os concorrentes.

— Uma máxima que costumamos dizer para nossas seguidoras é “comece antes de estar pronta”. Acreditamos que se formos esperar o momento perfeito para começar, esse momento nunca chegará. A melhor forma de começar é dando o primeiro passo, se colocando em movimento e fazendo o que estiver dentro do seu alcance, inclusive financeiro, naquele momento.

Amanda e Lucia praticam o que pregam. As duas também decidiram empreender para controlar a própria agenda e conciliar a carreira com os filhos. Juntas, criaram a Mom’ SA, empresa que orienta mães e futuras empreendedoras sobre como montar e fomentar o próprio negócio, oferecendo consultoria, coaching e cursos, e também respeitando a necessidade dessas mulheres de dedicar uma grande quantidade de tempo à família.

— É muito importante que as funções não se misturem o tempo todo! Deve haver um momento de trabalhar, assim como deve haver o momento de deixar o trabalho e se dedicar aos filhos. A vantagem de ser empreendedora é justamente estipular seus próprios horários e caminhar no seu próprio ritmo, diferente de um trabalho de carteira assinada.

As especialistas afirmam que é importante haver um planejamento antes de começar, mesmo que as metas e o caminho para alcançá-las mude depois. Mas nem todos os negócios precisam de um grande investimento para começar.

— Existem negócios que você pode começar com quase zero de investimento inicial. É claro que mesmo nesses uma reserva financeira permite que o começo seja mais tranquilo e dá certa segurança para a empreendedora durante os primeiros meses, até que o negócio comece a girar de fato. Quem tem uma reserva pode também começar delegando alguns serviços através de contratações, o que pode facilitar. Mas isso não é determinante, e conhecemos bastante gente que começou sem reserva nenhuma.
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