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Combate à atuação de flanelinhas divide opiniões nas ruas de Cuiabá

Da Redação - André Garcia Santana

Os 25 anos trabalhados como vigia de carros no centro de Cuiabá renderam ao flanelinha Edilson, 37, a confiança dos comerciantes, do padre, e dos freqüentadores das ruas que circundam a igreja Matriz do Senhor Bom Jesus. A atividade, que vem garantindo sustento a ele e à família, é desenvolvida de forma ilegal em vários pontos da cidade, e divide opiniões por envolver uma série de situações que colocam em risco a segurança do cidadão. Por esse motivo, na semana passada, a prefeitura realizou a 3ª operação de combate a atuação dos guardadores em Cuiabá.

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Pai de um garoto portador de deficiência, de 11 anos, e sem oportunidade para um emprego convencional, Edilson afirma que muitos flanelinhas são confundidos com “noiados” (usuários de droga), que também oferecem o serviço, sendo responsáveis por brigas e confusões na rua. Afirmação que está em concordância com um levantamento da Secretaria de Ordem Pública e Assistência Social e Desenvolvimento Humano, que apontou que a maioria dos flanelinhas, 80%, são dependentes químicos.

O secretário-adjunto de Ordem Pública, Zilmar Dias da Silva, disse que o objetivo da ação é proteger a população e orientou que motoristas não aceitem a prestação do serviço, já que este não oferece nenhuma segurança ou amparo efetivos. “Nós temos casos de extorsão, de ameaça à integridade. E dentro dessa realidade, recebemos a determinação das ações para combater esta prática e não deixar que se prolifere esse tipo de irregularidade.”

“Pode perguntar pra qualquer um aqui, nunca tive problema com ninguém. Mas tem uma molecada, principalmente na Avenida do CPA, que são noiados e arrumam confusão, o que acaba complicando pra todo mundo. Quando aparece algum desses por aqui eu aviso, digo que isso é meu ganha pão, peço para não atrapalharem”, disse o flanelinha.

Pelas proximidades, a maioria dos lojistas e condutores confirma sua versão, negando eventuais atritos com os guardadores. Ao buscar por uma vaga, uma delas aproveitou para elogiar o trabalho de Edilson e afirmou que, embora algumas pessoas tenham medo, eles se sentem mais seguros com atuação na região, uma vez que a prefeitura tem diminuído o número de estacionamentos no centro. “É melhor com eles aqui, porque não tem outro lugar pra parar, e tenho certeza que meu carro será vigiado.”

As exceções nestes relatos são o comerciante M.G.O, que alega ter discutido com um dos guardadores ao ser intimidado por ele, e o segurança do calçadão Antônio Maria, que diz já ter presenciado situações de conflito com a polícia.
 
“Pra mim isso é um trabalho digno, mas pra mídia e para polícia isso aqui não é serviço e todo mundo aqui é marginal. Por isso tem gente que maltrata e xinga. Eu não sou fugitivo, não brigo com ninguém. Esse é meu pão de cada dia.”

O exercício ilegal da profissão de guardador de carro é crime e está previsto no artigo 47 Polícia Civil da Lei das Contravenções Penais. Para exercer a função de guardador de carro é preciso ter registro no Ministério do Trabalho. “Se o cidadão  não cede a eles, também nos auxiliam na fiscalização. Se não alimentamos a prática, eles não terão o porque continuar. Não queremos  tirar o sustento de ninguém. Pelo contrário, estamos dentro da lei e o nosso objetivo é auxiliar a todos”, disse o secretário.

Operação

Na última segunda-feira, 22, durante operação na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (do CPA), 16 guardadores foram autuados e receberam orientações quanto ao processo da ação. Desses, dois foram encaminhados à Delegacia Judiciária Civil por serem reincidentes. Eles prestaram esclarecimentos e, por serem dependentes alcoólicos e químicos, vão receber auxilio tanto para tratamento quanto para se colocarem no mercado de trabalho.

“A ação não é somente para notificarmos que a prática é ilegal. Até porque eles têm ciência disso. Mas oferecemos ajuda, encaminhamos para tratamento, apontamos outros caminhos  de trabalho. Fazemos tudo que está sob nossas possibilidades. É importante quando elaboramos essas ações, pensarmos também no que gera esse tipo de situação e como podemos combatê-las. Não adianta só notificar, prender. Temos que ir na raiz do problema para obtermos resultados positivos,” finalizou Zilmar. 
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