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Voluntárias criam Ong Lírios e ajudam a resgatar autoestima de mulheres vítimas de violência doméstica; Saiba como ajudar!

Da Redação - Patrícia Neves

“A partir do momento em que você deixa o outro tomar conta da sua vida, você deixa de se identificar com um ser humano. Eu me olhava no espelho e [me] via como um lixo. Um nada. Eu sentia nojo de mim. Não estou curada, mas hoje eu reconheço o processo de dependência emocional que vivi. Não me sinto mais culpada”. O depoimento é de Sandra, de 50 anos. Ela é uma das assistidas da Ong Lírios (Liga de Reestruturação das Irmãs Ofendidas no Seu Sentimento), instalada na cidade de Várzea Grande, que trabalha com vítimas de violência doméstica.
 
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Ao Olhar Direto, a mulher relatou que ao longo de sete anos permaneceu em um relacionamento abusivo, que lhe deixou como sequelas, um marca passo deslocado, um maxilar trincado, um dedo e duas costelas quebradas. “Meu desequilíbrio emocional era tamanho que eu cheguei a me mutilar. Por inúmeras vezes eu ouvi que era uma velha cancerosa".
 
Há menos de 60 dias, Sandra passou a frequentar sessões de terapias gratuitas e se classifica com uma nova mulher. “Eu tenho ciência de que a dependência dele era química. A minha emocional. É preciso coragem para encarar um tratamento, a exposição a traumas, medos, assumir erros e admitir que você possa se olhar novamente no espelho”.
 
A organização sem fins lucrativos que têm auxiliado Sandra na reconstrução de sua autoestima e na reestruturação de sua vida foi fundada em dezembro de 2013, mas passou a ter uma sede própria somente em agosto de 2014, com a cedência de um terreno pelo presidente do Grupo  Espírita Fraternidade, Carlos Laterza. Uma doação anônima no valor de R$ 4 mil garantiu o funcionamento e adequação do espaço.
 
A ideia de implantação de uma organização nasceu após a realização de uma audiência pública na cidade de Várzea Grande em 2013. Dados divulgados à época relatavam sobre 133 casos de estupros e deixou em alerta um grupo de mulheres engajadas pelo bem social. Uma delas era Elisangela Silva, uma trabalhadora do Grupo Fraternidade, que ajudou na mobilização de voluntários.
 
Com quase uma década de trabalho no combate à violência doméstica, a defensora pública Tânia Regina de Mattos, uma das voluntárias na organização, explica que duas vezes por semana (às terças e quintas) são disponibilizados atendimentos com as psicólogas Francisca Marchetto e Josiane Marchetto.  “Aqui não existe nenhum distinção a credo, religião. Não existe nenhum preconceito ou discriminação”, afirma ela.
 
Sobre o perfil das atendidas, ela conta que “as mulheres chegam aqui muito fragilizadas, dependente emocionalmente, sem autoestima. Praticamente destruídas. E se não fizermos um trabalho, elas poderão voltar a serem  nossas clientes”, pontua Tânia, relembrando que existem graves deficiências no sistema público que não garantem um rede de serviços a essas vítimas.
 
A defensora explica que além do suporte no aspecto emocional, existe ainda a preocupação quanto à promoção de atividades que  possibilitem retorno financeiros às vítimas de violência. Tânia relata que em julho do ano passado cursos foram promovidos em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seccional de Várzea Grande.
 

Nessas ações, as participantes aprenderam sobre noções básicas de empreendedorismo. Foram ofertadas aulas téoricas e ainda nove práticas. “Elas puderam aprender a fazer mandalas, caixinhas de presente com materiais recicláveis, além de curso de doces, salgados”. Todo material produzido é disponibilizado na sede da ong para revenda.
 
Reflexão:
 
De acordo com Tânia, o trabalho para quebrar um ciclo de violência que vem sendo alimentado ao longo dos anos requer uma profunda análise de homens e mulheres. “Boa parte da sociedade concorda com um tratamento agressivo quando uma mulher se dispõem a usar um decote mais generoso”.
 
Ela pondera que os agressores merecem não somente cadeia e, sim, tratamento que possibilitem a desconstrução desses valores. “ Eu percebo que apenas a pena não é cura para um crime”.

Caso de repercussão pode ajudar no encorajamento 

Para ela, o caso da médica Camila Tagliari, de 29 anos, que foi vítima de uma sessão de espancamento do marido, o empresário Marcos César Martins Campos, de 34 anos, no último dia 27 de março  possibilita que outras mulheres se fortaleçam e denunciem casos de abusos. A médica que sofreu fraturas no nariz e rompimento do tímpano denunciou o caso a Polícia Militar. O empresário foi preso e colocado em liberdade após audiência de custódia.

Para ajudar:
 
Apesar da boa vontade, a Lírios ainda enfrenta barreiras. Como é uma entidade constituída por voluntárias, as doações são muito bem vindas. Quem puder ajudar pode entrar em contato por meio do telefone: 9233-5440.  Ainda há possibilidade de ser um colaborador pode depositar a quantia mínima de R$ 10, que pode ser depositada em conta corrente: 65245-8, agência 2764-2 do Banco do Brasil (CNPJ:20.399.344/0001-22).
 
Na sede da organização para ajudar nas despesas e subsidiar cursos funciona um bazar com roupas, sapatos, bijus, artesanatos. Até  mesmo um vestido de noiva está à venda. A visitação pode ser feita todas às terças e quintas, no período da manhã. A Lírios está instalada na rua da Fraternidade, número 01, no bairro Jardim Imperador II, em Várzea Grande. 

 Hoje, a Ong conta com um total de 24 colaboradores mensais. 
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