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Protecionismo não produz ganhadores, dizem economistas

G1

A adoção de medidas protecionistas em um país acaba por prejudicar tanto a população quanto todas as demais nações que fazem negócios com esse país, na opinião de economistas ouvidos pelo G1.

Segundo eles, o protecionismo – um dos temas mais discutidos no início de 2009 – pode até trazer benefícios temporários para alguns setores da economia, mas com o tempo acaba gerando preços altos e produtos de qualidade inferior.

“A curto prazo, o protecionismo gera alguns benefícios para os setores protegidos, que vão levar vantagem sobre a concorrência externa”, explica Saulo Nogueira, pesquisador do Instituto de Estudo do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).

“Mas, com o passar do tempo, os preços ficam mais caros com a falta de matéria-prima externa. Perdem-se os incertivos para a modernização, e os produtos perdem qualidade frente ao exterior. Se o país abrir as fronteiras novamente, as empresas estarão despreparadas para a concorrência, o que pode fazer com que elas fechem as portas”, conclui.

Perda geral

O mesmo raciocínio é válido quando se trata do comércio entre países. “O protecionismo se torna mais perigoso na crise porque, se todos os países se fecharem ao comércio, ninguém vai mais fazer negócio com ninguém. Isso vai prejudicar inicialmente os países que são grandes exportadores, e depois todos os outros. Nesse cenário, todos perdem”, analisa Mário Marconini, diretor de Negociações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

“O perigo desse tipo de medida (protecionista) é o retrocesso. Na medida em que cada país começa a se fechar, você volta para trás em questão de desenvolvimento, em tecnologia, em novos produtos. O comércio internacional é importante, pois transfere ganhos de um país para o outro, socializa os avanços. Quando você se fecha, você perde esse contato e esses benefícios”, reforça Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.

Precedente perigoso

Os economistas usam o exmplo da Grande Depressão de 1929 para ilustrar os perigos do protecionismo. Na ocasião, quando o mercado mundial estava em turbulência, os EUA elevaram suas barreiras, imaginando que isso daria uma certa segurança ao país.

No entanto, a medida piorou toda a situação, porque não só dificultou o acesso a uma série de produtos baratos que vinham do exterior como também colocou os exportadores em dificuldades, porque outros países seguiram o exemplo e também se protegeram. Isso transformou a então recessão em uma grande depressão.

Para Roberto Teixeira da Costa, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), nem mesmo a antiga noção de que a protecionismo ajudava os exportadores e prejudicava os importadores de um país é mais válida.

“Hoje as coisas são muito mais complexas, essa distinção ficou mais complicada. Mesmo os exportadores muitas vezes precisam de matérias-primas importadas para sua produção. É muito difícil fazer uma distinção entre ‘ganhadores’ e ‘perdedores’, acaba prejudicando a todos”, afirma.

Barreiras aos importados

A definição clássica do protecionismo é a criação de barreiras contra a entrada de produtos estrangeiros no mercado de um determinado país através de diversas medidas, que incluem elevação de impostos para importados e estabelecimento de cotas para alguns produtos e medidas fitossanitárias.

Também fazem parte desse “arsenal” de medidas a exigência de certificados de vacinação para a carne ou do não-uso de fertilizantes transgênicos em produtos agrícolas. “A idéia do protecionismo é dar ao produtor interno uma vantagem frente aos importados”, explica Leite, da Trevisan.

De acordo com os economistas, praticamente todos os países têm um certo grau de protecionismo, mas alguns de forma mais disfarçada que os outros. EUA e União Européia, por exemplo sempre tiveram a retórica de defender o comércio livre, mas adotam medidas que protegem seu comércio das importações.

No Brasil, os setores têxteis e de calçados são os que mais buscam a proteção governamental contra a concorrência chinesa. “O problema é quando o grau desse protecionismo extrapola e atinge níveis muito elevados”, analisa Costa, do Cebri.

Vantagem nacional

Um exemplo recente de medida protecionista é a cláusula “Buy American”, incluída no plano de reativação econômica proposto nos EUA pelo presidente Barack Obama. Esse medida estabelece vantagens para empresas americanas sobre as estrangeiras na compra de minério de ferro e aço para uso em projetos de infraestrutura no país.

Já no Brasil, em fevereiro, o governo instituiu a obrigatoriedade de licenciamento prévio de importações, uma atitude considerada protecionista. Após uma série de questionamentos do empresariado, a medida foi cancelada dois dias depois de adotada.

Outro tipo de protecionismo é o financiamento por um governo a seus produtores locais, de modo que eles tenham vantagem sobre os concorrentes estrangeiros na disputa pelos mercados.

Nos EUA, por exemplo, os produtores de milho têm acesso um vasto subsídio por parte do governo federal, em proporção superior aos de outros países. “Com esse financiamento, fica mais fácil para o agricultor americano vender seu produto do que para os brasileiros”, ressalta Nogueira, do Icone.

Força na crise

De acordo com os analistas, o tema protecionismo tende a ganhar força em momentos de crise como a atual. A ideia é que, com as dificuldades, produtores e trabalhadores domésticos aumentam sua pressão sobre o governo por medidas que os protejam.

“Quando a demanda está aquecida, tem espaço para todo mundo. Quando ela cai, a concorrência aumenta e eles começam a fazer pressão, para não perderem vendas e empregos no país”, diz Antônio Correia de Lacerda, professor de economia da PUC-SP.

Esse tipo de apelo costuma encontrar ressonância em políticos ávidos por votos, segundo Nogueira. "Na crise, todos os políticos usam o protecionismo como uma plataforma para mostrar que estão preocupados com o emprego e a a economia nacionais. A Índia, por exemplo, elevou as tarifas para soja com o argumento de defender seus agricultores nacionais. Com certeza o povo vai gostar, vai apoiar o político que propôs a medida”, afirma ele.

Alerta

A atual crise financeira internacional também vê o surgimento de novas espécies de protecionismo com a crise mundial, como o protecionismo do crédito. Segundo Marconini, da Fiesp, os bancos nacionais de financiamento ao investimento são questionados ao fazer seus empréstimos de crédito - cada vez mais escassos – para empresas estrangeiras.

Outra manifestação do protecionismo é o que acontece contra imigrantes, em uma espécie de nacionalismo trabalhista. Em janeiro, na Inglaterra, uma série de protestos contra o desemprego exibiam faixas exigindo os “trabalhadores britânicos em primeiro lugar”.

“Quando tudo vai bem, os países buscam os estrangeiros para fazer os serviços que eles não querem. Quando começam a faltar vagas, há protestos contra o que chamam de ‘roubo’ dos empregos nacionais. Tenho horror a isso. Esse tipo de apelo ao nacionalismo deu origem ao nazismo na Alemanha”, alerta Costa.

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