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Temer traz de volta velha guarda da política

O Globo

BRASÍLIA — Núcleo duro do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), o trio peemedebista formado pelos ex-ministros Eliseu Padilha (RS), Moreira Franco (RJ) e Geddel Vieira Lima (BA) costuma se movimentar de forma silenciosa pelo tabuleiro político do país. Considerados articuladores de bastidores, já estavam “aposentados” da política eleitoral, sem ocupar cargos eletivos há anos — Padilha e Vieira Lima deixaram a Câmara dos Deputados em 2010, e Moreira Franco saiu do Parlamento em 2006.

Até que se desenhou, com a evolução do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, a perspectiva de chegarem ao poder junto com o vice-presidente, o que rendeu ao trio assentos praticamente certos nos cargos de confiança mais próximos de Temer. Mas, antes mesmo de chegarem ao Planalto, os três já viraram também alvo de críticas de parte do PMDB, sobretudo no Senado, que chama a provável composição de “ministério dos amigos”.

Em entrevista ao GLOBO na última terça-feira, Temer admitiu que, pelo estilo trabalhador e organizado, Eliseu Padilha é cotado para ocupar a Casa Civil, uma das pastas mais importantes da Esplanada.

— O Padilha trabalha muito e é bem organizado. O governo precisa de um perfil desses para a Casa Civil. Os ministros José Dirceu e Palocci, para citar apenas dois exemplos, não deram certo porque tentaram politizar o cargo. O estilo do Padilha é parecido com o de Pedro Parente, no governo Fernando Henrique — disse o vice.

No mesmo encontro, Temer afirmou cogitar o nome de Geddel Vieira Lima para fazer a articulação política em um eventual governo seu:

— Ainda não decidi quem seria, caso eu assuma mesmo a Presidência. Mas o Geddel, que se dá bem com todo mundo no Congresso, poderia exercer esse papel. Mas é algo que não está decidido ainda.

VITÓRIAS NOS ANOS 1980

Dos fiéis escudeiros do vice, Moreira foi quem chegou ao cargo executivo mais alto na carreira política: foi governador do Rio, eleito em 1986, há 30 anos. Antigo defensor da tese de que o PMDB deveria ter candidatura própria a presidente, em 2006 ele anunciou que não concorreria mais a uma vaga na Câmara dos Deputados. Uma das justificativas, na época, foi a insatisfação com o fato de o partido insistir em abrir mão de disputar a Presidência, garantindo a governabilidade de quem estivesse no poder. Em 2004, Moreira desistiu de participar do segundo turno da disputa pela prefeitura de Niterói (ficara em segundo lugar no primeiro), ao perceber que seria derrotado pelo petista Godofredo Pinto, que foi reeleito.

A única eleição de Padilha para o Executivo foi para a prefeitura da pequena cidade de Tramandaí (RS), que governou de 1989 a 1992. Hábil mapeador de votos no Congresso e nas ruas, desistiu de concorrer a uma vaga para o Senado, em 2010, após fazer as contas e ver, na ponta do lápis, que provavelmente seria derrotado.

Com bom trânsito entre os parlamentares, Vieira Lima, deputado federal por cinco mandatos consecutivos, conseguiu emplacar o irmão, Lúcio Vieira Lima, para uma vaga na Câmara com votação expressiva em 2010 (ele foi reeleito em 2014). No mesmo ano, Geddel foi candidato ao governo da Bahia, mas perdeu para o hoje ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência da República). Em 2014, ele ainda tentou uma vaga para o Senado, outra vez sem sucesso.

O próprio Temer, que foi deputado até 2010 e três vezes presidente da Câmara, teve vitórias eleitorais no limite. Em 2006, conseguiu uma vaga após ser puxado por deputados de sua coligação. Apesar de ter recebido apenas 99 mil votos naquele ano, manteve-se na presidência nacional do PMDB e, assim, conseguiu em 2010 se tornar parceiro de chapa da então candidata do PT, Dilma Rousseff. Um dos motivos para ele ter buscado o posto de vice teria sido o temor de não se reeleger deputado.

Os principais aliados de Temer estiveram na Esplanada dos Ministérios dos últimos três presidentes: Padilha foi ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e ocupou a Secretaria de Aviação Civil (SAC) no governo Dilma; Geddel comandou a Integração Nacional no segundo governo Lula, e Moreira esteve à frente de dois ministérios com Dilma, a Secretaria de Assuntos Estratégicos e a SAC, na qual foi sucedido por Padilha.

Aliado de longa data, o grupo já se uniu no passado para ajudar, por exemplo, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, que agora defende a participação do PSDB num eventual governo Temer. Em março de 1998, em convenção nacional, o PMDB decidiu, com forte trabalho do trio, apoiar a reeleição do tucano em vez de lançar candidato próprio, que seria o ex-presidente Itamar Franco. Naquele ano, Temer era presidente da Câmara; Geddel, líder do PMDB na Casa; e Padilha, ministro dos Transportes de FH.

‘MINISTÉRIOS DE AMIGOS’ E CIÚME

Dirigentes do PMDB destacam virtudes dos aliados do vice, mas, enciumados, atentam para a imagem frágil que o peemedebista poderá passar ao empregá-los em cargos-chave.

— Obviamente que, se o Michel não fizer um ministério forte em outros nomes, vai ser muito criticado por colocar na Esplanada seus aliados. Ele não pode deixar virar o ministério dos amigos, e para isso tem que fazer grandes nomeações que diluam essas escolhas. É como se diz: os amigos, por mais capazes que sejam, são sempre um problema — resumiu um cacique do PMDB.

A crítica sobre empregar amigos, segundo relatos de peemedebistas, já chegou aos ouvidos de Temer. O deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), coordenador da bancada mineira do partido na Câmara, teria dito ao vice considerar “um absurdo” ele dar cargos importantes aos aliados. Ele chegou até a tentar, sem sucesso, apoios no PMDB para protestar publicamente contra o desejo de Temer.

— O Fabinho foi ao Michel e falou com ele, disse que era um absurdo ele botar os amigos em ministérios importantes, que nem passaria na porta do Palácio. E ainda veio tentar que a gente boicotasse isso, mas o governo é do Michel, ele faz o que quiser. A gente só opina e vai ficar fora disso — disse um dirigente do partido.

Em dezembro do ano passado, com a relação já esgarçada com a presidente Dilma, veio a público uma carta enviada pelo vice à petista, na qual ele faz reclamações de que teria sido desautorizado e tratado como um “vice decorativo”. No documento, revelado pelo GLOBO, Michel Temer enumerou insatisfações e mencionou dois de seus mais próximos aliados: Moreira e Padilha.

Uma das reclamações do vice foi ter sido desautorizado por Dilma na nomeação de Moreira para a Secretaria de Aviação Civil, indicação pessoal dele. Temer diz, na carta, que o hoje presidente da Fundação Ulysses Guimarães fez “belíssimo trabalho” à frente da pasta. Moreira foi demitido pela presidente após dar declarações defendendo mudanças na cúpula da Petrobras.

“A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho, elogiado durante a Copa. Sabia que ele era indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me", escreveu o vice-presidente.

Ainda na carta, Temer explica o pedido de demissão de Padilha, último dos seus aliados a ocupar a Aviação Civil:

“No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas ‘desfeitas’, culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando, sem aviso prévio, nome com perfil técnico que ele indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta ‘conspiração’”.
 
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