Imprimir

Notícias / Mundo

Massacre em Orlando: O que se sabe até agora

BBC Brasil

O dia amanheceu trágico no domingo nos Estados Unidos com a notícia de que um homem havia aberto fogo contra centenas de pessoas em uma boate gay na cidade de Orlando, na Flórida.

Inicialmente, foram anunciadas 20 mortes, mas as autoridades já confirmaram que pelo menos 50 pessoas morreram no tiroteio, que ficou marcado por ter sido o mais fatal da história recente dos Estados Unidos.

A polícia também confirmou que o autor dos disparos, identificado como Omar Mateen, de 29 anos, foi morto em uma troca de tiros também na madrugada.

Veja o que se sabe até agora sobre o ataque que chocou o mundo neste fim de semana:

- Pelo menos 50 mortos

As informações dão conta de que havia cerca de 320 pessoas dentro da boate Pulse, uma das maiores de Orlando, no momento do tiroteio. Na hora em que o homem começou os disparos, muitos correram para o local onde estava o DJ para se proteger.

Segundo a polícia de Orlando, há pelo menos 50 vítimas fatais do ataque. Outras 53 pessoas ficaram feridas - algumas em estado grave.

As autoridades até agora só identificaram 15 mortos. A Pulse realizava uma noite de tema latino, mas por enquanto ainda não há informações de brasileiros que poderiam ter sido mortos ou feridos no ataque.

O Itamaraty divulgou uma nota em solidariedade às vítimas e disse que está em contato com as autoridades locais para trazer mais informações.

"O governo brasileiro recebeu com profunda consternação e indignação a notícia do ataque à casa noturna em Orlando, Flórida (...). O Consulado-Geral do Brasil em Miami está em estreito contato com as autoridades locais e com a comunidade brasileira em Orlando. Até o momento, não há notícia de brasileiros entre as pessoas vitimadas pelo ataque. (...) O governo brasileiro reafirma seu mais firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo. Nenhuma motivação, nenhum argumento justifica o recurso a semelhante barbárie assassina", diz a nota.

- Autor tinha origem afegã e trabalhava em empresa de segurança

Identificado pelas autoridades como Omar Mateen, o autor dos disparos nasceu nos Estados Unidos, mas é filho de pais afegãos. Ele tinha 29 anos e foi morto em troca de tiros com a polícia após o ataque na boate.

Na noite deste domingo, houve também a confirmação de que Mateen trabalhava como guarda na empresa de segurança chamada G4S e, por isso, tinha porte de armas.

"Nós podemos confirmar que Omar Mateen é empregado da G4S desde 10 de setembro de 2007", afirmou a empresa em nota. "Nós estamos cooperando com todas as autoridades nessa investigação."

O pai de Mateen, Seddique, disse não entender por que o filho cometeu a atrocidade, mas disse que ele tinha expressado irritação ao ver um casal masculino se beijando em Miami. Em um comunicado oficial, ele disse que Omar era "um bom menino".

"Não sei o que causou isso. Nunca percebi que ele (Mateem) tinha ódio no coração. Estou arrasado. Queremos pedir desculpas pelo incidente. Estamos chocados, assim como todo o país".

Sitora Yusufiy, ex-mulher do atirador, contou ter sido vítima de violência doméstica nos quatro meses em que viveu com Mateem, em 2009. As agressões ocorriam por motivos triviais como não lavar a roupa.

"Ele era mentalmente instável", disse.

- Possível conexão com o Estado Islâmico

O FBI está liderando a investigação do caso como um ato de terrorismo. Ainda não se sabe qual teria sido a motivação do atirador. O grupo extremista muçulmano Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque através das mídias sociais, mas a ligação de Mateen com o grupo ainda não foi confirmada. Alguns veículos de mídia americanos disseram, porém, que Mateem teria declarado lealdade ao EI.

Segundo o FBI, as autoridades americanas entrevistaram o autor do ataque em duas oportunidades sobre possíveis ligações com o extremismo, em 2013 e 2014. No entanto, não foram encontradas informações que o comprometessem.

- Tiroteio mais fatal da história americana

Mortes causadas por atiradores não são uma raridade na história americana. Segundo estatísticas da ONG Mass Shooting Tracker, especializada em contabilizar ocorrências, apenas em 2015 houve 372 dos chamados tiroteios em massa - incidentes em que pelo menos quatro pessoas morrem ou são feridas - nos EUA. Eles resultaram em 475 mortes e 1.870 feridos. A frequência com que esses tiroteios ocorrem é, inclusive, tema de grande debate sobre a legislação de porte de armas nos Estados Unidos.

Em 2016, já houve 137 tiroteios em massa no país, incluindo o de Orlando, com 213 mortos e 548 feridos.

No entanto, o tiroteio na boate em Orlando chamou a atenção por ter sido o mais fatal que já aconteceu em território americano desde. Com ao menos 50 mortes confirmadas, o ataque deste domingo supera o massacre de 2007 na universidade Virginia Tech, quando um estudante abriu fogo no campus matando 32 pessoas.

- Obama faz apelo por legislação sobre armas

Mais uma vez, o presidente Barack Obama precisou vir a público manifestar suas condolências sobre um massacre causado por um atirador. O pronunciamento de Obama foi o 13º do tipo que teve de fazer em quase oito anos de governo. O presidente aproveitou a oportunidade para novamente falar no que já chamou de "grande frustração" de seu período na Presidência: a legislação sobre armas.

"O dia de hoje marca o tiroteio mais mortal que já tivemos na história dos Estados Unidos. Isso é também um lembrete sobre como é fácil para alguém colocar as mãos em uma arma e atirar em pessoas em uma escola, uma igreja, um cinema ou em uma boate", afirmou Obama.

"Temos que decidir se esse é o país onde queremos viver. E a atitude de não fazer nada é uma decisão também", completou.

Houve 13 massacres nos oito anos de administração Obama

- Doação de Sangue para vítimas

O ataque de domingo deixou pelo menos 53 feridos, e centros de doação de sangue em Orlando usaram as redes sociais para pedir doações urgentes de sangue.

No entanto, a situação reacendeu uma polêmica nos Estados Unidos, cuja legislação tem restrições à doação de sangue por homens homossexuais e bissexuais. No final do ano passado, a FDA (Food and Drug Administration), a Anvisa americana, derrubou a proibição vitalícia.

Mas homens que tenham tido relações sexuais com outro homem nos 12 meses anteriores à coleta continuam proibidos de doar.

Fila para doar sangue em Orlando

Mais cedo, rumores nas redes sociais indicaram que a cidade de Orlando havia suspendido temporariamente qualquer veto à doação de sangue. No Twitter, porém, autoridades de saúde afirmaram que os boatos eram falsos.

No domingo, um dos principais centros de doação de sangue de Orlando, o OneBlood, disse que a resposta da população havia sido tão imediata que os médicos já estavam pedindo a doadores para voltarem ao longo da semana, porque conseguiram preencher os estoques.

- Comoção mundial

O ataque nos Estados Unidos gerou comoção mundial e muitos líderes internacionais se solidarizaram com as vítimas.

O presidente francês, François Hollande, disse que ficou "horrorizado" com a notícia e que os Estados Unidos poderiam contar com todo o apoio da França.

No Canadá, o primeiro-ministro, Justin Trudeau, afirmou que está "profundamente chocado e abalado" pelo que aconteceu.

"Nós prestamos solidariedade a Orlando e a toda a comunidade LGBT. Estamos em luto com nossos amigos dos Estados Unidos e da Flórida e oferecemos toda a ajuda que estiver ao nosso alcance."

No Twitter, a hashtag #LoveIsLove (Amor é Amor) figurou o dia todo como uma das mais compartilhadas mundialmente na rede social em apoio às vítimas do ataque.

Quem também se manifestou sobre o tiroteio foram os pré-candidatos à Presidência, Hillary Clinton, dos Democratas, e Donald Trump, dos Republicanos.

Enquanto Trump reiterou sua política de proibição à imigração islâmica, Clinton manifestou seu apoio à comunidade LGBT.

"O que aconteceu em Orlando é apenas o começo. Nossa liderança é fraca e ineficiente. Eu sugeri e pedi a proibição. Precisamos ser duros", disse Trump.

"Para a comunidade LGBT: por favor, sei que você tem milhões de aliados em todo o nosso país. Eu sou um deles. Continuaremos lutando por seu direito de viver livremente, abertamente e sem medo. O ódio não tem absolutamente nenhum lugar na América", disse Clinton, que assim como Obama, chamou o tiroteio de "ato de terror" e endossou o discurso dele sobre a questão das armas.

"Finalmente, é preciso manter as armas, como a que foi usada na noite passada, fora das mãos de terroristas ou outros criminosos violentos. Este é o tiroteio mais fatal da história dos Estados Unidos e nos lembra mais uma vez que as armas e a guerra não têm lugar nas nossas ruas."
Imprimir