Imprimir

Notícias / Esportes

Governo intervém, e CBF aceita estudar calendário

Folha Online

O governo federal interveio no futebol brasileiro, e a CBF, pela primeira vez, aceitou sua atuação. De consequência, haverá um estudo para alterar o calendário nacional, adaptando-o ao europeu. E analisa-se possibilidade de reestruturação financeira dos clubes.

Foram esses os temas discutidos pelo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em reunião em Brasília marcada pelo governo para tentar conter o êxodo de atletas do país.

A partir daí, a confederação e o Ministério do Esporte farão diagnóstico sobre o futebol nacional. É inédito que a entidade aceite participação da União na discussão do calendário. Sempre rejeitou essa ação baseada no estatuto da Fifa, que prevê a não intervenção de governos.

Segundo a CBF, a mudança de atitude deve-se à parceria da entidade com o governo Lula.

Parceiro, o presidente não mencionou na reunião a afirmação de Teixeira de que haverá dinheiro público na reforma de estádios da Copa-2014, em mudança de discurso. Estados vão botar dinheiro e é possível uma linha de financiamento do BNDES para as obras. O Mundial só foi discutido em rápido diálogo entre o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., e Lula.

O tema central foi o êxodo dos jogadores brasileiros para o exterior. Foram identificados fatores para ocasionar essas saídas: o calendário, a atuação de empresários e a fragilidade financeira dos clubes. Com a temporada atual, os jogadores saem do país, principalmente, no meio do Brasileiro, quando a Europa está contratando.

A CBF ficou de estudar à adaptação ao calendário europeu, mas não se comprometeu a mudá-lo. Irá diagnosticar se é necessária uma alteração após o estudo, que deve ficar pronto em um período de 30 a 60 dias. Se houver a mudança, a temporada brasileira deve iniciar em agosto e terminar em maio ou junho do ano seguinte.

"É possível [mudar o calendário], mas é preciso discussão porque isso envolve patrocinadores, vários clubes com interesses diferentes. Não tem uma proposta concreta e fechada", disse Silva Jr., que participou da reunião com Lula.

Há uma resistência clara: a TV Globo, dona dos direitos do Brasileiro e de todos os campeonatos importantes do país. Seus executivos sempre se manifestaram contra a mudança por representar prejuízos financeiros para a emissora.

Questionada pela reportagem, a Globo informou que "irá analisar as várias propostas sobre modificações no calendário".

Há um contrato em vigor entre o Clube dos 13 e a Globo para o Brasileiro até 2011, com previsão da temporada iniciando em janeiro. Ao ser questionado se a mudança poderia valer em 2011, o ministro admitiu que já há contratos assinados e que, portanto, a alteração exigirá um período de transição.

O C13 informou que terá de ouvir seus filiados para determinar uma posição. Boa parte é a favor da mudança.

Outra intervenção do governo foi em relação à realização da Copa América no Brasil em 2015, como está marcado pela Conmebol. Atendendo pedido da presidente chilena, Michelle Bachelet, Lula reivindicou que Teixeira cedesse a competição ao Chile e que o Brasil fosse a sede em 2019.

"A CBF aceitou e vai agora conversar com organismos internacionais que cuidam desse assunto e com a Conmebol. É uma forma de o presidente [Lula] atender a um pedido de um país vizinho", afirmou Silva Jr.. Ou seja, a mudança ainda depende de outros organismos. A CBF não se pronunciou.

Estádios

"Fizemos recomendação explícita para que as sedes fizessem revisão dos projetos, buscando fazê-los mais baratos", reafirmou o ministro Orlando Silva Jr. ao informar que os 12 estádios da Copa-2014 têm custo de R$ 5 bilhões.

Como o BNDES pode financiar essas obras, o ministro alterou seu discurso. À Folha de S.Paulo, em julho, dissera que não haveria dinheiro da União nas arenas. Agora, afirma que "não vai ter um centavo do orçamento do governo (...). O que existe é a hipótese de financiamento por empresas financeiras públicas".
Imprimir