“Nunca mais quero retornar a Mato Grosso”. A afirmação é da contadora Monique Cecília Martins Santin, de 24 anos, ex-esposa do administrador de empresas, Hélio Cardoso, processado pelo Ministério Público Estadual por violência doméstica e tortura. Hélio é filho de um dos sócios de um shopping center instalado no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá.
Leia Mais:
Defesa alega insanidade mental de filho de sócio de shopping acusado de torturar e manter esposa em cárcere
Ao longo de quatro anos de casamento, Monique contou ao
Olhar Direto ter sofrido severas agressões físicas e emocionais. Emocionada, ela relata que a cabeça era o alvo principal, "já´ que as marcas eram mais facilmente escondidas".
O caso ganhou repercussão depois que a irmã de Monique conseguiu uma decisão judicial para resgatar a garota em abril deste ano. Na época, uma ordem de prisão preventiva chegou a ser expedida contra Hélio, que conseguiu revogar o pedido. Hoje, ele aguarda determinação judicial para ser submetido à análise mental, que irá apontar se o mesmo tinha consciência dos atos praticados durante o período. Um dos subsídios empregados para a revogação da prisão trata-se do fato de que Hélio estava sendo submetido a tratamento psicológico.
“Eu tenho nojo dele. É um cara perverso, que planejou tudo... Hoje, quando eu falo do que eu vivi fico revoltada. É ridículo, no mínimo. O cara esta usando tornozeleira e eu fiquei com um botão do pânico. Ele está livre e eu presa. Sim, presa a traumas psicológicos. “Eu ainda não consigo sair de casa sozinha. A pressão psicológica é muito grande. Não fico em público sozinha”.
Monique deixou Mato Grosso e para cá ela diz que não pretende mais voltar. “Estou tentando seguir a minha vida, mas é muito difícil. Nossa Justiça é falha. Eu queira cadeia para ele, no mínimo”.
Ciente das críticas, dos comentários e dos questionamentos sobre os motivos de permanecer calada e casada com Hélio ao longo de quatro anos, ela é enfática ao afirmar que se casou apaixonada e com separação total de bens. Disse que acreditava, inicialmente, que deveria seguir algumas das imposições, por acreditar que seria o caminho adequado para manter uma relação. No entanto, as 'determinações' trasnformaram-se em assédio e agressões físicas diárias.
“Foi por amor. Há princípio você estranha, tenta justificar as crises de ciúmes. Depois, que ele passou a trancar as portas com três fechaduras, dormir com as chaves debaixo do travesseiro. Deixava o celular no carro eu vi que aquilo não podia ser mais normal. Meu pai ficou doente, foi para UTI e não sabia. Ele dizia que minha família não me amava, me obrigava a tirar fotos para o Facebook fazendo cara de feliz. Minha família não podia me visitar. Uma pessoa que era obrigada a vestir três números de roupas maior do que o normal para esconder o corpo. Que tinha de pedir perdão se eu saísse com ele e um estranho chegasse ao local. Não era normal. Eu não podia usar pijamas dentro do meu quarto. Um absurdo. Vivemos e um sociedade em que a mulher tem o direito de trabalhar, de seguir sua vida e ser reconhecida por suas conquistas. Eu sequer podia fazer minhas necessidades fisiológicas sozinhas”, relata.
Ela ainda completa: “eu sinto nojo por tudo o que vivi. Eu tenho nojo dele”. Tudo ainda é muito difícil, ainda me faz mal. Não acredito que ele seja louco. Agia, sim, movido pela perversidade. Ele tem uma vida normal e a minha?”, finaliza.
Além do empenho de sua família, para Monique, a atuação do Ministério Público Estadual {na pessoa da promotora Lindinalva Rodrigues} foi fundamental para garantir a reconstrução de sua vida Para ela, a exposição do caso pela imprensa também serve para auxiliar e encorajar vítimas a denunciar o que vivenciam no ambiente familiar.
Procurada, o advogado Anderson Nunes Figueiredo, que representa Hélio declarou que seu cliente não tem interesse em falar sobre o caso.
(Colaborou Wesley Santiago)