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Caravana transforma vida de moradores e poupa gasto de até R$ 6 mil com cirurgias

Da Redação - Jardel P. Arruda

“Ah! Agora vai dar até para fazer uma leitura boa!”, exclamou Wilson Estevan, um senhor de 64 anos que dez minutos antes reclamava que não conseguia mais fazer uma cerca de arame para suas plantações de feijão, milho e batata, com as quais se mantém. Nesse meio tempo, subiu em um “trailer” aonde funcionava uma sala de cirurgia itinerante para retirar sua catarata.

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A espera, no entanto, foi bem maior, na verdade. Foi há dez anos que Wilson começou a “enxergar nublado”. Contou que começou como se fosse uma neblina fraca que fazia embaçar tudo de leve. Com o tempo foi ficando mais forte e nos últimos tempos parecia uma fumaça “na frente das vistas”.

Morador de Vila Kuluene, um arraial localizado a 110 quilômetros da cidade de Canarana, as margens de um rio do mesmo nome, que cruza o parque indígena do Xingu, achava que estava longe demais para procurar um médico. E que custaria caro demais também. Ficou sabendo pela filha, que anda muita e está sempre na cidade, que teria atendimento e cirurgia de graça na cidade. Não perdeu a oportunidade.

Na quinta-feira (10), chegou cedo em Canarana e foi até o campo municipal de futebol, aonde acontecia a “Caravana da Transformação”, um programa do Governo do Estado para levar diversos serviços públicos ao interior, aonde o Estado tem dificuldade de chegar de maneira definitiva. Wilson ficou das 7h até às 12h esperando por uma consulta com o oftalmologista.

Na sexta-feira (11), chegou às 5h da manhã no lugar, mas já haviam outras pessoas esperando. Às 7h começaram os atendimentos e por volta das 9h30 ele era um dos próximos a serem atendidos. Ao lado dele, Lauriel Francisco, 59, também esperava para fazer a cirurgia. Servidor federal Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), um tipo bem diferente do agricultor familiar.

Lauriel já usava óculos e a catarata não estava tão avançada, mas uma cirurgia em aproximadamente dois anos seria inevitável, conforme constatação do médico que o atendeu na caravana. Além disso, reduziria muito os graus usados agora e seria a oportunidade de ter saúde sem precisar sair de Canarana.

“Eu sou servidor federal, eu tenho convenio de saúde. Mas aqui em Canarana não tem oftalmologista. Vem um de Água Boa (município vizinho), mas toda estrutura dele está na outra cidade. E para ir para Cuiabá custa caro. Mais o valor ainda da operação. Isso aqui foi muito bom”, ponderou.

Nas contas de Lauriel, passagem de ida e volta para Cuiabá, contando um acompanhante, custa quase mil reais. Na Capital, uma cirurgia para catarata varia em três mil e seis mil reais. Fora isso ainda teria a hospedagem e o custo da locomoção dentro da cidade. Em Canarana, depois da cirurgia poderia chegar em casa em menos de 15 minutos.

Depois das cirurgias, mantém-se o problema da falta de médicos no município. O Estado e o Município não conseguem bancar o custo de um oftalmologista e outros especialistas no interior, nem de dar assistência continuada na atenção básica. Mesmo um acompanhamento pós-operatório acaba quando acaba a caravana. Contudo, eles estão feliz a voltar a enxergar. “Ô coisa boa isso!”, resumiu Waldir Brasil, outro dos atendidos.

Todos os cantos

A caravana não ficou imune a críticas, chamada de eleitoreira e também de paliativa por adversários políticos. Contudo, o governador Pedro Taques (PSDB) já deu sinais de manter o evento como um programa de governo. Já foram realizadas quatro edições da Caravana da Transformação em 2016 e o ano deve fechar com uma quinta realização. Em 2017 devem ser realizadas 11 caravanas.

“Algumas pessoas criticam as caravanas dizendo que é um paliativo. Não é um paliativo. Nós estamos construindo hospitais regionais para que nós tenhamos a solução de uma vez por todas. Mas será que os cidadãos podem ficar na escuridão por 10 anos? Por isso nós temos duas ações. Uma conjuntural e uma estrutural”, disse o governador, em Canarana, na sexta-feira (11).


A caravana conta com eventos culturais, oficinas diversas e serviços de parceiros, como o Miistério Público do Trabalho. No próximo ano, o Tribunal de Justiça deve se juntar ao grupo.

Sempre em cidades que não sejam pólos e com necessidade de receber atendimentos médicos. Ele já anunciou que pelo menos mais uma será realizada na região do Vale do Araguaia. E no comando das caravanas estão homens de confianças do governador. O coordenador geral da Caravana da Transformação é José Arlindo, que acompanha o governador Pedro Taque desde o Ministério Público Federal (MPF).

Ele explica que a ideia é tirar o Estado de dentro dos gabinetes e chegar à população. O programa leva vários serviços públicos, como confecção de identidade, carteira de trabalho, cortes de cabelos e oficinas diversas, além de atendimento odontológico e oftalmológico.

Como coordenador da saúde na Caravana está Werley Peres, médico com histórico sindical que acompanha Taques em sua trajetória política, tendo sido filiado ao PDT e tendo acompanhado a migração do governador ao PSDB. Ex-secretário de Saúde de Cuiabá e ex-adjunto da Saúde no Estado, foi chamado para chefiar a “ponta-de-lança” da Caravana da Transformação.


Werley Peres e o governador Pedro Taques

Uma das principais do médico preocupações foi mostrar o quanto os ambientes de atendimento de saúde são assépticos. A limpeza do evento foi uma das teclas batidas pelos críticos da caravana. Por um dia, na primeira edição, o atendimento médico chegou a ser interditado pela Justiça. Depois voltou ao normal.

Peres também ressaltou que o ganho da empresa 20/20 Serviços em Saúde, responsável pelas cirurgias e consultas, é todo baseado no volume de atendimentos. O pagamento é pela tabela SUS: consultas custam ao Estado R$ 10 e cirurgias R$ 640. Ao todo, em todas as edições da caravana, a empresa fez mais de cinco mil atendimentos. 
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