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"Caiu nos meus pés", lembra empresário sobre assassinato de sargento; vídeos apontam possíveis suspeitos

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

“Se eu tivesse matado um homem desse eu teria matado meu irmão”. A frase é de João Carlos de Godoy Machado, ainda exaltado com o que ocorreu nas últimas 24h. Na terça-feira (28), viu aquele que considera seu melhor amigo ser assassinado com um tiro na testa, o sargento aposentado da Polícia Militar, Carlos Venério da Silva. Venério passou a noite anterior na casa de Godoy e na terça-feira (28) fizeram um churrasco. O convite para ir a uma sorveteria no bairro São Matheus, na periferia de Várzea Grande, partiu de Godoy. Assustado com o amigo morto a seus pés, tomou-lhe a arma e fez três disparos contra os suspeitos, que conseguiram fugir. Sem sucesso, devolveu a arma para o bolso do sargento e tratou de entregar anéis e correntes de ouro para a esposa da vítima.

Foram todos para o Pronto-Socorro de Várzea Grande. Lá, a Polícia Militar conduziu Godoy à Polinter, onde sofreu um mal entendido, ainda havia contra ele um ordem de prisão em aberto por por porte ilegal de arma. Foi liberado somente à meia noite desta quarta-feira de cinzas (01). Segundo o filho da vítima, o advogado André Venero, Godoy não era tão amigo da vítima e teria tido participação no crime. Agora suspeito, o empresário tenta a todo custo limpar sua imagem. Ao Olhar Direto, dá sua versão dos fatos e diz lamentar que a família da vítima levante suspeitas contra ele. “Eu passar por mandante do crime do meu melhor amigo? Isso acaba com qualquer um...”.

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João Carlos de Godoy Machado é proprietário de uma loja de materiais para construção no bairro Pedra 90 e também vende madeiras em atacado, em Várzea Grande. Na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ele prestou depoimento por cerca de 1h na tarde desta quarta-feira (01). O caso será conduzido para a Delegacia de Roubos e Furtos de Várzea Grande (Derf-VG). Ao Olhar Direto, narrou como foram as últimas 24h do sargento Carlos Venério da Silva.

“Sargento Cobra é um amigo há mais de 20 anos, amigo mesmo, de verdade. Ele foi para a fazenda dele com a esposa dele, mas não conseguiram chegar, pois o rio estava por cima da ponte. Ele retornou para VG e foram para minha casa. Lá, ele me contou que tentou chegar até à sede de sua fazenda. Eu falei: ‘pousa aqui Sargento, em minha casa’. Ele encostou a caminhoneta e dormiu em minha casa. Tomamos um café à noite, pois ele me disse que não queria janta. De manhã ele me convidou para irmos para a fazenda dele. Como era feriado de terça-feira eu, minha mulher e meu filho de 04 anos embarcamos. Primeiro fomos ao mercado Bom Gosto para comprar pão”, inicia narrando Godoy. Adiante, conta que, novamente, o passeio fora frustrado por más condições do tempo.

“O rio continuava em cima da ponte, não deu para passar e voltamos para VG. Eu disse: ‘sargento, já que não podemos fazer o peixe, vamos assar uma carne’. Voltamos ao mercado Bom Gosto, lá comprei uma carne no açougue e ele mandioca. No mercado, as filmagens vão mostrar que falo a verdade. Embarcamos no carro e fomos para casa. Lá assamos a carne e jogamos sinuca. Nisso, chegou um pastor que é casado com minha secretária, o sargento também era pastor da Igreja Assembleia do Reino de Deus. Começamos a conversar, até aí tudo bem. Dormimos à tarde e acordamos por volta das 16h”, conta. As próximas horas seriam determinantes para o destino do militar.

“Falei para ele: ‘sargento, tem um primo meu, Jairo Klipstein, que inaugurou uma sorveteria aqui no bairro, sorveteria boa, ele mesmo faz o sorvete. Fomos para a sorveteria. Chegamos, ele com a família dele e eu com a minha, sentamos e pedimos sorvete, comemos e ficamos lá por cerca de 40 minutos. Ele levantou e disse: ‘vamos embora’, eu disse: ‘tudo bem’. Eu sai na frente, falei: ‘eu que convidei, eu que pago’ e fui pagar com minha prima. O sargento e minha mulher foram saindo na porta de vidro. Ele estava cheio de ouro nos braços, anéis e correntes de ouro e uma caminhete Hilux em cima da calçada", conta.

"Quando foram sair, estou eu pagando e escutei um tiro...’Pow!’... tomei um susto. Ele veio já, com o revolver assim (Godoy faz gesto de quem tentava sacar uma arma), nas mãos. Ele caiu nos meus pés, eu me assustei e gritaram: ‘é um assalto’. Eu peguei o revólver dele e sai correndo atrás dos bandidos, dei dois ou três tiros, não me lembro agora. Os bandidos correndo na rua e eu correndo atrás. Eles chegaram na esquina que tem uma distribuidora e viraram à direita. Nisso o revólver ‘lencou’ (parou de funcionar). Não sei se faltava bala ou se elas eram ruins, isso deve estar lá no revólver. Eu pensei: ‘eu com revólver ‘lencando’ não vou correr atrás, eu voltei. Ele estava lá, tremendo, coitado. Eu abracei ele. Ele tinha uma corrente no braço, eu fiquei com medo, pois estava chegando muita gente esquisita lá e tirei a corrente no braço dele e dei pra esposa, ela também tirou o cordão. O revólver eu botei na cinta dele de novo, pois era dele. Ligamos para o SAMU, o SAMU não vinha. Veio a viatura da PM, pegamos e carregamos ele para o Pronto-Socorro”, narra Godoy.

A partir daquele momento, o empresário passaria de amigo do sargento para suspeito de um crime. “Chegando lá o filho dele chegou e falou com os policiais. Eles vieram e pediram meu documento para checar. Checou meu documento e eu tinha um porte ilegal de arma. Este porte ilegal eu já tinha acertado no dia 24 de fevereiro de pagar 10 cestas básicas”, explica Godoy. Seu sobrinho, Diogo, que o acompanha na estrevista, interrompe para aprofundar. “Nós mechemos com comercio em uma região perigosa, aconteceu a eventualidade de ele ter uma arma. Ele já estava com ‘alvará’ e tudo para pagar as cestas básicas”.

Godoy retoma a palavra e explica ter se tratado de um mal entendido, uma falta de comunicação entre justiça e polícia. Embora já tivesse resolvido a questão, constava no sistema um pedido de prisão em aberto. Por conta disto ficou detido entre 19h30 e meia noite. “Eu tenho a liberação aqui (veja na galeria). E aí eu estou nervoso porque eu sou amigo há mais de 22 anos do sargento, eu não tenho amigos, ele era meu melhor amigo, a família eu até entendo, ele estava na minha casa, da minha casa foi para a sorveteria e aconteceu isso, mas eu quero justiça, que descubram quem fez isso. Estou disposto a ajudar a justiça, minha casa está aberta para a justiça, eu quero ajudar a resolver esse problema. Vou trabalhar em cima para limpar minha honra, meu nome”.

Diogo novamente interrompe para lembrar que “o filho dele falou que o Cobra nem conhecia meu tio e não sei o quê...”, Godoy exclama. “O filho dele está nervoso, coitadinho! Ele chegou depois, mas chegou com o pai assassinado, baleado, tava na minha casa, eu entendo que todo mundo é suspeito até que se prove o contrário, ele é advogado, mas ele sabe da minha índole, eu sempre fui honesto com essa família. Eu fui falar para ele: ‘olha, pelo amor de Deus, cara, olha o aconteceu com o meu melhor amigo’. Ele respondeu: ‘pelo que sei meu pai não era tanto amigo de você'. Aí ele me quebrou, me matou, era uma dor, uma dor no peito e no coração e ele falar isso...eu entendo, ele está em dificuldade, mas os fatos serão esclarecidos. Ninguém mais do que eu quer esclarecer isso”, lamenta.

“Eu passar por mandante de crime do meu melhor amigo?”, pergunta-se o empresário. “Isso acaba (comigo), eu estou sem comer, estou tomando remédio pra remédio, minha pressão foi a 22. Nunca na minha vida eu faria um negócio desses com ninguém, eu sou um comerciante, agora meu nome envolvido nisso aí, é uma situação... olha a situação que estou...”.

Sobre os parentes do sargento, Godoy lamenta. “Eles estão todos desconfiados de mim”.

Na noite de ontem (01), além do empresário, outros quatro suspeitos de envolvimento no latrocínio foram liberados por não haver comprovação da participação dos mesmos no episódio criminal, são eles: Odenir Araujo de Almeida; Joselino Brito de Sousa; Lenilson Ferreira de Campos e outro identificado como Cleyton. A informação foi confirmada ao Olhar Direto pela diretora adjunta da Polícia Civil, Silvia Pauluzzi.

O crime aconteceu na sorveteria ‘Planeta do Sorvete’, no bairro São Matheus. As informações preliminares eram de que o PM teria sofrido uma tentativa de assalto, e foi baleado na cabeça por dois homens, em frente à sua esposa e filho.

Sem nenhuma evidência que aponte para um caso de execução, a delegada Ana Cristina Feldner, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), irá remeter nas próximas horas o procedimento instaurado para Delegacia de Roubos e Furtos de Várzea Grande (Derf-VG), que terá a atribuição de apurar e responsabilizar os suspeitos.
 
Os dois vídeos abaixos foram feitos por câmeras de segurança distinstas e podem elucidar as investigações sobre o crime:
 

 


Abaixo, o sargento registra em vídeo a amizade que possui com João Carlos de Godoy:
 
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