O secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), coronel PM Airton Siqueira Júnior, afirmou em depoimento ao Inquérito Policial Militar instaurado para apurar o esquema de grampos ilegais operados em Mato Grosso que PMs “espionaram” o comitê de Otaviano Pivetta durante a campanha a prefeito em 2016.
Siqueira revela que os policiais militares teriam recebido R$ 20 mil de Rogério Ferrarin, um dos coordenadores da campanha vitoriosa do prefeito Luiz Binotti, para investigarem a suspeita de compra de votos por parte de Pivetta. A espionagem envolveria instalação de câmeras, captação de áudio e invasão de ambiente privado.
O secretário Airton Siqueira é investigado por suposta participação em grampos ilegais em Mato Grosso. Sobre o caso de Lucas do Rio Verde, sustenta que ficou sabendo da “espionagem” por meio do advogado Paulo Taques, cujo escritório prestava assessoria jurídica a Pivetta. À época, o coronel era chefe da Casa Militar.
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Siqueira informa que estava jantando em um restaurante na capital quando encontrou Paulo Taques. Na ocasião, o advogado recebeu um telefone de Lucas do Rio Verde informando que o escritório de advocacia instalado no município para assessorar Pivetta estava sendo alvo de investidas de supostos PMs.
Taques abordou Siqueira e contou sobre a suposta espionagem e informou que os advogados no município descobriram que o policial que estava tentando investigar o comitê era conhecido como “caveira 06”, em referência ao Batalhão de Operações Especiais. Ato contínuo, Siqueira ligou para um PM identificado no depoimento como major Barros, que seria o major Dulcézio Barros de Oliveira, à época lotado no Bope.
“Perguntou ao major PM Barros onde ele estava quando obteve a resposta de que estava em Lucas do Rio Verde; que o major PM Barros disse que estava de férias; que o informante (Siqueira) disse ao referido major que independente da missão que estava realizando ali poderia estar violando os direitos dos advogados e que para evitar problemas, era melhor sair de lá”, diz trecho do depoimento de Siqueira, colhido pelo coronel PM Jorge Catarino na quarta-feira (5).
Siqueira ainda teria ligado para o comandante regional de Nova Mutum, identificado como Cunha e solicitou que o major Barros quando retornasse a Cuiabá que o procurasse. No dia seguinte, por volta das 10h30 Siqueira recebeu ligação de um cabo identificado como Rafael que informou sobre a “missão” em Lucas do Rio Verde.
Rafael informou que no comando da missão estaria o coronel Cesar Gomes, que teria sido contratado por Ferrarin por R$ 20 mil para averiguar suposta compra de votos. Os PMs teriam ido para Lucas do Rio Verde com desculpa de que iriam ministrar instrução de tiro, mas paralelamente investigariam o fato.
Rafael informou que PMs haviam instalado escuta ambiental e câmeras de vídeo no comitê de campanha de Pivetta, além terem invadido o escritório da assessoria jurídica de Pivetta, fotografado e mandado as informações a Cesar Gomes. Siqueira sustenta que o chefe da Casa Militar tem tem como atribuição planejar, executar, controlar e avaliar as atividades de Inteligência, mas garante que não teve qualquer relação com o caso denunciado.
Espionagem à tona
O caso da espionagem em Lucas do Rio Verde veio à tona no bojo das investigações sobre o esquema de grampos ilegais que seriam operados por policiais militares. As autoridades investigam a suposta participação de Siqueira em “grampos” em Lucas do Rio Verde em 2016, o que, segundo a defesa, seria a completa inversão dos fatos.
Uma petição foi entregue ao Ministério Público e Tribunal de Justiça informando os fatos relatados e solicitando a instauração de medidas legais para investigar os delitos supostamente praticados na campanha de 2016.