Imprimir

Notícias / Cidades

Delegado aponta foco da PF em Mato Grosso: desvio de recursos, crimes ambientais e tráfico

Da Redação - Vinicius Mendes

O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal Sérgio Mori afirmou que as principais áreas de atuação da Polícia Federal em Mato Grosso são relacionadas a crimes ambientais, tráfico de drogas e desvio de recursos públicos. Em entrevista ao Olhar Direto o delegado contou um pouco sobre como funciona uma operação da PF e disse que a maior dificuldade no Estado é o número pequeno de oficiais.

Leia mais:
Operações da PF sobem 52% em um ano: “Nosso objetivo nunca foi fazer saneamento político”, diz delegado

“Brasília faz quadros comparativos dos Estados, mais para ter uma idéia da evolução das unidades ao redor do tempo, nem tanto para comparar uma com a outra porque cada uma tem uma característica. A nossa característica própria é esta área extensa demais, com presença de garimpos, presença da Amazônia, e a fronteira com a Bolívia, então nestes crimes ligados a estas áreas, evidentemente que a gente está à frente. Em compensação tem estados mais industrializados, com cidades que tem portos, então o tipo de crime mais freqüente muda conforme o Estado”.

De acordo com o delegado, por ser um Estado de fronteira, em Mato Grosso as três principais áreas de atuação são relacionadas a crimes ambientais, tráfico de drogas e desvios de recursos públicos.

“A atuação nossa é variada, a gente tem todos aqueles crimes que são contra a União Federal. Por ser fronteira, e por ser uma fronteira especificamente ao lado da Bolívia, que é uma porta de entrada importante para drogas, especialmente cocaína, acaba que o combate ao tráfico ganha relevo nesta parte de crime transnacionais. Mas tem muitos outros também aqui, como crimes ambientais, as questões dos garimpos, do desmatamento, que é bem presente, o próprio desvio de recursos federais, que é pelo Brasil todo, nós temos uma boa frente de atuação nesta área”, afirmou.

A principal dificuldade da Polícia Federal em Mato Grosso, segundo o delegado, é com relação ao pequeno número de oficiais, em comparação com a extensão do território do Estado. Além da Superintendência em Cuiabá, há delegacias da PF apenas nos municípios de Sinop, Rondonópolis, Barra do Garças e Cáceres.

“A principal dificuldade é a extensão muito grande do território em relação ao efetivo. Numa comparação de quilômetro quadrado por efetivo, a gente vai ver que nosso pessoal está fazendo até muito, porque a gente tem um Estado que é maior que boa parte dos países do mundo, muitos não tem uma extensão igual a nossa, e no entanto a gente tem uma fração da polícia federal lotada aqui, uma pequena parte, que até consegue fazer bastante”.

Apenas uma das delegacias está localizada em região de fronteira, o que prejudica a fiscalização nas travessias.

“O efetivo da Polícia Federal em linhas gerais é pequeno, se for pra considerar o tamanho do território nacional, a faixa de fronteira que nós temos é enorme. Basta ver que nossa única delegacia situada na faixa de fronteira é a de Cáceres, e pelo mapa você pode ver o tamanho da divisa com a Bolívia, uma fronteira seca, da pra se atravessar em quase toda a extensão, então realmente o efetivo não é grande, pelo tamanho do Estado”.

Para melhorar o combate ao tráfico e á travessias de entorpecentes na fronteira, a Polícia Federal constuma fazer reuniões com investigadores de outros países, que atuam nesta área.

“Sempre são promovidos encontros, de países estratégicos, para a polícia federal, a gente tem uma representação lá e ele promove os encontros. Posso dizer que com relação à Bolívia, periodicamente é promovido encontro entre nós e a polícia de lá especializada no combate ao trafico. Inclusive eles mandam de vez em quando, um policial para fazer um pequeno estagio conosco, para conhecer as nossas rotinas, para que a gente possa fazer intercambio de conhecimentos”, disse o delegado.

As operações da PF, grandes ou pequenas, com parcerias ou não, podem começar de formas variadas. Após as apurações é que são decididas as medidas a serem tomadas, se será necessário o envio de oficiais de outros estados para uma deflagração, como aconteceu na Operação Maleboge, por exemplo.

“Normalmente começa com base em uma notícia crime, pode ser uma denúncia por exemplo. E a partir daí a investigação se desdobra, algumas vezes com simples vigilância, outras vezes é necessário fazer quebra de sigilo bancário, fiscal, vai conforme o caso”.

O delegado contou que quando é necessário o envio de policiais de outros estados é porque a investigação já está em fase avançada, reconhecida pelo poder judiciário.

“Nas operações, quando vem o pessoal de fora é um momento já adiantado, quando já está reconhecido pelo Poder Judiciário a necessidade de fazer buscas ou até prisões, conduções coercitivas. Neste momento, como normalmente é necessária uma ação simultânea, aí nós chamamos colegas de fora para que possamos cumprir todas as decisões judiciais ao mesmo tempo. Mas no dia a dia seguimos com nosso efetivo, que não é grande, mas tem dado conta”.

Para evitar vazamento de informações, cada oficial é informado apenas sobre o básico de sua atuação. No caso do deputado estadual Gilmar Fabris, que saiu de casa horas antes da deflagração da Operação Malebolge, o delegado afirma que será investigado se houve vazamento de informações.

“Existe um princípio, que todos os órgãos de inteligência usam, que é de só dar conhecimento a quem precisa. Então os colegas que são chamados para operações, eles sabem que virão para Cuiabá e tem conhecimento básico, do que ele precisa, do material que ele precisa trazer, ele só sabe mais durante o dia”.

O delegado também disse que mais operações devem acontecer até o final do ano. Mas segundo ele, o foco da PF será nas três áreas principais no Estado: de crimes ambientais, tráfico de drogas e desvios de recursos públicos.

“A gente vai continuar centrando as atenções nestas três áreas principais. Não que as outras não sejam importantes, mas em matéria de preponderância nós vamos continuar tendo esta questão do desvio de recursos públicos, dos crimes ambientais e o tráfico de drogas. Naturalmente, até que se mude o estado do país, Mato Grosso eu acho que sempre vai ter um papel preponderante nesta área, por ser fronteira principalmente, uma porta de entrada, por ser extenso, estar próximo à fronteira e tem boas malhas rodoviárias para escoar as coisas”.
Imprimir