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"Na hora que ele ver outra pessoa, vai querer ajudar também”, diz PM que auxiliou rapaz que seguia a pé para MS

Da Redação - Vinicius Mendes

O cabo da Polícia Militar, Renilson Ferraz, do distrito de Ouro Branco do Sul, região de Itiquira (a 422 km de Cuiabá), conversou com o Olhar Direto e contou porque decidiu ajudar o rapaz de 26 anos, identificado como Walson Alberto Brito, que seguia a pé para Campo Grande (MS). Ele disse que em toda ocorrência que atua não vê as pessoas como infratoras e sempre tenta entender o motivos de terem escolhido aquela vida. Ele disse que acredita que a boa ação que fez para Walson será repetida pelo rapaz quando encontrar alguém em necessidade.

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No último dia 25, enquanto estava de plantão com o soldado Regis, recebeu várias ligações de pessoas dizendo que havia um homem transitando nas margens da rodovia BR-163, a aproximadamente 15 km do distrito de Ouro Branco do Sul. Ferraz disse que as pessoas suspeitaram do homem porque geralmente andarilhos que caminham na estrada levam vários pertences.

“Chegando lá nós fizemos a abordagem, e ele estava com quase nada, apenas com a roupa do corpo e uma carteira com toda a documentação dele, inclusive a de motorista, que a dele tem habilitação para dirigir ônibus. Fizemos a checagem e como não tinha nenhuma passagem na polícia eu comecei a conversar com ele, pra saber de onde ele vinha”, disse o policial.

Aos militares Walson contou que vinha de Tocantins, onde morava, e lá ficou desempregado, se separou da mulher e decidiu ir embora. Ele foi seguindo até chegar em Rondonópolis, mas como não conhecia ninguém na cidade, ficou desempregado e sem dinheiro e acabou indo para um albergue.

“Ele disse que nesse albergue tinham muitos viciados em drogas, alcoólatras, e dava muita briga. Aí o único lugar próximo que ele tinha parente era em Campo Grande, onde ele tem dois irmãos motoristas. Aí como ele não tinha recursos decidiu ir a pé. Ele pensou que dificilmente o pessoal iria parar para dar carona, por medo, e acabou indo a pé, já tinha andado quase 100 km”, explicou.

O cabo da PM disse que se comoveu com a história de Walson e decidiu ajudá-lo. Ele e o soldado Regis providenciaram comida e roupas novas para o homem.

“Perguntei como ele ia fazer pra dormir a noite, e ele disse que ia se virar, dormir em qualquer lugar, e ele sem nada para poder cobrir. Eu perguntei pra ele se já tinha comido e ele disse que não, isso já era 10h20 da manhã. Aí falei que ia dar uma carona até o posto mais próximo pra pagar uma refeição para ele. Chegando lá eu conversei com o gerente, para explicar a situação, que ele não era um criminoso. E depois de conversar demos um marmitex pra ele comer e voltamos para ouro branco do sul para buscar roupas, do soldado Regis”.
 
No posto Walson tomou banho, ficou limpo e almoçou. Ferraz e Regis então ligaram para a rodoviária da cidade de Sonora (MS), onde ficava a rodoviária mais próxima, para saber quanto custava uma passagem para Campo Grande. O preço da passagem era R$ 80. Os policiais então conversaram com o gerente do posto e conseguiram juntar o dinheiro e reservaram uma passagem.

“O ônibus saía as 15h50 e eu falei para ele aguardar no posto, porque como ele não tinha como ir para Sonora com a viatura a gente ia dar um apoio. Aí no horário levamos ele na viatura até a rodoviária. Ainda demos R$ 30 reais para ele comer ou se tiver outra despesa. Ele até gostou, agradeceu a gente, falou que não esperava que ajudassem assim, e se via que ele era uma pessoa que tinha vergonha até de pedir, fez isso pelo desespero, pra ver se encontra um emprego para mudar de vida”, disse.
O policial contou ao Olhar Direto que após vários anos de carreira ele sempre busca entender o motivo das pessoas que aborda, para dar conselhos.

“Eu já vou fazer 15 anos de Polícia e eu sempre procuro entender. Muitas vezes tem ocorrências envolvendo famílias, e eu tento entender o porquê da pessoa estar ali. Já prendi vários jovens envolvidos no caminho das drogas e eu não vejo a pessoa só como um infrator, que eu tenho que odiar ele ou alguma coisa, e não é assim, a gente aconselha, conversa, pergunta por que estão nessa vida se são jovens, procuramos dar um conselho, pra ver se a pessoa muda”.

Cabo Ferraz diz que não acredita que uma abordagem violenta é o ideal em todas as abordagens. Ele disse que sua atitude de ajudar Walson irá influenciar as atitudes do rapaz.

“Porque a gente sabe que não basta a violência, se a pessoa que é presa mudasse com a repressão violenta, não voltaria a cometer crimes. Então às vezes você conversando com a pessoa, ela vê você como um policial, imagina que a gente quer espancar, mas se vê que a gente se preocupa com a integridade dele, com a vida que ele está levando, ás vezes pode levar a mudar de vida. Falei para o Walson que futuramente quero ver ele bem de vida, e na hora que ele ver outra pessoa vai querer ajudar também”, afirmou o policial.
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