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Comércio de carro usado mostra reação

Valor Online

A venda de veículos usados, fundamental no desempenho da cadeia automotiva do país, começa a dar sinais de recuperação. Em julho, a transferência de automóveis e comerciais leves superou a marca de 660 mil unidades pela primeira vez nos últimos doze meses. Na comparação com 2008, o mercado também apresentou resultados mais animadores, com a diferença caindo mês a mês. No começo do ano, a queda era de 23%; no mês passo já estava em 9%.

Um ano atrás, o comércio de usados no mesmo mês - número recorde desde 2004, quando a Fenabrave passou a divulgar os dados desse mercado - atingiu 698 mil unidades.

Por trás da retomada existem três fatores: retorno do crédito, preços baixos e início das vendas de fim de ano, período tradicionalmente mais forte no comércio de usados. Por outro lado, para as revendas, a situação do mercado ainda requer cautela. Muitas ainda amargam estoques com preços elevados e a concessão de financiamentos é mais favorável à compra de novos do que de usados.

Apesar disso, especialistas, proprietários de lojas de carros e vendedores consultados pelo Valor acreditam em um cenário favorável aos negócios até o fim de 2010. O retorno da cobrança do IPI nos automóveis novos também pode tornar o mercado de usados mais atrativo, já que a recuperação dos preços deste segmento tende a ser mais lenta.

Para Francisco Trivelato, consultor especializado no varejo de veículos, um novo patamar de preços de automóveis zero quilômetro, com o tempo, pode refletir na valorização dos usados. "Num primeiro momento, a distância do novo para o usado vai ser enorme, mas tenderá a diminuir ao longo do ano que vem", declarou.

O mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves usados, conforme os dados da Fenabrave foi de 7,26 milhões de unidades em 2008. Na opinião de Trivelato, não fosse o cenário econômico adverso no último trimestre, as chances de chegar a 9 milhões eram grandes. "Em condições normais, a relação usados/novos tende a ser de 3 para um. Acho que esse seria o normal", acrescentou o consultor.

Atualmente, de acordo com levantamento feito pela Fundação e Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) para o Valor, os preços estão bem abaixo do que era praticado até o estouro da crise financeira internacional. No caso de um veículo popular, fabricado em 2004, a desvalorização foi 17 vezes maior de setembro do ano passado para julho deste ano do que em igual período de 2007 para 2008. Ou seja, se o veículo valia R$ 20 mil passou a valer R$ 16,4 mil, enquanto que em um cenário sem crise e isenção de IPI valeria R$ 19,8 mil.

Neste período, que já dura quase um ano, a concessão de financiamentos foi mais complicada para os usados do que para os novos. No fim de 2008, segundo Sidnei Ongarelli, diretor comercial responsável por 22 concessionárias do Grupo Julio Simões, financiar um veículo fabricado antes de 2001 era praticamente impossível. "Hoje, eles [bancos] já aprovam. As taxas são altas, mas tem financiamento para o consumidor", disse.

Conforme os dados do primeiro semestre da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), cerca de 56% da frota circulante do país possui financiamento ativo, o que ilustra como a restrição ao crédito foi prejudicial ao mercado de usados. Segundo a entidade, esse volume equivale a cerca de 14 milhões de consumidores.

Félix Cardamone, diretor-executivo do Santander e responsável pela financeira do grupo, a Aymoré, destaca que os prazos e a aprovação para os financiamentos de carros usados estão em parâmetros semelhantes aos vistos antes da crise. "O cenário já está mais favorável", afirmou o executivo. Entretanto, para ele, as promoções para modelos fabricados neste ano por parte das montadoras devem ser levadas em conta como um contraponto às oportunidades encontradas nas revendas de seminovos.

Na opinião de Marcos Leite, gerente da concessionária Amazon, em São Paulo, só falta um aumento dos prazos para que o cenário seja o mesmo de antes da crise financeira mundial. Na concessionária, de bandeira Volkswagen, os prazos para financiamento de usados chegam a 60 meses sem entrada. Antes, segundo Leite, era possível encontrar condições semelhantes, mas com prazos de até 80 meses para o pagamento.

Os resquícios da crise, no entanto, não tiram o entusiasmo do presidente da Fenauto (entidade que reúne cerca de 40 mil revendas independentes), Ilídio Gonçalves dos Santos. Para ele, esta é a hora de comprar um seminovo. "O preço está bom, as taxas de juros já caíram até 1,4% por mês. E antes estava difícil a aprovação, mas agora as restrições estão diminuindo", explicou.

O retorno do crédito é uma das principais causas para a recomposição dos estoques das revendas. Depois de realizarem os prejuízos causados pela desvalorização dos usados, parte delas vem adquirindo veículos tanto para o giro normal do estoque, como para melhores condições de venda para o caso dos preços reagirem.

"As revendas, principalmente as independentes que demoraram mais, realizaram o prejuízo e já estão trabalhando dentro do cenário atual de preço", afirmou Trivelato, ao destacar que se um lojista perdeu entre 10% e 12% do valor do seu estoque após a crise, "a percepção dele é de que ao menos parte disto poderá ser recuperado na compra e venda de veículos com os preços praticados hoje".

Denis de Freitas, da loja F3, por exemplo, tem fixado nos pára-brisas de veículos estacionados na zona Sul de São Paulo uma média de 500 cartões por mês. Neles, o seguinte texto: "Por gentileza, se o Sr. ou Sra. estiver interessado em vender, comprar ou trocar seu carro, mesmo com multa ou financiamento, ligue-me. Pago à vista". Segundo ele, a procura por usados ocorre mais pelo giro de veículos (em busca de ganhos na compra e na venda) do que pela perspectiva de recuperação de preços.
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