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"A lembrança fica voltando. A gente não esquece”, conta enfermeira baleada em tiroteio na UPA

Da Redação - Vinicius Mendes

A enfermeira R.S.S., uma das vítimas do tiroteio na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Morada do Ouro, em Cuiabá, na última terça-feira (13), conversou com o Olhar Direto e disse que ela já se recupera em casa, mas ainda está traumatizada e não sabe quando voltará ao trabalho. Além da enfermeira, que foi atingida na perna, outras quatro pessoas ficaram feridas, entre elas um bebê de seis meses, que logo deve receber alta da UTI. A bala ainda está alojada na perna da enfermeira e ela toma remédios para controlar a dor.

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“Eu já estou melhor, graças a Deus. Não chegou a ser um ferimento grave. Não precisei fazer cirurgia, a bala ainda está alojada na minha perna, mas não precisou da cirurgia. Está no músculo da minha coxa. Estou andando normalmente, mas sinto dores, estou tomando medicamento. Vou voltar na segunda-feira no médico para avaliar, porque assim, está me incomodando muito, aí ele vai ver”, contou a enfermeira.

Além da ajuda médica para sua perna, a enfermeira disse que pretende buscar ajuda psicológica para superar o medo, já que está traumatizada.

“Vou procurar também ajuda psicológica, porque não tem como, quando você passa por isso você fica com insônia, não consegue dormir, a taquicardia que dá toda hora, quando eu lembro o coração começa a acelerar, Deus me livre. A lembrança fica voltando, não tem como, a gente não esquece, falam que esquece mas deve demorar. Ainda estou traumatizada”.

Por causa do medo, ela ainda não sabe quando irá retornar ou se irá retornar à UPA onde aconteceu o tiroteio. Ela agora está se recuperando em casa e disse que espera que as autoridades não permitam que isto aconteça novamente.

“Não sei ainda se tenho coragem de voltar, estou aqui ainda buscando forças para ver se vou ter coragem. Não sei se consigo pisar lá ainda. Estou em casa mesmo, meu esposo está cuidando de mim. Mas eu espero melhoras e espero que as autoridades agora tomem consciência e levem melhora para lá, para que não venha acontecer com outros pacientes ou com outros colegas”, disse.

A enfermeira contou que eram quase 18h quando chegaram os homens à UPA, todos eles com revólver na mão. No momento em que o agente sacou sua arma começou o tiroteio, que acabou atingindo a ela e outras quatro pessoas.

No tiroteio ficaram feridos um agente prisional, com dois disparos na perna, um bebê de seis meses, atingido nas costas e mão, a mãe da criança, baleada no braço esquerdo, a enfermeira R.S.S., baleada na perna e uma outra mulher que foi baleada no tórax.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, três das vítimas já receberam alta, restando apenas a mulher que foi atingida no tórax, que se recupera bem da cirurgia, e o bebê de seis meses, que tem previsão para sair da UTI neste sábado.

O secretário de Estado de Segurança Pública, Gustavo Garcia, disse na tarde desta quarta-feira (14) que o fato terá resposta forte do Estado. Ele também garantiu que o delegado Marcelo Jardim deverá ser nomeado e irá apurar as circunstâncias do fato.

“Nós mobilizamos tanto a Polícia Militar, Polícia Civil e Politec para imediatamente dar a resposta. Fizemos o local do crime com a Politec e Polícia Civil. Começamos as investigações e vou nomear um delegado só para apurar as circunstâncias do fato e o delito. É uma unidade especializada, um delegado especial para investigar esse fato”, disse.

O prefeito Emanuel Pinheiro assumiu uma das falhas, mas colocou a responsabilidade de segurança no Governo e determinou a instalação imediata de câmeras nas unidades de saúde.

“Será a primeira coisa que faremos [instalação de câmeras]. Teremos licitação imediata da colocação de câmeras nestas unidades de saúde. A Segurança Pública não é responsabilidade do município. Não tenho como convocar a Polícia Militar para estabelecer esta ou aquela segurança. Isso é questão do Estado, cabe a eles”, afirmou o prefeito.
 
Sobre  o procedimento de escolta de presos, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) se manifestou.
 
"Todos os procedimentos previstos no Manual Operacional Padrão do Sistema Penitenciário foram seguidos pela equipe que fez a escolta do preso José Edmilson Bezerra Filho para a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Morada do Ouro, na capital. Os agentes atentaram para todos os procedimentos de deslocamento, desembarque, permanência e apresentação do preso na unidade de saúde;
 
As saídas dos presos são autorizadas pela direção da unidade prisional. Na ausência do diretor ou diretor adjunto, a autorização é feita pelo chefe de equipe que está de plantão.
 
O transporte e a escolta de presos são feitos em veículo especial, ou seja, viatura do Sistema Penitenciário, bem como a condução do preso e sua escolta e segurança são realizadas por agentes penitenciários devidamente treinados e capacitados para o uso de arma de fogo. Fato é que, com os procedimentos corretos aplicados pelos agentes que faziam a escolta do preso, foi evitada a possibilidade de resgate ou execução do mesmo.
 
As unidades prisionais não têm plantão de equipe médica em finais de semana e feriados. Desta forma, se um preso está com problemas de saúde é levado imediatamente a uma unidade de saúde para atendimento. No caso específico do preso José Edmilson, o mesmo alegou fortes dores, solicitando atendimento médico. Como não havia plantão de saúde na unidade na data, deve-se levar para o  atendimento externo, conforme previsto no artigo 14, parágrafo 2, da Lei de Execuções Penais.
 
Reiteramos por fim, que fazer afirmativas de que o episódio em questão tenha sido ocasionado pelo descumprimento de qualquer procedimento na escolta do preso, sem antes de uma rigorosa apuração, é no mínimo leviano e irresponsável".
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