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Delegada diz que competência não está no gênero e dispara: “se preciso, prendo dez vezes”

Da Redação - Fabiana Mendes

Próximo à fronteira de MT Com a Bolívia está localizada a Delegacia Regional de Cáceres, que é administrada pela delegada Cinthia Gomes da Rocha Cupido. Com o comando de onze municípios, a autoridade policial se considera justa com as pessoas  investigadas e companheira dos servidores. “Vejo número, não vejo pessoas. Se preciso, prendo 10 vezes. Quando a pessoa não deve, não deve. Mas quando deve, vai pagar na proporção, nem mais, nem menos", disparou.  

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Cinthia se define como uma delegada operacional, que procura estar presente em todas as missões, da menor a maior, principalmente em ambientes hostis.

"Não vivo em gabinete. Se dou uma missão aos investigadores no sábado às 23 horas, eu vou junto. É muito fácil determinar uma diligência às 11 horas da noite, e eles deixarem suas famílias em casa e eu ficar de boa, enquanto estão no mato se ‘ferrando’. Quando dou uma missão desconfortável eu vou junto", assegura.

Na repressão à criminalidade, afirma ser justa, aplicando ao investigado a penalidade proporcional ao crime cometido. "Sou uma delegada justa. Não sou linha dura. Caiu na minha mão vai ser penalizado do que jeito que tem que ser. Não me apaixono pelo caso, não persigo ninguém. Prendi o cara, faço o flagrante, faço meu trabalho. Vejo número, não vejo pessoas. Se preciso, prendo 10 vezes. Quando a pessoa não deve, não deve. Mas quando deve, vai pagar na proporção, nem mais, nem menos", observa.   

A delegada Cinthia Cupido é uma das mulheres representantes do quadro da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, que conta atualmente com 940 policiais femininas, divididas em 38 delegadas, 397 escrivães e 505 investigadoras de polícia.

Vocação policial

Natural da cidade de Santos, em São Paulo, filha de dona de casa, pai engenheiro e caçula de dois irmãos, Cinthia afirma ter descoberto a vocação policial quando, ainda na faculdade, foi estagiar em uma delegacia de polícia, em Santos. "Ali percebi que tinha vocação para delegada".

Conforme dados da assessoria de imprensa da PJC, a delegada foi aprovada no concurso da Polícia Civil em 2005 e ingressou na instituição em 30 de março de 2007. Após mais de cinco meses de academia, foi lotada na Delegacia de Apiacás (1.010 km de Cuiabá). Foram quatro dias chorando, pois não tinha conhecidos na cidade. Mas logo superou as dificuldades do início da carreira e seguiu adiante, permanecendo no município por nove meses.

Em 2008, foi comandar a Delegacia de Sapezal, onde ‘casou’ com a polícia. No município conheceu seu marido, o sargento da Polícia Militar João Noel Alves de Lima, que está lotado no Grupo Especial de Fronteira (Gefron). Essa união, que começou na profissão e passou para a vida pessoal, só veio confirmar a importância da integração das forças policiais, principalmente, para quem está no interior do estado.


“Isso aprendi com meu marido.  Sempre trabalhei integrada.  Em Sapezal, a Delegacia fica ao lado do Núcleo da Polícia Militar. Quando  conheci meu marido, em 2009, comecei a viver dentro da Polícia Militar.  O efetivo da unidade era de quatro investigadores, percebi que a invés de quatro poderia ter mais quinze PMs comigo. Sempre trabalhamos integrados e essa é uma relação tranquila, de respeito às atribuições de cada um”, pontua.

No começo de 2015, quando seu marido foi transferido para o Gefron, em Porto Esperidião, ela também foi trabalhar em Cáceres e lá atuou na antiga Delegacia Municipal e na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, até que foi nomeada, em dezembro do mesmo ano, como delegada regional de Cáceres, mantendo a filosofia de integração com todas as instituições de segurança.

Na fronteira, além da administração da Delegacia Regional cuida também da Delegacia de Fronteira (Defron), inaugurada em 31 de janeiro de 2017. O papel da Defron é trabalhar, de forma integrada, com informações de inteligência para atacar as organizações criminosas, os verdadeiros “chefões” do tráfico de drogas. “Não adianta apreender drogas, se não conseguimos mexer no financeiro dessas organizações e a Defron veio para isso”, frisa Cinthia.

Delegada de bota

A característica peculiar da delegada Cinthia Gomes da Rocha Cupido é a bota, que usa todos os dias para trabalhar. Mais que estilo, a bota também está associada à sua personalidade forte, da mulher que comanda a região, onde o efetivo, não somente o da Polícia Civil, como de toda a Segurança Pública, é constituído mais de homens.

Devido ao calçado, pouco comum para quem mora num estado de altas temperaturas, ficou conhecida como a "delegada de bota". Mas ela assegura que tem uma explicação e afirma usar somente quanto está trabalhando. A delegada tem oito botas em seu guarda-roupa.

“Quando saí de Santos e fui conhecer Apiacás cheguei de sapato alto e calça social, toda 'patricinha'.  Um investigador olhou para mim  e  perguntou: Doutora a senhora vai assim? Quando voltei de Apiacás minha calça estava toda suja de barro, meu pé cheio de poeira. Tinha uma investigadora que já usava bota e entrou junto comigo. Então passei também a usar bota, mas não era essas de cano alto para fora. Depois fui para Sapezal e lá voltei a usar sandálias, mas eu ia muito para rua e tinha lama. Um dia fui entrar em uma casa e tive que entrar descalça. A partir daí não tirei mais a bota, por causa do trabalho”, finaliza.
               
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