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“A gente defende a carreira de médico do Estado”, afirma presidente do CRM-MT

Da Redação - Vinicius Mendes

A Dra. Maria de Fátima de Carvalho, presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), afirmou que defende que a carreira de médicos seja de responsabilidade do Estado e não dos municípios. Ao Olhar Direto a médica se manifestou com relação à pesquisa da USP, que apontou que a média do número de médicos em Mato Grosso é 25% menor que a nacional. Um dos motivos seria a falta de verba para manter médicos no interior. A solução defendida pela presidente seria a carreira de médico do Estado.

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Média de médicos por habitante em Mato Grosso é 25% menor que a nacional
 
Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontou que Mato Grosso tem 1,64 médico por mil habitantes, ou seja, 25% a menos do que a média nacional. Com uma população de 3,3 milhões de habitantes, Mato Grosso tem 5.436 médicos, o que resulta nesta proporção.

A Dra. Maria de Fátima acredita que os municípios pequenos mais afastados das área urbanas não possuem verba suficiente para manter um número necessário de médicos. Por isso, a médica acredita que a responsabilidade não deveria ser dos municípios.

“Para fixar médicos no interior a gente defende a carreira de médico do Estado, o que seria uma obrigação do nível Federal do Governo o financiamento, o provimento de médicos para municípios pequenos, porque eles têm dificuldades financeiras, para lotação de médicos e da equipe. Então a gente defende a carreira de médico do Estado em analogia ao que acontece com a carreira de juiz, porque desta forma isto não seria uma obrigação do município. Teria mais verba, os médicos teriam mais estabilidade no emprego, por concurso, então não seria por indicação política, não findaria ao término de um mandato”, disse a médica.

Da maneira como ocorre hoje, a presidente do CRM-MT disse que existe uma instabilidade e insegurança por parte dos médicos em relação às vagas que ocupam em unidades públicas de saúde.

“O que existe hoje são vínculos de trabalho precários, por exemplo, vem um determinado secretário municipal de Saúde, um determinado prefeito e contrata aquele médico, por pessoa jurídica, não por pessoa física, isto acontece na maior parte dos municípios, sem concurso. Então se em época de campanha ele não atende um pedido daquele político, pronto, ele já está fora. Ele não tem garantia nenhuma de ficar naquele local”.

Outro motivo para a insegurança dos profissionais de saúde seria por causa dos atrasos em repasses de verba por parte do Governo para os pagamentos de salário, o que não é incomum.

“Ás vezes muitos médicos vão trabalhar em determinado município sem qualquer contrato de trabalho, sem nada, então eles começam a não receber os salários e não tem nenhum instrumento legal para cobrar. Isto torna difícil você fixar um médico”.

O problema de falta de médicos em Mato Grosso, no entanto, não afeta a capital, já que o número de médicos na região metropolitana é o dobro do que seria necessário.

“A nossa proporção entre médicos no interior do Estado e médicos na capital é de mais ou menos metade em Cuiabá e Várzea Grande e mais ou menos metade no interior. O ideal é que a gente tivesse uma relação homogênea no Estado de pelo menos 2 médicos para cada 1.000 habitantes. E quando falam que a gente tem uma média 25% menor que a nacional é porque nossa média no estado está 1,64 médicos para cada mil habitantes. Já Cuiabá em Cuiabá eu tenho uma média de 4,64 para cada mil habitantes, o dobro do que eu precisaria”, explica a médica.

Uma das soluções encontradas para o Governo para levar médicos às áreas mais carentes foi o Programa Mais Médicos. A Dra. Maria de Fátima disse que o programa ajudou, mas teve seus defeitos, principalmente por ser temporário.

“O Programa Mais Médicos foi, como a gente chama, um programa de provimento. Quer dizer, tinha uma situação muito ruim então foi elaborado o Mais Médicos para tentar melhorar a situação dos municípios mais carentes. Mas tiveram médicos do programa que foram colocados em grandes centros, da região Sul e Sudeste, onde a relação já está boa”.

“Agora digamos, eles serem colocados em municípios que precisavam de verdade, nós tivemos um número significativo de médicos no programa em municípios do interior do Estado, mas ele é um programa que tem final e ele não fixa o médico na localidade, o médico já vem para ficar ali um tempo já definido, curto e ir embora”, disse a presidente.

Ela defende a elaboração de um programa que fixe o médico nos municípios mais necessitados, para que o profissional possa elaborar projetos de saúde para a localidade.

“Eles estavam fazendo toda uma política de aumentar o número de médicos brasileiros, agora a gente precisa pensar em uma política para fixar o médico onde precisa. Porque o que aconteceu ao longo destes anos foi um aumento exponencial no número de médicos formados. Como no mais médicos o profissional vem e depois vai embora, ele não muda o perfil daquele município”.

Dados da pesquisa

A pesquisa Demografia Médica 2018, foi realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

No Estado, a cirurgia geral concentra o maior número de especialistas (466), seguida pela pediatria (425), ginecologia e obstetrícia (415), clínica médica (384) e anestesiologia (287). As especialidades com menor número de especialistas são genética médica (1), medicina física e reabilitação (3), medicina do esporte (6), cirurgia torácica (6) e patologia clínica (7).
 
Cuiabá, capital mato-grossense, tem 2.739 médicos, que atendem 590 mil habitantes, o que dá uma razão de 4,64 profissionais por mil habitantes e uma proporção de 50,4% médicos morando na capital. Desses profissionais, 56% são do sexo masculino e 44%, feminino. Os especialistas são 67,9% e os generalistas, 32,1% dos médicos que atendem na capital mato-grossense. No entanto, no interior a situação é mais complicada.
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