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Autor de ofensas a fotógrafa será indiciado, diz que se reconhece como negro e nega ser racista

Da Redação - Fabiana Mendes

Rafael André Janini suspeito de dirigir xingamentos racistas à fotografa Mirian Rosa, de 32 anos, foi interrogado na tarde de segunda-feira (07), na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Criança e Adolescente, de Várzea Grande, e foi enquadrado nos crimes de racismo e também injúria racial. Em depoimento, ele confessou a autoria dos áudios que enviou à vítima e afirmou não ser racista, uma vez que se declara negro, assim como sua família.

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A série de xingamentos foi proferida no dia 1º de maio. Mirian foi chamada de ‘crioula maldita’. Na sequência, Rafael pergunta o quanto ela custa, pois precisa de uma “mucama pra ser cozinheira, faxineira, algo" em casa e afirma que precisa usá-la como carvão e saco de lixo em um churrasco.

Durante o interrogatório, de acordo com o delegado adjunto da unidade, Cláudio Álvares Sant'Ana, o suspeito tentou relativizar seus atos, afirmando que teria agido para se defender após se envolver em discussão com a vítima em um grupo de whatsapp.  “Em momento algum foi apresentada qualquer demonstração ou prova de que Miriam tivesse ofendido Rafael anteriormente, como alegado em sua linha de defesa”, explica o delegado.

O interrogado será indiciado pelo crime de racismo em razão de ter ofendido, além de Mirian, toda uma coletividade de afrodescendentes ao afirmar, entre outras coisas, que “crioulo não serve para nada”, que é “saco de carvão, saco de lixo”, “tem que apanhar no tronco”, entre outros insultos.

Além de racismo, Rafael também será indiciado por injúria racial, por ter ofendido a honra, a dignidade e o decoro da vítima.

Decisão

O Tribunal de Justiça acatou pedido do Ministério Público Estadual (MPE) e concedeu medida protetiva à fotógrafa Mirian. Na decisão, a juíza Amini Haddad Campos proíbe o acusado de se aproximar dela e da sua família, guardando a distância mínima de 500 metros, "vez que elas não podem viver em constante temor, não obstante as cautelas necessárias, ainda assim, não estão sendo suficientes para evitar os episódios protagonizados pelo autor, o qual vem, conforme declarado, colocando a vida da vítima e de seus familiares em risco", destaca no pedido a promotora de Justiça Valnice Silva dos Santos.

Confira a íntegra dos áudios
 
Áudio 1: Eu quero saber em que mundo você vive, e desde quando preto é gente? Eu vou falar uma melhor pra você, quem é você na fila do pão não, eu vou perguntar pra você quem é você na fila do açougue. E eu vou responder pra você: pobre não come carne, então nem na fila do açougue você entra, entendeu crioula maldita?

Áudio 2: Mirian, é o seguinte: Você tem o que, 31, 32 anos? Ou mais? Porque parece ter 40. Não sei. É o seguinte, eu quero saber se você tem dono ou não. Porque é o seguinte, eu fui no mercado de escravos no Porto e não achei nenhuma escrava com seu valor. Qual é seu valor? Eu quero comprar uma escrava, uma mucama pra ser cozinheira, faxineira, algo na minha casa. Eu gosto de ver a crioulada trabalhar pra mim. Crioulo, a única coisa que crioulo sente na vida é o que? Pode dar tiro em crioulo, pode fazer o que quiser, tacar fogo, ele não sente nada disso, única coisa que crioulo sente é ele no tronco e chicote nas costas. É isso aí, e não esquece do Dove Azul, que é de haitiano, pra você. Eu vou te dar 12, uma caixa lacrada.

Áudio 3: Mirian, é o seguinte, eu vou queimar uma carne lá em casa, eu preciso de você como a matéria, o carvão e o saco de lixo pra recolher o que restou. Tenha uma boa noite.
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